Conto: Luiza (parte IX)

Penúltima parte! Antes, leia também: Parte I
Parte II
Parte III
Parte IV
Parte V
Parte VI
Parte VIII 

Quando cheguei na casa dela na tarde seguinte, a Luiza já estava no portão. – E aí, quer fazer o quê hoje? – perguntei. Ela deu de ombros. – Onde você quer me levar? – indagou, e eu precisei de um minuto inteiro pra me desfazer de todo e qualquer pensamento malicioso antes de responder: – Onde você quiser. – Então vamos só andar por aí até eu achar um lugar legal pra desenhar. – sugeriu, e eu, como de costume, me limitei a concordar. Eu teria concordado mesmo se ela dissesse ‘vamos a pé até o Acre’. Andamos por uns bons quinze minutos, e, dessa vez, era eu quem a estava seguindo. Subimos um monte de ruas e atravessamos duas avenidas até ela encontrar um parquinho relativamente inteiro, onde meia dúzia de crianças brincavam e pessoas passeavam com cachorros. Achamos um lugar pra nos sentarmos, e ela já puxou seu material de desenho. – Vai desenhar o quê? – perguntei, e ela mordeu o lábio inferior. Tentei não reparar no quanto ela ficava linda fazendo aquilo. Ou fazendo qualquer outra coisa. – Não sei ainda. O que você acha? Aquela devia ser a primeira vez que ela pedia a minha opinião. Resolvi encarar como um avanço colossal. – As criancinhas no balanço? – sugeri. Luiza lentamente concordou, e abriu uma página em branco. Enquanto ela começava os primeiros traços das duas crianças no balanço, eu puxei fones de ouvido e os conectei ao meu celular. Estávamos sentados tão perto que eu poderia disfarçadamente encostar nela. Mas nunca sabia o que esperar da Luiza. Um dia ela estava feliz o bastante pra me beijar, e no outro não. Como eu ia saber que dia era o de hoje? – Posso ver o que você desenhou ontem? – perguntei. – Não. – Luiza me disse, categoricamente. Tentei não rir, porque estava apenas provocando. E estava dando certo. Ela estava corando. – Por que não? – Porque não terminei ainda. – Tudo bem. Mais alguns minutos. Ela desenhou toda a estrutura do balanço em traços leves, fáceis de apagar. Então começou a tracejar as crianças. – Eu comecei a escrever uma música. – comentei. Ela me lançou um olhar de surpresa. – Mesmo? E como está? – Ta ficando legal. Ta incompleta. Eu tenho a melodia, mas a letra é a parte mais difícil. – Por que? – Porque não importa o quanto eu mude, nunca parece ficar boa o bastante. A Luiza sorriu, um sorriso de compreensão. – É como desenhar, então. – falou – Você refaz os mesmos traços um monte de vezes, mas mesmo depois que termina, nunca parece estar perfeito. – É. – concordei, brincando com um dos fones – Mas nesse caso, tem que estar perfeito. – Por que? Não respondi. Não sabia exatamente como responder àquela pergunta, então não disse nada. A Luiza pareceu entender, e, por um bom tempo, não perguntou mais nada.

[continua..]

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