Eles disseram que remédios para emagrecer estão liberados outra vez. Mas será que eles sabem?
Será que sabem das pílulas que tomei escondido, dos efeitos colaterais que suportei? Será que eles sabem do peso rápido que perdi e tornei a ganhar, da dependência que eles me causaram? Será que querem saber?
Eles disseram para colocar espelhos na cozinha. Mas será que eles sabem?
Será que sabem das horas comendo em frente ao espelho até que eu tivesse nojo de mim mesma por sentir fome? Será que ele sabem que não consigo ter espelhos no meu próprio quarto, porque sou incapaz de lidar com o meu próprio reflexo? Será que sabem sobre as vezes em que eu chorei em frente a ele e me xinguei de burra, de fraca e de incapaz, porque por mais que eu quisesse, por mais que eu tentasse me livrar delas, todas as minhas falhas ainda estavam ali? Será que se importam em saber?
Eles disseram que jejum é bom. Mas será que eles sabem?
Será que sabem das horas que eu jejuei para merecer uma refeição que eu queria muito, ou para me punir por ter comido demais? Será que eles sabem dos desafios que fazia comigo mesma, tentando transformar cinco horas em seis, e seis em oito, e oito em doze, e doze em vinte e quatro? Será que faz alguma diferença?
Ninguém precisou me dizer para fazer. Mas se tivessem dito, eu teria feito. E teria feito porque acreditava que era bom, que era certo, que era eficaz. Teria feito porque estava desesperada. Não porque sou fraca. Não porque queria estar doente.
Mas porque o mundo
não para
de tentar
me fazer
diminuir
Será que eles sabem?
Texto inspirado neste post.