Outro dia dei palestra numa escola onde falei sobre meu trabalho como escritora. Dentre as várias perguntas que me fizeram, uma menina sentiu a necessidade de me perguntar se eu tinha vontade de ser mãe.
Fiquei pensando naquilo por alguns segundos, sem entender de onde tinha saído aquele questionamento. E então, naquele momento, entendi que, mesmo na cabeça de uma garota de 12 anos, associar uma mulher à maternidade já era automático. Tudo bem que eu era escritora – mas não queria ser mãe?
Eu não gosto de crianças. Não gostava quando era mais nova, e fui gostando menos conforme fui crescendo. Não tenho nenhum interesse nelas. Nunca tive vontade de ser mãe, e acho que nunca vou ter.
Mesmo assim, a sociedade me condena.
Eu quero que vocês imaginem por um segundo que ser mãe seja tipo uma profissão. Tipo, sei lá, ser médico. Imagine que você, por uma série de motivos, não queira exercer essa profissão. Você acha que não tem aptidão pra ela. Você tem outros planos de carreira, sabe?
Mas não. A sociedade não aguenta. E aí as pessoas te dizem: mas é muito egoísmo da sua parte não querer ser médico! Medicina é uma profissão maravilhosa! Toda mulher sonha em ser médica! Você é muito nova, só não percebeu ainda. Mas se ficar muito velha, vai se arrepender de não ter sido médica enquanto podia. E os seus pais? Eles não têm direito a ter um médico na família? E seu futuro marido, e se ele quiser ser médico? Você não vai ceder?
Percebem o quanto isso é ridículo? A resposta pra isso tudo é: parem.
Parem de achar que eu ou qualquer mulher “temos que” alguma coisa. Se tem algo que não falta nesse mundo é gente procriando, então me deixem aqui em paz. Não é o meu ventre que vai salvar a raça humana da extinção. E não são meus país nem meu marido hipotético que tem que decidir sobre essas coisas. Sou eu e só eu. E parem também de jogar na cara das mulheres que mudam de ideia o “não falei?” Porque cara, sinceramente? Ela tá no direito dela. Eu to no meu direito. Eu não me imagino mãe, eu não quero ser mãe, eu não gosto de crianças, mas sei lá o que vai rolar na vida. Sei lá se eu vou mudar de ideia.
Sabe o que eu sei? Que isso é problema do meu. Se eu mudar de ideia, ótimo. Se não, ótimo também. Minha vida e a vida de todas as mulheres significa mais do que ser uma fonte de filhos. Assim como pra medicina, nem todo mundo tem vocação pra ser mãe. E já passou da hora de o mundo aceitar isso.