Desde que eu me lembro por gente, fujo da vida na ficção.
Às vezes, eu fujo nas telas. Me perco em filmes, em séries de TV. Passo dias inteiros maratonando episódios, me divertindo e me emocionando com meus personagens preferidos, ficando tensa com o desenrolar das suas histórias. Ou então, entro no meu santuário preferido e me permito escapar no escuro de um cinema, experimentando aquela sensação deliciosa de estar tão cercada por outra realidade que não vejo o tempo passar e, quando acaba, frequentemente me esqueço até do meu próprio nome.
Outras vezes, eu fujo nas páginas. Tenho mil mundos de possibilidades nas estantes atrás de mim, e as ouço sussurrar seus segredos à noite. Não existem problemas quando abro as páginas de um livro e me esqueço da vida entre elas. Posso ir para Hogwarts, ou para a Escócia de 1743, posso viajar até outro planeta ou simplesmente me aventurar na vida de outra pessoa em minha própria cidade. Posso ser livre.
Mas há ainda as vezes em que fujo para dentro de mim mesma. Há um universo inteiro me esperando sem que eu precise ir muito longe; basta fechar os olhos, e estou lá. Nem sempre estou segura nesta fuga — às vezes, ela me leva para lugares que preferia não visitar — mas ainda assim, fujo. Fujo porque preciso, e porque, mais dia ou menos dia, não vai adiantar fugir dela também. Escapo de dentro para fora, da mente para as pontas dos dedos, na esperança que, de alguma forma, quem vier fugir em mim encontre seu escape também.
Texto feito à partir da sugestão de Leonardo Oliveira