Recomeçar – Final

Enfim, chegamos à parte final de mais um conto! Antes de ler, certifique-se de que já leu as partes de 1 a 6. E não esqueça de comentar dizendo o que achou, pra deixar essa autora super feliz 🙂
Hora de saber o que acontecerá, então, com a Babi! Ela vai encontrar seu final feliz e finalmente conseguir recomeçar?


O Gustavo continuou falando comigo nos dias que se seguiram, mas eu sabia agora que tinha algo de diferente no jeito como ele me olhava, e que o fato de ele estar afastado tinha um motivo. Eu não sabia ao certo como encarar aquilo tudo, então optei por ficar na minha. Me recolhi de volta pra minha quietude e esperei passar.
Mas não passou. Nós voltamos pra São Paulo quando o Carnaval acabou, e eu ainda estava incomodada. Não queria que ele se afastasse de mim. A companhia dele fazia toda a diferença, e eu entendia aquilo agora. Doía não ter mais ele por perto como costumava ter. Mas como eu conseguiria encará-lo depois de toda aquela declaração que ele me fez? Eu mal conseguia olhar pra ele!
Cheguei em casa e me tranquei no meu quarto, de luz apagada, e me joguei na cama. Fiquei um tempão olhando pro nada e tentando refletir, tentando entender. Mas que inferno!
Quando resolvi levantar e acender as luzes, dei de cara com um mural de fotos que estava intocado desde antes de o Jorge me deixar. No mural, salvo algumas fotos de uns poucos amigos e da família, só haviam fotos minhas com ele. Eu e Jorge numa viagem pra Ubatuba, eu e Jorge passando o Ano Novo em Copacabana, eu e Jorge com os nossos pais no dia das mães, eu e Jorge, eu e Jorge. Eu não tinha mexido naquelas fotos porque procurava nem olhar pra elas nos últimos meses.
Mas ali, olhando pra elas, percebi, surpresa, que eu não sentia mais o mesmo; em relação a ele, quero dizer. Incomodava, sim, relembrar momentos felizes, e havia uma pontada de tristeza em pensar que ele tinha simplesmente jogado tudo aquilo fora, mas não passava disso. Finalmente, eu conseguia encarar eu e ele como sendo passado e nada mais.
Tirei todas as fotos do mural e me sentei na cama pra olhá-las e repassá-las. Sorri ao me lembrar de uns momentos divertidos, e até em situações desagradáveis que algumas daquelas fotos marcavam. Foi como repassar um álbum de fotos da infância – eu sentia muita falta daquela época, de um jeito bom, mas admitia pra mim mesma agora que a minha vida sem o Jorge estava melhor.
O Jorge não ia voltar, mas estava tudo bem. Eu não o queria mais de volta. Talvez pudéssemos ser amigos algum dia, e quem sabe eu conseguisse perdoá-lo, mas fato era, ele não fazia mais parte da minha vida. Eu tinha levantado, começado de novo, e não trocaria a Babi que eu era hoje por nada daquela Babi que eu costumava ser.
Quando me dei conta disso, comecei a rir sozinha. Eu finalmente tinha conseguido! Eu tinha superado! Eu não achei que fosse conseguir, mas eu tinha conseguido. E eu sabia exatamente por que. Eu não teria conseguido sem ele.
E ele precisava saber disso.
Eu o encurralei na saída do trabalho no dia seguinte. O dia todo, ele tinha me tratado normalmente, mas eu havia concluído que “normal” não era mais o bastante quando se tratava de nós dois. A amizade não era mais suficiente. E agora que eu sabia disso, tudo havia se tornado infinitamente mais claro.
Exceto a parte de como diabos eu ia dizer isso pra ele, é claro. Eu não tinha pensado muito nisso. Razão pela qual eu gaguejei e fraquejei quando ele me olhou meio preocupado no estacionamento do shopping e disse:
– Aconteceu alguma coisa, Babi? Você ta meio pálida.
Era o nervoso. Me surpreendia que eu não estivesse meio verde.
– Não. Eu to bem. É só que… – comecei, e travei.
É só que eu gosto de você, porcaria!
