antes |
Está vendo essa foto aí do lado? Essa é uma caricatura minha aos dez anos de idade. Estávamos em Embu das Artes, uma cidadezinha aqui de São Paulo, e meus pais resolveram pagar para terem eu e minha irmã em caricaturas divertidas.
Lembro-me muito bem de sentar na cadeira em frente ao artista, e ele me perguntar: “o que você quer ser quando crescer?”. A resposta, bem diferente do que seria anos depois, estava na ponta da língua: “atriz”. Eu tinha acabado de começar aulas de teatro no colégio e estava obcecada pela sétima arte, pelo palco, pela teoria. Mas minha mãe interveio. Ela balançou a cabeça negativamente, e disse, categórica: “Ela vai ser escritora.”
Por alguns anos da minha vida, o retrato ficou guardado de má vontade dentro do meu armário. Na minha recente obsessão com o teatro, não havia espaço pra viver personagens só no papel e na caneta. Mas sempre alguma coisa me puxava de volta. Um desenho aqui. Uma ideia ali. Com treze anos, eu ainda fazia aula de teatro, mas já tinha abandonado completamente qualquer vontade de tomar aquilo como carreira. Estava terminando meu primeiro livreto, e de repente aquela caricatura já não parecia assim tão irreal. Mamãe tinha razão. Eu ia ser escritora.
Deixei de pensar nisso por muitos anos – na carreira, na caricatura, no que mamãe enxergava pra mim – e com dezessete, voltou à tona. Resolvi publicar um livro. Corri atrás, me joguei de cabeça; ou de cara? Parecia morte certa. Corri em círculos por muitos meses, tateando pra saber onde pisar. Comecei a encontrar uma trilha aqui, outra ali, e segui caminhando. No auge da minha época pré-vestibular, a frase “ela vai ser escritora” já não cabia mais com o mesmo carinho na boca da minha mãe, e quase nunca era pronunciada pelo meu pai. Arte não é carreira, é hobby. Escrever não é profissão, é fardo. Mesmo assim, eles nunca deixaram de me apoiar, à sua maneira. Às vezes, eu desejava (e ainda desejo) que pudessem ser mais compreensivos, mas isso são outros quinhentos. Eu os entendo, e não os julgo. Eu sigo, independente do que eles achem ou queiram pra mim.
Não resolvi escrever esse texto pra falar das penas; quis escrevê-lo pra falar dos sonhos. Porque escrever é sonhar, e sonhar é o que me mantém viva. Viver, sonhar, criar, esse sempre foi o meu lema. Vivo pra sonhar, sonho pra criar, crio pra viver. Faço isso todo dia, desde que me lembro por gente. Nasci com esse gene que me torna uma pessoa menos prática e mais passional, menos calculista e mais intuitiva. Eu vejo o mundo de uma maneira diferente da maior parte das pessoas. Vejo histórias onde você só vê reclamações. Vejo personagens onde você só vê rostos. Vejo palavras onde você não vê nada. E isso não me torna melhor nem pior do que ninguém – só me torna eu. Escritora.
sonhar, e sonhar é viver.
depois |
Eu, Escritora. Com “E” maiúsculo porque é minha profissão, minha carreira, meu sonho, meu objetivo e, até onde eu posso me lembrar, minha vida inteira. Já foi algo dito em sussurros baixos, algo escondido por debaixo dos panos, e hoje é o tipo de coisa que eu digo pra quem quiser me ouvir. Eu sou Escritora. E-S-C-R-I-T-O-R-A. É, aquela maluca que fica horas sentada no computador, digitando. Sim, aquele livro ali fui eu quem escrevi, inteirinho. Se é meio Crepúsculo? Que diferença faz? É meu, e sou eu, e eu me orgulho disso. Tenho muitos motivos pra comemorar.
Então hoje, Dia do Escritor, acordei dando parabéns a mim mesma. Parabéns, Larissa, por não ter deixado o tempo, a vida e as cobranças diminuírem seu amor pelo que você faz. Parabéns, Larissa, por nunca duvidar (pelo menos não por mais do que alguns minutos) do seu talento, por se agarrar a ele e lutar por ele. Parabéns pelos seus 11 livros e 26 contos terminados, 5 publicados, 5 anos de carreira profissional e pelo menos 15 de prática todos os dias. Parabéns pela insistência e pela coragem, pela criatividade, por sorrir e acreditar mesmo depois dos nãos na cara.
E parabéns a você que está lendo, caso também seja Escritor. Não importa se publicou ou não – aprendi, há muitos anos, com a Tammy Luciano, que o que te define como Escritor não é um livro impresso nas prateleiras das livrarias. Escritor é um dom, é um estado de espírito. É uma coisa que começa antes de você se dar conta e só termina quando você morre. Parabéns a você, que nasceu assim, que se fez assim, e que, faça o que fizer com os seus escritos, sempre será assim – Escritor. Parabéns a todos nós.
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"Arte não é carreira, é hobby. Escrever não é profissão, é fardo." Me identifiquei muito com essa parte porque é isso que tenho vivido. Mas seu texto me ajudou muito. Era tudo o que eu precisa ouvir/ler hoje! Não tenho livros publicados, mas já me sinto escritora, sabe?
Parabéns pelo dia do escritor, Larissa!
Lari, que texto lindo, parabéns a todos nós que temos alma de escritor.
Olá Larissa 🙂
Que texto lindo!
Ser escritor, realmente, é muito mais que profissão. É vontade da alma!
Feliz dia (atrasado)!
Beijo