Conheça O Diário (nada) Secreto
Capítulo 1 – Recepção Calorosa
Capítulo 2 – Jogo de Interesses
Capítulo 3 – As sete coisas que não se deve fazer em uma festa
Capítulo 4 – A semana seguinte
Capítulo 5 – Cíúmes
Capítulo 6 – Proibido é mais gostoso
Capítulo 7 – Quem tem medo do lobo mau?
Capítulo 8 – Verdades e Declarações
Capítulo 9 – Junina
Capítulo 10 – Beach, Bitch!
Capítulo 11 – Dia dos Pais Mal Assombrado
Capítulo 12 – Letra e Música
Capítulo 13 – Não aprendi a dizer adeus
Capítulo 14 – Meus quinze anos
Capítulo 15 – Amizade x Lealdade
Os dias e semanas se passaram rápido depois disso.
Assim como a minha alegria.
Foi fácil ficar feliz enquanto a festa durou. Meus amigos, meu namorado, uma pequena parte da minha família, todos ali por minha causa. Bebida (moderada), comida e música, todo mundo conversando e brincando.
Um aniversário memorável, realmente.
Então eu piscava, e percebia que ela não estava ali. Consultava o celular, e notava que ela não tinha me ligado. Olhava para os lados e percebia que ela não estava chegando.
Por fim, chegou a hora do final da festa, e a Suellen me abraçou, repetindo seus votos pelo meu aniversário e acrescentando:
– Eu tentei fazer com que ela viesse, Lolita. – aquilo fez meu estômago balançar e minhas pernas bambearem – Eu sinto muito.
Sorriu e foi embora.
Mas eu não ia chorar naquela noite. Nada disso. Me despedi de todo mundo, deixando o Edson pro último – ele me expulsou quando me ofereci pra ajudar a limpar a bagunça – e fui pro meu apartamento. Dei boa noite pra minha mãe, agradeci pela surpresa e me tranquei no quarto.
Não chorei. Não era justo que eu soltasse uma lágrima sequer de tristeza naquele dia que tinha sido tão… perfeito! Ela não ia fazer isso comigo!
Então me deitei e adormeci.
Mas no dia seguinte…
No dia seguinte e em todos os outros dias, eu não pude evitar ficar completamente triste e arrasada pelo que tinha acontecido. Porque nós duas tínhamos brigado por um motivo idiota, pela internet, e ela não tinha sequer me dado a chance de me redimir.
E ela tinha faltado naquele que era basicamente o dia mais importante da minha vida. A Bela nunca tinha me deixado em um único aniversário naqueles anos todos, nem mesmo nos piores. Ela sempre tinha estado ali, firme, rindo e me fazendo rir com aquele jeito estranho dela.
Onde estava minha melhor amiga agora?
Ela ainda era minha melhor amiga?
Ah, droga, por que tinha que ser daquele jeito? Por que eu tinha que ter estragado tudo?
Já era começo de Novembro, e nada tinha mudado. Nós ainda não nos falávamos e eu ainda queria me matar por isso. Ainda no final de outubro, percebi que ela não usava mais o ônibus pra ir pra escola. Me evitando, será?
Naquela quarta-feira em particular, primeira semana de novembro, lá estava eu, sentada sozinha no meu banco de sempre no ônibus – que costumava ser o nosso banco. Olhei pela janela e logo fechei os olhos, encostando a testa no vidro.
– Lolita?
A voz conhecida me chamou e eu virei a cabeça tão rápido pra ver quem era que estalei o pescoço. Mas era só Suellen, e ela fez uma careta com o barulho dos meus ossos.
– Isso deve ter doído! – exclamou, com uma risadinha.
Eu estava tão desesperada que estava confundindo a voz da Bela com a voz da Suellen. Meu Deus!
– Oi, Su. – forcei um sorriso, mas não estava funcionando muito bem. Abandonei a tentativa, e a Suellen suspirou.
– Você ta mal mesmo! – disse, então, e eu não respondi – Lolita, não vale a pena ficar assim por causa da Bela, é sério.
– Ela não ta falando comigo, Su. – afirmar aquilo em voz alta trouxe lágrimas aos meus olhos – Ela faltou ao meu aniversário, e ela nem deixa eu me explicar. E é tudo culpa minha, porque eu fui uma péssima amiga quando ela mais precisava!
