Tem tantas coisas suas que guardei. Seu cheiro naquela blusa nunca lavada. Suas cartas naquela caixa que você me deu. Seu rosto na memória.
Fui ao longo dos anos me despindo das várias camadas de você. Dei um fim na blusa. Escondi as cartas e a caixa e os presentes. Não apaguei seu rosto, mas optei não me apegar às lembranças – especialmente as ruins. Mas são das fotos que não consigo me livrar.
Tem uma coisa que me prende a elas. Por algum motivo, mesmo depois de tanto tempo, elas ainda estão lá, naquela mesma pasta que criei, acumuladas e juntando poeira, armazenadas no fundo de um HD velho. Nunca mais abri a pasta, mas me dá uma certa segurança saber que ela ainda está ali.
Não tenho coragem de deletar as fotos. Não sei por quê – tenho certeza de que as suas já estão deletadas há séculos. Talvez seja porque tenho medo de esquecer; já me despedi do nosso passado há muito tempo, mas você sempre fará parte da minha vida. Apagar seu rosto seria apagar anos de aprendizado e amadurecimento. E isso… isso é difícil demais.
Então deixei as fotos lá, intocadas. Nunca mais as vi, mas não preciso. Ainda lembro delas. E se não lembrasse, também não faria diferença – é elas estarem ali que importa. Porque me despedi de você e me despedi da nossa história, mas jamais vou poder me despedir do meu passado. E espero que você também não.