Ao longo da minha vida, escrevi uma dezena de livros e contos. Publiquei seis. Destes, pelo menos metade não se passa em São Paulo, minha terra natal. Dessa metade, eu não conhecia nenhuma – pelo menos até agora.
Sabe aquela máxima de “escreva sobre o que você conhece”? Bom, eu sempre achei isso uma besteira um tanto grande, porque o que eu conheço é muito limitado. Mesmo uma cidade grande como São Paulo pode limitar as opções de uma garota, certo? Então um belo dia, lá em 2008, quando comecei a escrever Toda Garota Quer, resolvi sair um pouco da minha zona de conforto e levar minhas personagens pra longe, lá pra Ilhabela.
Eu tinha alguma experiência com o litoral paulistano. Já tinha ido pra Santos, Praia Grande, Itanhaém, Peruíbe, Ubatuba. Quero dizer, quão diferente uma cidade litorânea pode ser, certo? Então escrevi me inspirando nos lugares por onde tinha passado, ciente de que um lugar não era o outro, mas abraçando a possibilidade porque, afinal, o importante era escrever. Lembro que mais tarde, quando as minhas leitoras vinham me falar sobre sua experiência com a leitura, todo mundo ficava chocado quando eu dizia que nunca tinha ido pra lá pessoalmente. Parecia real demais aos olhos da Dora, minha personagem. Como poderia, sem ter sido real pra mim?
Assim como acontece com todo cenário fictício que eu leio ou escrevo, Ilhabela tem estado na minha lista de lugares para conhecer desde que terminei o livro. Mas não foi até hoje que o sonho se concretizou – e finalmente!
Não vou ficar aqui falando sobre como foi o passeio porque a) ninguém realmente quer saber, e b) não fiz nada de sobrenaturalmente interessante considerando que só fiquei na ilha umas cinco horas. Pra começar, sim, é uma ilha, e não só no nome. Tem que pegar balsa e tudo; um detalhe básico de pesquisa do qual passei por cima, se vocês leram o livro. Mas essa não é a única surpresa da cidade.
Ilhabela se provou uma cidade muito mais bonita do que eu esperava. As praias são pequenas, mas tem água cristalina. A cidade mistura casarões modernos com construções antigas, e é bem cuidada e tranquila. É o tipo de lugar onde eu realmente consigo ver uma história como a da Dora se desenrolando, e não só pela paisagem. Talvez fosse porque eu estava procurando, mas eu realmente senti a aura que esperava por ali. Como se uma estranha de cabelos ruivos fosse passar por mim a qualquer minuto, acompanhada de um belo rapaz de olhos verdes.
Esperava achar os cenários ideais – a praia onde eles assistiram o nascer do sol, a pousada de Tomáz, a feirinha onde eles passearam durante a noite – mas a verdade é que, depois de uma hora, eu desisti de procurar. Acho que a beleza de a gente escrever uma história num determinado ambiente é que ela pode se passar em qualquer lugar, e isso está além de mim. Só de ter estado lá, fui jogada uns bons sete anos no tempo. Revivi a história, me apaixonei outra vez, e redescobri o que toda garota quer.