– Nada disso é culpa sua! – a Suellen balançou a cabeça, séria, cenho franzido, e passou o dedão pelas minhas lágrimas que estavam escorrendo – Olha, eu conheço a minha irmã. Não importe o quanto a gente brigue nem o quanto ela me odeie, eu não a odeio e nós ainda somos gêmeas. Eu tenho essa coisa de sempre saber o que ela está sentindo, sabe?
– Então me diz o que é, por que eu não agüento mais ficar tentando adivinhar e não conseguir!
– Ela está com medo, Lolita! Ela perdeu o Willian e não quer perder você, e ela vai te sufocar pra que isso não aconteça! – ela bufou e recolheu minhas lágrimas de novo – É tudo ciúmes.
Eu queria rir disso, mas eu não conseguia.
Não conseguia porque, no fundo, eu sabia que era verdade.
– Mas nós somos amigas a tanto tempo… – comecei a falar, e a Suellen ergueu as sobrancelhas, como se fosse óbvio.
– É exatamente por isso! – me interrompeu – Por vocês serem amigas a tanto tempo. Ela tem medo que você abandone ela agora que tem alguém na sua vida que é tão importante, ou mais importante que ela.
– Mas isso é ridículo! – contestei, fungando. Tinha parado de chorar, pelo menos – Ninguém vai roubar o lugar dela, é totalmente diferente!
– Eu sei disso, Lolita, você sabe disso. Mas faz anos que a amizade de vocês é algo muito… sei lá, exclusivo, entende? Vocês não confiam nos outros como confiam uma na outra. E agora tem alguém pra competir com ela. E você sabe como a Bela é por atenção.
Assenti. Sim, eu sabia. Ela sempre queria todas pra ela, não por ser exibida, mas por pura necessidade.
Chegamos na escola, então. Esperamos o ônibus esvaziar um pouco, então a Suellen se levantou e eu fui atrás delas. Passei pelas minhas primas, a Sabrina tentando acordar a Giovanna, e sorri um pouco. Saímos do ônibus e eu respirei fundo.
– Eu nunca achei que você fosse tão… sábia. – declarei, olhando pra Suellen. Aquela devia ser a primeira conversa de verdade que nós tínhamos em muito tempo. O mais estranho eram as circunstâncias.
– Eu sei. – ela riu – Eu sou sempre a patricinha fútil e burra, certo?
– Mais ou menos.
– Então deixa esse ser o nosso segredo.
Concordei, e entramos no colégio, uma ao lado da outra. De longe, vi a Bela sentada, afastada de todo mundo.
Ela nos lançou um olhar ferino, que logo derreteu pra se tornar o olhar de uma criança acuada.
– Você acha que eu devia ir tentar falar com ela? – perguntei, insegura e sem tirar os olhos dela. Ao meu lado, a Suellen respirou fundo.
– Depois de hoje, ela vai acabar te procurando. – respondeu, e eu torci o nariz.
– Você acha mesmo?
– Lolita, ela pode aceitar te perder pro Edson, mas em hipótese nenhuma ela vai aceitar te perder pra mim.
Eu não disse nada.
Eu não tinha certeza se queria que ela estivesse certa. Aquele papo de ciúmes estava me deixando assustada.
A partir daquele dia, as coisas começaram a ficar… diferentes.
Eu conversava cada vez mais com a Suellen. E fui gostando cada vez mais dela. Percebi que, no fundo, ela só se fazia de boba, e que era uma garota legal e meiga, coisa que eu nunca tinha me dado ao trabalho de perceber depois de tanto ouvir a Bela falando.
E a Bela…
Ela passou de raivosa a triste e desesperada. Dava pra ver nos olhos dela toda vez que eu chegava na escola. Ela não pegava mais o ônibus pra não encontrar comigo, e ficava todo dia sentada no mesmo lugar perto do portão, assistindo às pessoas passarem. Me esperando chegar.
O pior era saber que ela estava sofrendo. Ver que ela estava sofrendo. E sabe que eu não podia ajudar em nada, porque ela não permitiria. Ter certeza de que nem todo o meu sofrimento e nem mesmo o sofrimento dela bastariam pra fazer com que ela desse o braço a torcer.
Como nós tínhamos chegado àquele ponto? Como eu tinha permitido que chegasse àquele ponto?
E se a Suellen estivesse total e realmente certa?
