Antes, leia também:
Parte I
Parte II
Parte III
Parte IV
Parte V
Parte VI
Parte VIII
Parte IX
Mas, depois que ela desenhou as roupas e o gramado, fez uma pausa, respirou fundo e, enquanto (fingia que) analisava o desenho, me perguntou com um (falso) tom de distração:
– Sobre o que é a música?
Eu podia ter respondido de forma direta e ter jogado na cara dela que a música era sobre ela. Podia ter dito ‘você’. Podia ter feito aquilo de um monte de maneiras muito mais perfeitas de serem entendidas, mas travei a um passo de soltar a resposta. E, olhando bem pra Luiza, eu sabia que ela já tinha a resposta. Ela só queria que eu dissesse.
– Não é bem o quê. – respondi, então – É ‘quem’.
Aquilo bastou pra ela. Corando, a Luiza não me disse mais nada na hora que se seguiu. Quando terminou de desenhar, virou o desenho pra que eu olhasse. Era a primeira vez que ela me deixava ver algo que ela desenhava por livre e espontânea vontade, sem que eu tivesse que espiar.
– Viu só o que eu disse? Nunca está perfeito. – falou. E, em algum lugar, eu sabia que ela não se referia ao desenho.
– Parece perfeito pra mim. – afirmei. Ela fechou lentamente o bloco de desenhos.
– Mas não é. Nada nunca fica perfeito, não importa o quanto eu tente.
– Talvez você não precise tentar sozinha.
Essa foi a hora que eu peguei a mão dela, com um medo terrível de que ela a puxasse, ou me olhasse feio por isso. Mas nada disso aconteceu. Ela deixou sua mão ali por algum tempo, e, depois, virou-a com a palma pra cima de modo que pudesse segurar a minha também.
– Posso te fazer uma pergunta? – eu quis saber. Ela continuou olhando pra baixo ao responder.
– Pode.
Na verdade, havia uma série de perguntas que eu gostaria de fazer pra Luiza. A começar por “qual é a sua comigo?” Mas decidi que uma, em especial, estava me incomodando mais que todas as outras. Então resolvi começar por ela.
– Por que você me beijou?
Ela riu, e me diverti um pouquinho com o som da risada dela. Era gostoso, como o de uma criança rindo com muita vontade. Ela suspirou, e, pra minha surpresa, apoiou a cabeça no meu ombro. Eu sequer me mexi. Não queria que ela saísse dali por nada desse mundo.
– Porque eu quis. – respondeu, como se resolvesse todo o problema – Porque eu quis muito. Mas, principalmente, eu te beijei porque você não teve coragem de fazer isso primeiro.
Foi a minha vez de corar e rir. Ela tinha razão nesse ponto.
– Eu sou meio lerdo. – falei, e ela riu. Eu poderia passar o dia todo só escutando aquela risada.
Então a risada dela passou, e por um breve momento, a gente só continuou naquela posição. Meu braço estava começando a doer, e eu queria desesperadamente me ajeitar, mas não faria nada que significasse tirar a cabeça dela do meu ombro ou perder a sua mão junto da minha. Eu ficaria ali parado pra sempre se fosse o caso.
– O que acontece agora? – a Luiza suspirou, e senti que estava me olhando. Aproveitei a deixa pra me ajeitar, fazendo com que ela tirasse a cabeça do meu ombro, mas, finalmente, olhasse diretamente pra mim.
– Acontece o que tiver que acontecer. – respondi, e busquei sua outra mão com a minha livre. Ela não fugiu. Entrelaçou seus dedos nos meus, e, por um segundo, foi como se eu fosse cair – Eu termino a minha música. Você termina os seus desenhos. A gente continua se vendo todos os dias e você pode me beijar todas as vezes que eu for covarde demais pra fazer alguma coisa.
Ela sorriu, corou e baixou o olhar por um instante. Ainda estava hipnotizado por aquele riso maravilhoso quando ela parou e olhou pra mim.
– Parece bom. – murmurou. E eu precisei de alguns milésimos de segundos pra processar a informação.
Por aquele breve instante, eu não soube como reagir. Como sempre. Fiquei bobo, olhando pra ela, ainda deixando cair a ficha de que ela estava me aceitando, finalmente, não mais só como um amigo. E, quando essa ficha caiu, não foi como antes, quando eu precisaria de todo mínimo sinal pra ter certeza. A certeza me bateu como se fosse um taco de golfe na cara, óbvia, e, naquele mesmo instante, eu soube exatamente o que eu tinha que fazer. Sabia que tinha que fazer aquilo que já devia ter feito há muito tempo.
Então soltei suas mãos, me inclinei e a beijei.
Não vou dizer que vi fogos de artifício. Não vou mentir e dizer que foi o melhor momento da minha vida, nem ficar dizendo todos esses clichês do momento perfeito. Mas, se tem uma coisa que posso dizer sobre beijar a Luiza é que, definitivamente, fazia o tempo parar. Um minuto ou uma hora, um dia, uma semana, o tempo se tornava uma coisa indefinida enquanto eu podia beijar aquela boca. E podia não ser o melhor momento da minha vida, mas todos os beijos que vieram a seguir, somados, definitivamente fizeram parte do meu top 5 de melhores momentos da vida. E por mais que os fogos de artifício não estivessem lá, eu vi, sim, alguma coisa.
E essa coisa era a letra que eu estava procurando.
Quando cheguei em casa – tarde o bastante pra minha mãe me dar a maior rala do mundo – a primeira coisa que eu fiz foi me sentar no chão com o meu violão e o meu caderno todo arrebentado e escrever. Botei no papel a letra, e a encaixei perfeitamente na melodia. Era a nossa música. A música que eu cantaria pra ela no dia seguinte, e depois, e quantas vezes eu quisesse, quantas vezes ela pedisse. A primeira de muitas que a minha Luíza iria inspirar.
Eu vou baixar a musica agora!!! Que conto lindooo!!! *——* mas foi uma pena não terem os fogos de artifício… hahaha
Parabéns maninhaaa!!
Ameeeeeeeeeeeeeeeeeei, quero mais contos ok ?
Lindoo! Adorei, realmente muito bom! Também quero mais contos!