Por que era tão difícil dizer isso?
– Babi, fala logo, você ta me assustando! – o Gustavo exclamou. Ele era tão fofo, e tão atencioso e se preocupava tanto! Como eu tinha demorado tanto pra perceber?
– Eu não quero mais ser sua amiga! – soltei, de repente.
Péssima escolha de palavras. Foi a vez dele ficar branco. O Gustavo olhou pro chão e foi como se eu tivesse dado vários socos na cara dele, porque ele parecia estar com dor. Na hora eu não me dei conta. Só percebi a cagada quando ele disse:
– Eu nunca tive a intenção de te deixar constrangida… mas eu entendo se não quiser mais falar comigo. Eu não quero ficar longe de você, mas…
– Não, não é isso, não foi isso que eu quis dizer…! – comecei a falar, apavorada, tentando corrigir, mas o Gustavo deu de ombros e fingiu um sorriso de consolo.
– Não se preocupa, eu vou ficar bem. De verdade.
– Gustavo, quer calar a boca? Não foi isso que eu quis dizer, eu só… escolhi as palavras erradas!
Ele me olhou, confuso. Eu suspirei. Estava suando. Maravilhoso!
– O que eu quis dizer… ah, que droga, eu…
Então eu fiz uma coisa que nunca, absolutamente nunca tinha feito na minha vida.
Desisti de falar, passei os braços pelo pescoço dele e o beijei na boca.
Não sei de onde veio a adrenalina, mas percebi que era a melhor coisa que eu já tinha feito. Ele tinha a boca quente e macia, e me beijava com delicadeza e paixão ao mesmo tempo. Era ótimo. Meu corpo todo tremia como se aquele fosse o meu primeiro beijo.
E era. O nosso primeiro beijo. Primeiro de muitos.
(Um ano depois)
Eu estava terminando de encaixotar as minhas coisas. Meu quarto já estava praticamente vazio; nele, restava apenas meu velho armário e minha cama de solteira. Mas pra onde eu ia, não precisaria dela.
Coloquei meus porta-retratos e álbuns de foto numa caixa de papelão junto com plástico bolha, e vedei a caixa. Agora só faltava terminar de esvaziar o guarda-roupa e pronto. Em poucos dias, eu estaria definitivamente fora da minha casinha de sempre, pronta pra seguir em frente com a maior mudança da minha vida.
Em um ano, eu e o Gustavo tínhamos construído mais do que eu e o Jorge em dez. Ele conseguiu um bom emprego e saiu da loja, onde eu continuei por mais alguns meses, enquanto me preparava pra prestar vestibular para Letras numa faculdade pública. Resolvemos morar juntos depois de seis meses, e demos entrada num apartamento, que tínhamos mobiliado com muitas economias e bondade dos nossos amigos de sempre – em especial dos nossos futuros “compadres”. Ingrid estava grávida de Marquinhos, com quem havia se casado às pressas, e eu e Gustavo iríamos apadrinhar o bebê.
Estava começando a esvaziar o guarda-roupa quando a minha mãe entrou no quarto e me estendeu uma carta enorme. Parei o que estava fazendo, peguei o envelope e olhei o remetente.
Jorge Luz Mira.
Rasguei o envelope e, pra minha surpresa, dentro dele estava um convite de casamento. Ri sozinha com a idéia. O Jorge ia se casar! Ao que indicava o nome – Belén de Carmen – com uma espanhola. O casamento seria dali a dois meses, aqui mesmo, no Brasil.
– O que é? – ouvi minha mãe perguntando, de algum ponto da casa.
Do passado, mamãe. Uma carta do passado.
Mas não importava mais. Ele que fosse muito feliz ao lado da sua espanhola – eu tinha superado, e não lhe desejava nenhum mal. Eu tinha encontrado o meu caminho, e reconhecia que este jamais seria ao lado do Jorge. Porque o Jorge não era o amor da minha vida, como eu pensava. Mas eu precisava sofrer por ele pra encontrar o amor de verdade.
E agora, finalmente, eu podia começar a minha vida com Gustavo, e ter o meu tão desejado felizes para sempre.


FIM

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