Não, eu não podia pensar nisso. Quero dizer, é da Bela que eu estou falando! Ela não liga pra nada, não liga pra ninguém, é doida e despreocupada e possessiva e escandalosa, e completamente briguenta. A única pessoa em que eu confio. Ou era a única.
Meu Deus. Quanto mais eu tento defende-la, mas eu acabo acusando. Me doía pensar desse jeito. Pensar no passado, como se a nossa amizade não existisse mais. Me ver apontando o dedo pras suas qualidades e defeitos, julgando-a sem querer.
Mordi o lábio. Outra semana havia se passado sem que eu falasse com ela. Outra noite que eu ia dormir na esperança de que, no dia seguinte, tudo fosse melhor e ela de repente me ligasse num dos seus surtos de cinco minutos e agisse como se nada nunca tivesse acontecido. E nós voltaríamos à nossa amizade de antes, porque era assim que as coisas rolavam entre a gente.
Deitei, exausta, mesmo sendo só nove horas. Era sexta-feira, e eu devia estar sentada no sofá vendo filmes antigos no Telecine Cult com a minha mãe, ou sentada brigando com a internet discada do meu computador até as duas da manhã. Ao invés disso, eu não tinha ânimo pra nada e ia dormir mais cedo.
Mas, mesmo deitada e de olhos fechados, eu não conseguia dormir.
Me lembrei do que eu havia conversado com o Edson mais cedo naquele mesmo dia. Ele me perguntou o que eu tinha que estava tão pra baixo, e eu soltei como me sentia com toda essa coisa da Bela. E então ele me disse:
– Você tem que parar de esperar que ela deixe você procura-la. Você sabe que ela nunca vai deixar, Lolita.
– Então o que você sugere que eu faça? – perguntei, sem conseguir reprimir um olhar mal-humorado.
– Vai atrás dela, caramba. – meu namorado afirmou, como se fosse muito simples e muito óbvio – Põe ela contra a parede e obrigue ela a conversar com você! Faça ela te dizer qual é o problema.
O que eu não havia dito era que eu suspeitava sobre qual era o problema. E que eu não queria ouvir ela dizendo que eu estava certa.
– Você faz parecer simples, mas quando se trata da Bela… – comecei, e ele bufou e balançou a cabeça.
– Você está é inventando desculpas porque está com medo de como ela possa reagir! – o Edson exclamou – Larga de ser covarde e vai logo resolver essa história! Eu não gosto de te ver desse jeito.
Não conversamos mais sobre isso. Eu fiquei chateada de ele ter me chamado de covarde, mas no fundo eu sabia que ele estava certo. Eu estava morrendo de medo do que ela ia me dizer quando, e se o momento de nós duas conversarmos chegasse.
Porque eu não queria estar certa. Eu queria que ela virasse e me dissesse que ela estava em crise e que não tinha nada a ver comigo. Que ela inventasse uma desculpa, uma mentira que fosse, qualquer coisa em que eu pudesse acreditar e me agarrar pra parar de pensar que ela estava sentindo ciúmes.
Qualquer coisa que me fizesse parar de sentir culpada.
Na semana seguinte, nada havia mudado, contudo.
Eu não a procurei e ela não me procurou, embora tudo indicasse que nós realmente sentíamos falta uma da outra. O ano escolar estava acabando, e eu estava pendurada.
Essa foi a conclusão que eu cheguei quando, na sexta-feira da penúltima semana de Novembro, nós recebemos nossos boletins com as médias do quarto bimestre, e eu cai sentada de boca aberta, olhando pro meu boletim.
– Eu não acredito que aquela cadela me deu 8,5! – ouvi a Lana reclamando – Eu tipo, gabaritei na porcaria da prova! De onde ela tirou essa nota?
– Você esqueceu de entregar o trabalho sobre “A Megera Domada”. – o Diego lembrou, e então se sentou, ao meu lado, atrás da Lana – Lolita, você ta legal? Parece que vai vomitar ou alguma coisa assim!
– Eu vou morrer! – soltei, de uma vez, e passei meu boletim pra ele – Pior do que isso. Eu vou repetir de ano!
Aquelas palavras me trouxeram pra dura realidade que a Giovanna tinha contestado para mim no começo daquele ano. O primeiro colegial era mesmo um pesadelo. Em todos os sentidos.
