Maio já acabou, Junho está chegando, e a Bienal tá quase aí. Há pouco mais de dois meses do nosso evento literário favorito, já tem muito autor iniciante perdido querendo saber como pode participar, ou como tirar proveito da feira da melhor maneira possível. Então eu pensei: por que não falar sobre isso?
Bienal do Livro não é bicho de sete cabeças, e quer você seja publicado, quer não, marcar presença tem sim suas vantagens. Só precisa de um investimento, cara de pau e muita disposição. Então eu espero que o post de hoje ajude, de alguma forma, todos os que estarão dando as caras a primeira vez (ou segunda, ou terceira) e precisam de um empurrãozinho.
Não sou publicado. Como o evento pode ser vantajoso pra mim?
Uma palavra: network. Não sabe o que é? Essencialmente, significa conhecer pessoas do mercado. É uma oportunidade pra conhecer livreiros, editoras, agentes, autores, capistas, pegar cartões, trocar ideias. Algumas editoras inclusive aceitam originais durante o evento, sabia? E nada de entregar pro secretário do secretário do secretário – é direto na mão do cara que vai ler e te avaliar. Imprima algumas cópias do seu livro, faça uns marcadores, converse com as pessoas. Não vai doer, e você nunca sabe que coisas boas podem sair dali.
Como posso conseguir uma credencial?
O cadastramento já está aberto no próprio site da Bienal (links no fim do post). Você não precisa de uma editora que te represente pra ter direito a uma – basta colocar suas informações de pessoa física no lugar das de pessoa jurídica e se proclamar autor independente. É necessário, contudo, ter um livro publicado – você só consegue retirar a credencial na feira se apresentar um exemplar, comprovando, assim, a sua profissão. Mas se você tem blog literário, talvez consiga uma credencial de imprensa. Não sei exatamente como funcionam os trâmites nesse caso, mas já conheci muita gente que entrou de graça assim, cobrindo o evento. Informe-se com outros blogueiros sobre o assunto 🙂
Sou autor independente e minha editora não tem um estande. Posso expor mesmo assim?
Pode. Há várias editoras que abrem espaço pra autores de fora – a Scortecci e a Modo são algumas delas. Como estamos em Junho, pode ser que as vagas estejam um pouco escassas, mas perguntar não ofende, e o “não” você já tem. Investigue. Acesse o site da Bienal e baixe a lista de expositores. Visite os sites, ligue, mande e-mail. Claro, tentar a sorte no estande da Record não tem o menor propósito, mas sabe aquelas menores, algumas pouco conhecidas? É nelas que provavelmente está a sua chance.
Não tenho dinheiro pra custear um estande. E agora?
De todas as Bienais de que participei, em apenas duas tive um estande onde expor desde o início. Nas demais, fiz meu papel de itinerante: enchi uma mochila de exemplares dos meus livros, e passeei pelos corredores, parando pessoas a esmo e apresentando a elas as minhas obras. Algumas compravam, outras não. Mas esses contatos também foram preciosos, e essa experiência moldou muito o meu jeito de encarar o evento como um todo. Embora não seja tecnicamente permitido, nada realmente te impede de vender seus livros pela feira. Além disso, sempre há eventos acontecendo – encontros de blogueiros, de leitores, gente se reunindo pra todo lado. Reúna coragem e cara de pau, e vá à luta. Conheça pessoas, converse com elas, mostre o seu trabalho. É cansativo? Com certeza. Mas você só tem a ganhar.
Tudo resolvido. É só deixar os livros à venda e esperar os autógrafos?
Veja bem, um livro não se vende sozinho – não quando você não tem nome, nem um marketing monstruoso que te dê apoio. Num evento como a Bienal, onde há milhares de leitores com gostos distintos, e milhares de opções de livros, você precisa se destacar de alguma forma. Você em que ser o seu melhor vendedor. Pra isso, não precisa ser um daqueles operadores de tele-marketing chatos que ataca as pessoas a esmo: é só observar, se aproximar e perguntar “oi, posso te apresentar o meu livro?” Prepare um discurso pra apresentar pras pessoas, uma sinopse rápida, mas interessante. Pratique e melhore antes e durante a feira. Seja simpático, solícito, e nunca, repito, nunca passe por cima dos autores que estão trabalhando com você. Não se atire em um leitor que já demonstrou interesse no título de outra pessoa. Não corte a venda de ninguém. Procure conhecer os outros livros do seu estande, saber o nome dos outros autores. Trabalhe em conjunto e faça amizades. Não é uma disputa. Tem leitor pra todo mundo.
Quanto custa participar de uma Bienal?
Isso varia muito e, vou admitir, não sai barato. É preciso levar em conta que é a soma de muitos valores e, no final, o retorno pode ser muito mais pessoal do que financeiro. Uma vaga num estande em geral varia de 300 até 600 reais (falando por experiência, nunca me deparei com nada mais caro nem mais barato), e algumas editoras podem cobrar uma porcentagem sobre as suas vendas. Além disso, você vai precisar de livros pra vender, 50 no mínimo. Se já não os tiver em mãos, adicione o custo da gráfica. Vai precisar também de material de divulgação, pelo menos uns mil marcadores (acredite, nunca são demais), e o que mais você achar que seja uma boa ideia. Vai precisar comer, o que sai muito caro, a menos que você traga lanchinhos de casa e esteja ok com a ideia de comer pão com mortadela durante dez dias. Se você estiver vindo de outra cidade ou estado, ainda vai gastar com a passagem e hotel em São Paulo (graças a Deus o ônibus até o Anhembi é de graça). Como dá pra perceber, não é um investimento pequeno, e muitas vezes significa um prejuízo financeiro. Mas há vantagens significativas pra carreira – você com certeza entrará em contato com leitores que jamais chegariam até você de outra forma. Seus marcadores estarão nas mãos de um monte de gente, e pelo menos uma pequena parcela deles vai procurar saber quem você é, ou memorizar seu nome. Você vai conhecer muita gente do meio, e vai tornar seu nome e o da sua obra mais conhecidos. Pode parecer que não, mas faz diferença. É algo a ser levado em consideração.
Esse ano não dá. E agora?
Prepare-se desde já pro ano que vem. A Bienal acontece em anos alternados em São Paulo e no Rio de Janeiro, e só porque agora não dá, nada te impede de participar da próxima. Guarde dinheiro e comece a procurar por um estande já no final desse ano. Planeje suas despesas a longo prazo – pague o estande, depois a passagem, então o hotel e o material por último. Assim não pesa tanto e, ao final da próxima Bienal, você talvez já consiga se planejar pra do ano seguinte. Esteja preparado pro investimento, pro cansaço e pras alegrias de trabalhar durante a feira. Uma coisa eu te garanto: sua vida de autor nunca mais será a mesma.
Links úteis:
Site da Bienal de São Paulo
Cadastramento para credenciais
Espero que eu tenha ajudado, pessoal!
Nos vemos em Agosto? 😉
Sensacional, Larissa! Adorei!
Adorei essa dicas também! Pessoal tem que ir à luta! 😀