Por que os autores nunca escrevem sobre personagens principais feios (personagens com baixa autoestima não contam!!!!)?
Essa pergunta, enviada pela leitora Sofia, apareceu no formulário do Larissa Responde outro dia, e eu quase dei risada quando li. A pergunta pode parecer inocente, mas é bastantes séria. E eu mesma já me peguei pensando nela várias vezes enquanto lia meus chick-lits preferidos.
Porque, de uma forma geral, personagens feios não existem. Vamos fazer um exercício rápido pra testar essa teoria: pense em todos os seus personagens preferidos da literatura, independente do gênero. Quantos deles tinham a descrição de um deus grego? E quantos pareciam comuns, talvez até feinhos? Não muitos, né? Se passarmos a olhar só pras personagens femininas, quantas se enxergavam feias? E quantas realmente eram? Pois então. A questão é que a literatura, quase como todas as formas de arte, acaba por retratar aquilo que é belo, utópico até – o cara perfeito, lindo, rico e todo poderoso, que se apaixona pela gata borralheira, transformada em Cinderela. Todo mundo é maravilhoso, e nenhum deles é real. É o que torna as histórias desejáveis.
Não vou dizer que esse foi exatamente o meu ponto de partida na hora de escrever Amor Plus Size; a bem da verdade, foi apenas uma das questões que eu queria trazer com essa história. Quando comecei a escrever, eu só tinha uma frase em mente pra valer como uma sinopse: menina gordinha se transforma em modelo plus size. Eu estava na casa de uma amiga, e anotei a ideia no recibo da pizza. Acho que tenho o papel guardado até hoje.
A ideia ficou matutando na minha cabeça. Eu nunca tinha lido nenhum livro com uma personagem gorda até então – já tinha lido histórias com personagens sem autoestima, que regravam o peso por tudo, complexadas com o tamanho da bunda, mas nunca nenhuma verdadeiramente gorda. Gorda assim, como eu, na época com os meus quase noventa quilos e a pressão de tentar me enfiar numa calça tamanho 48, porque era humanamente impossível encontrar uma tamanho 50. Muitas coisas me incomodavam na época – meu peso, minha autoestima, minha vida – mas a maior delas era olhar à minha volta e pensar: eu não sou a exceção. Eu sou a regra. Ninguém é perfeito. Essa ilusão de que só tem gente bonita no mundo é absurda.
Então, conforme a história foi crescendo na minha cabeça por mais de um ano, eu imaginei esse livro em que todas as pessoas tinham algum defeito, – um nariz grande, um quadril muito largo, cabelo ruim, o excesso de peso – este pequeno universo em que os personagens seriam como todo mundo é na vida real: imperfeito. Inseguro. Um livro onde a aparência importasse, mas não do jeito como a gente imagina; onde a mocinha dá a volta por cima sem precisar ter corpo de miss, onde o mocinho faz as meninas suspirarem não por ser o gatão do pedaço, mas por ter personalidade. O tipo de livro que eu gostaria de ter lido quando tinha meus 15,16 anos, ou mesmo agora. Um livro que me lembrasse que eu posso ser sensacional sem precisar me enquadrar no modelo de beleza de ninguém.
Não serei eu a dizer se consegui ou não aquilo que me propus a fazer. Afinal de contas, opinião de mãe não conta, né? Mas gosto de acreditar que a Maitê vai conseguir fazer alguma diferença na vida de quem leu, como fez na minha vida. Ela aprendeu tanto comigo quanto eu com ela – com ela e com todos os personagens do livro, cada qual com a sua batalha. No fim do dia (ou do livro), espero que vocês, leitores, possam olhar pro espelho e ver o mesmo que ela viu: que todo mundo, à sua própria maneira, é espetacular.
Adicione Amor Plus Size no Skoob – Divulgue com a tag #AmorPlusSize no Twitter
"onde o mocinho faz as meninas suspirarem não por ser o gatão do pedaço, mas por ter personalidade" simmmmmmmmmmmmmmmmm :3
poxa Lari, tô MUITO curiosa pra ler Amor Plus Size <3
besos
~nathália n.
http://www.livroterapias.com
Quando você postou a primeira vez a capa e a sinopse, eu (quase) chorei. Porque (1) eu enfrento esse problema – de ser adolescente e ser obesa – e (2) o nome que meu pai escolheu para mim – mas, graças a Deus, minha mãe não deixou ele colocar – era Maria Teresa, porque meu pai sempre quis ter uma filha para chamar de MAITÊ.
Coincidências a parte, eu estou impressionada.
Boba, eu diria, com a sua genialidade. Não apenas por trazer uma realidade muito presente em nossas vidas, como valorizar um problema seu (meu, nosso, deles) e fazer com que paremos para pensar que nem só as loiras fenomenais mereçam um final feliz.
Obrigada, Lari.
Por fazer todas nós ACREDITAR.
Abraços cheirosos,
Adri ♥
Eu já queria ler o livro antes, depois dessa descrição, quero ler muito mais! Muito bom você descrever uma personagem assim, imperfeito, mas verossímil.Meses atrás a mesma indignação que você teve para escrever Amor plus size, também me impulsionou a escrever uma personagem masculino longe do sarado e belo.Muito bom saber que compartilhamos do mesmo pensamento, Lari.
Beijocas!
Eu já quero ler aqui e agora nesse momento?? Achei a ideia genia!