Outro dia estava me atualizando com os vídeos no Youtube e me deparei com uma atualização recente do canal Vlogbrothers, onde o autor John Green (você deve conhecer – americano, usa óculos, vendeu milhões com A culpa é das estrelas) falava sobre a pressão para escrever um novo livro depois do sucesso do seu último, e da aceitação de que talvez, só talvez, ele nunca mais venha a escrever outro livro.
Fiquei pensando naquilo depois que assisti. Foi engraçado ver que até um autor renomado como Green passa por um dilema tão parecido com o meu. É meio como aquela síndrome do impostor – você se convence de que não é capaz de nada, mesmo tendo todas as provas do contrário. E lá está ele, sem conseguir completar um único livro em quatro anos, lutando contra as cobranças e as pressões externas e internas.
Me lembrei de quantas vezes passei por crises como essa, ainda que em menor escala. Toda vez que entro em um bloqueio criativo, daqueles longos que duram meses, me pergunto se perdi a capacidade de escrever. Toda vez que termino algo que julguei ser muito bom, questiono se algum dia conseguirei escrever algo tão bom de novo. Sem querer, trato minha vocação como se fosse algum bem findável, uma bateria que, de tanto usar, pode acabar.
Mas não acaba – graças a Deus. Passam-se semanas, meses, talvez anos entre uma coisa boa e outra, mas elas vem. E nem só de histórias incríveis vive o escritor – às vezes tem coisas medíocres no meio. Tem páginas indo pra gaveta, pro lixo, pro esquecimento. Tem histórias inacabadas, e outras que se acabam e você se pergunta por que diabos sequer se deu ao trabalho. Tem ideias boas mal executadas, e ideias ruins bem feitas. E tudo isso faz parte. Porque ser escritor não significa publicar um livro. Significa escrever. O que vier. Sem questionar.
Então, é, John, pode ser que você nunca mais escreva outro livro. Ou que escreva, mas não seja tão bom quanto os outros. Pode ser que o mesmo aconteça comigo. Torço pra que não. Mas se for pra ser… então tudo bem.