– Caramba, a coisa ta ruim! – o Diego exclamou, ajeitando os óculos – Como você conseguiu juntar só 18 pontos em física?
– Eu não faço a menor idéia! – eu disse, desesperada, puxando o boletim de volta – Você tem noção de que eu só fechei em Português, Inglês, Educação Física, Religião e História? Eu sou tão incapacitada que eu estou devendo dois pontos em Geografia!
– Que exagero! – a Lana se intrometeu, pegando o meu boletim. Mas precisou de um minuto analisando pra fazer uma careta – Esquece. Você está ferrada.
– Obrigada, Lana! – bufei – O que eu vou fazer?
– A gente pode te ajudar a estudar. – ela propôs, mordendo o lábio – Mas Lolita, a coisa ta ruim. Eu acho que você vai precisar fazer mais que só recuperações pra passar de ano.
– A minha mãe vai comer o meu fígado!
Eles não discutiram. Eu sentia vontade de chorar só de olhar praquele pedaço miserável de papel.
O sinal tocou e depois de me despedir do Edson sem dizer pra ele que eu ia, indubitavelmente, repetir o primeiro ano, subi no ônibus. Minhas primas estavam sentadas juntas, ambas discutindo médias, provas e afins. Pensar nisso fez minha cabeça girar. Eu estava procurando um banco vazio quando a Suellen me chamou.
– Lolita, você precisa me ajudar! – ela disse, em tom de súplica.
Pobrezinha. Se soubesse da minha situação, ela ia implorar pra que eu a deixasse me ajudar.
Mas eu queria me distrair daquilo tudo, então assenti e forcei um meio sorriso.
– Claro. – respondi – O que foi?
– Eu vou sair hoje à noite com o Daniel. – ela me contou, mais baixo agora, pra que só eu escutasse – Sair tipo… – e então sussurrou – Casal, sabe?
– Oh…
– Só que eu não posso deixar que minha irmã saiba que eu vou sair com ele, porque ela já desconfia de tudo, e eu não quero que ela complique as coisas. – a menção à Bela doeu em mim, mas eu fiquei quieta – Você poderia, sei lá, aparecer hoje lá em casa, por volta das 6, e ir comigo?
– Eu não sei, Su… – pensei na minha mãe, e na sua reação quando visse meu boletim. Ela não ia me deixar sair de casa pelas férias inteiras.
– Por favor! – ela implorou, os olhinhos brilhantes – Chame o Edson pra encontrar com a gente lá. É importante, Lolita.
Eu não pude olhar pra ela com aqueles olhinhos pidões e simplesmente ignorar.
Acho que eu podia guardar aquele desastre em preto-e-branco por mais um dia.
– Tudo bem. – concordei, por fim, e ela sorriu como se tivesse ganhado na loteria – Eu chego lá umas seis horas.
– Valeu! – e me abraçou.
Se eu ia ficar de castigo por séculos e sem a minha melhor amiga pra sempre, no mínimo eu podia tentar fazer alguém feliz.
Eram seis e dez quando eu cheguei e toquei a campainha da casa da Bela e da Suellen. Meu corpo inteiro estava tremendo, porque a última coisa que eu queria era que a Bela abrisse aquela porta. Eu esperava sinceramente que ela estivesse enterrada no quarto e não saísse até que nós tivéssemos ido embora.
A mãe delas abriu a porta e me mandou entrar. Disse que a Suellen estava terminando de se trocar e perguntou que filme nós íamos assistir. Eu nem sabia que mentira ela tinha inventado, então apenas respondi um “vamos decidir na hora” que engana qualquer um e sorri.
Não sabia se devia subir e tentar a sorte no corredor em direção ao quarto da Suellen. Eu inevitavelmente teria que passar pelo quarto da Bela, e Deus sabe como eu não queria que isso acontecesse. Qualquer desculpa pra não ter que cruzar com ela.
Então sentei no sofá da sala de visitas e esperei.
Mas desde quando a sorte anda do meu lado?
Não precisei esperar cinco minutos antes que a Bela aparecesse. Ela estava usando seu pijama de gatinho, cujas mangas e gola ela tinha cortado com uma tesoura super-afiada quando nós estávamos na sétima série. O pijama estava ainda mais detonado dois anos depois.
