Toda família tem alguma tradição de fim de ano. Parte do que faz com que essa época do ano seja tão especial e lembrada é exatamente isso: aquelas coisas que você faz sempre, e que se tornam parte de uma rotina específica àquela data, e sem a qual ela não é celebrada corretamente.
Na minha casa, temos uma tradição bem engraçada: eu a batizei de “esse ano tudo vai dar certo”. É mais uma espécie de mantra do que de tradição, sim, mas já repetimos isso há tanto tempo no mês de dezembro que eu, sinceramente, não sei dizer se houve algum dia em que nós não o fizemos. Funciona assim: todo ano, faltando um ou dois meses pro Natal, começamos a nos planejar. Todo ano, nós dizemos que esse ano será diferente – vamos comprar presentes com maior antecedência, vamos pensar no que cozinhar bem antes pra já ter as coisas em casa, vamos decorar tudo de uma maneira mais bonita. Planos, planos, planos.
Todo ano, sem exceções, isso dá errado.
Enquanto estou aqui escrevendo esse post, minha mãe está temperando o peru que compramos só ontem, porque a geladeira da nossa casa de praia tem um freezer que mal acomoda duas formas de gelo e um pote de sorvete, e estudando como diabos ela vai conseguir enfia-lo no microondas que não tem espaço suficiente nem pra um prato mais largo. Meu pai está consertando o forno do fogão que veio com a casa, que, vejam só, está quebrado – a gente já sabe disso há meses, mas ninguém se deu ao trabalho de consertar até agora, quase quatro da tarde na véspera de Natal. Antes disso, já saímos pra comprar de emergência um liquidificador novo, já que o nosso, novinho, comprado há apenas uns três meses, e usado hoje pela primeira vez, explodiu (não literalmente, calma) na minha cara enquanto eu fazia uma batida espanhola. Como nada disso basta, recebemos há aproximadamente meia hora os rapazes que vieram instalar o ar condicionado, que foi comprado há uns três dias, apesar de a casa ser nossa há seis meses.
Estamos estressados, sem comida, em meio à sujeira e ao barulho. Não é uma perspectiva muito boa. A tradição de “esse ano tudo vai dar certo” se repete de novo – na esperança e na falha.
Não me levem a mal, na hora, é tudo incrivelmente ruim. Mas depois de um tempo, eu paro pra pensar, e dou risada dessas coisas. Dou risada daquele ano em que o meu pai resolveu sair às duas da tarde pra comprar presentes. Dou risada de esperar até a uma e meia da manhã pra cear, porque minha avó queria esperar meu tio chegar – e quando ele chegou, ele já tinha comido. Dou risada de passar dois dias na cozinha, todo ano, pra preparar a ceia de mais de quinze pessoas, e depois um dia inteiro pra limpar, sem nunca pedir nada em troca. Dou risada de um milhão de coisas que deram errado em todos os meus vinte e tantos anos de vida, de todos os Natais potencialmente estragados, mas que viraram história pra contar. Tudo isso podia ter me transformado numa pessoa amarga com a época, mas só me lembrou do que o Natal realmente é feito – de momentos e pessoas especiais, coisas que você leva pro resto da vida.
Seja lá qual for a sua tradição de Natal, celebre-a. E tenha o melhor Natal da sua vida; pelo menos, até o ano que vem!
Beijocas,
Larissa