Ela me olhou com uma intensidade que podia estar perfurando minha pele. Seus lábios estavam crispados numa linha fina, e eu não conseguia definir todas as expressões que estavam balançando o seu rosto sempre tão firmemente sarcástico. Fiquei imaginando como estava a minha cara naquele momento.
Melhor não imaginar!
– Então é verdade. – ela disse, tão baixo que nem parecia a Bela falando.
– O quê? – indaguei de volta, no mesmo tom de voz. Não porque queria manter a conversa num tom saudável, mas porque minha voz não saía.
– Você vai sair com ela. – ela riu de um jeito debochado – Sério, Lolita? De todas as pessoas, você vai sair com ela?
– Foi você que virou as costas pra mim. – soltei, sem perceber o que estava dizendo. Me arrependi no mesmo instante.
– Então é por isso que você está saindo com ela? – seu tom de voz foi subindo – Pra me machucar? Pra me deixar com ciúmes?
– Acho que eu não preciso te deixar com ciúmes, Bela. – deixei minha voz subir também – Você fez isso muito bem sozinha.
– Do que você está falando?
– Bela, por favor! Todo aquele papo de como eu só dou atenção pro Edson. De todas as pessoas no mundo, você devia saber que eu não sou esse tipo de pessoa. Eu nunca te dei as costas, mesmo quando você pisava na bola ou virava a cara pra mim!
Ela não respondeu. Ameaçou, mas hesitou e fechou a boca. Então respirou fundo.
– Pode ser… – começou a dizer – Que seja um pouco de ciúmes. Mas você era a minha melhor amiga, Lolita. É normal esse tipo de coisa!
– Talvez, Bela! – exclamei, me levantando do sofá – Mas amigas resolvem os problemas conversando. Amigas não viram a cara por dois meses e deixam de ir às festas de quinze anos uma da outra só porque estão fazendo pirraça!
– Me desculpe pela sua festa!
– E me desculpe por aparentemente não ter sido companheira o suficiente. – bufei – Mas o quê? Agora a gente se abraça e esquece tudo o que aconteceu? Desculpa, mas eu não posso fazer isso!
– Por que não? – a expressão nos olhos dela era desesperada e devastadora – É assim que é entre a gente, não é? Passa uma borracha e bola pra frente.
– Bela, eu não consigo esquecer, ta legal? – toda a raiva e toda a tristeza estavam saindo em quase gritos histéricos de dentro de mim – O que você fez comigo machucou! Eu fiquei me culpando por meses!
– Esqueça isso! Só… vamos esquecer, só isso!
Eu ia responder quando uma outra voz, mais distante, gritou:
– Lolita, já to descendo, mais dois minutinhos!
Me afastei da Bela sem olha-la nos olhos e peguei minha bolsa. Quando a olhei de volta, todo o desespero tinha sido substituído por raiva e um olhar ameaçador.
– Eu não acredito que você vai me trocar por ela. – sibilou, e eu balancei a cabeça, lutando contra as lágrimas.
– Eu não estou trocando ninguém por ninguém. – afirmei, a voz meio rouca – E pare de agir como se ela fosse sua inimiga, Bela. Só você vê a coisa desse jeito. A Suellen é sua irmã, e ela te ama.
– Foi ela quem te contou isso? – o deboche tinha voltado à sua voz – Vocês são melhores amigas agora? Trocam segredos e vão pro cinema juntas? Ótimo, Lolita. Bom saber que você supera as coisas rápido.
Eu não conseguia acreditar no que eu estava ouvindo. Escutei a Suellen descendo as escadas e dizendo alguma coisa e me adiantei em direção à ela, já na porta. A Bela, contudo, entrou na minha frente.
– Eu estou te dando uma última chance de se redimir comigo. – falou, a voz firme – De consertar a nossa amizade. Se você sair por aquela porta com aquela garota, nunca mais precisa olhar pra mim de novo.
Hesitei. Olhei pra Suellen, confusa e apressada, parada em frente a porta, e para a minha ex-melhor amiga completamente enlouquecida à minha frente.
Então tudo ficou claro demais pra mim, e eu passei por ela, deixando a casa com a Suellen sem olhar pra trás.
Ninguém assistiu ao filme. Suellen e Daniel estavam ocupados demais se divertindo um com o outro, e eu estava ocupada demais chorando um rio de lágrimas no ombro do Edson.
[continua… dia 06/07]