Quando eu tinha dezesseis anos, embarquei num avião no Aeroporto Internacional de Guarulhos rumo ao que seria o melhor ano da minha vida. Seis meses antes, eu tinha enfiado na cabeça que queria fazer um intercâmbio, e depois de conseguir convencer toda a família, estava me mandando pra lá. Lembro como se fosse hoje de estar tensa no aeroporto – não por medo da viagem, mas por estar morrendo de vontade de ir logo. Naquele dia, minha mãe me falou uma coisa pra qual eu ainda não tinha resposta: “vê se tenta voltar”.
Seja pelo destino, pela vida ou simplesmente pelas minhas escolhas, resolvi voltar. Desde o momento em que cheguei de novo ao Brasil, seis meses depois de ir embora, eu já era uma pessoa diferente; eu tinha hábitos que não podia justificar, sentimentos que ninguém conhecia, um jeito de falar que parecia ser de outra pessoa. Todo mundo muda, mas sabe quando você se olha no espelho e não reconhece mais aquela pessoa, naquele lugar que um dia chamou de seu? Era mais ou menos isso. Eu estava incomodada. Estava errada. Queria voltar.
Não fui, e a vida aconteceu. Me arrependi de ter voltado, mas jamais me arrependeria de tudo pelo que passei desde este retorno. Aprendi tanto, fiz tantos amigos, vivi tanta coisa – e estou aqui. Aqui, nesse blog, nessa carreira, vivendo um sonho. E mesmo assim, aquele comichãozinho sempre existe. Aquilo que me diz que talvez eu devesse estar em outro lugar.
De tempos em tempos, me bate aquele desespero. A vontade de partir me sufoca, e eu penso que, se passar mais um ano nessa casa, nessa cidade, nesse país, vou enlouquecer. Faço planos, pesquiso, faço contas, sonho alto. E aí a realidade chega, e de repente a vontade passa, e penso que talvez tenha construído coisas demais aqui pra simplesmente ir embora. E aí essa urgência vai embora, só pra depois, de repente, com jeitinho, aparecer de novo.
Não sei se isso acontece com vocês, mas neste momento estou vivendo uma fase em que todos os meus amigos estão indo embora, de um jeito ou de outro. Alguns se afastam pela vida, pelos namoros e trabalhos e cursos e rotinas que os deixam ocupados demais pra conseguirmos nos ver o tempo todo. Outros estão literalmente partindo, buscando novos horizontes, e eu me orgulho de cada um deles. Mas de certa forma, isso acaba redespertando aquele meu instinto: será que não é hora de ir? O que é que eu ainda estou fazendo aqui mesmo?
E a verdade é que: não sei. Não sei o que estou fazendo aqui. Não tem nada que me prenda, não exatamente – gosto do meu emprego, e da minha carreira com a escrita, amo minha família e meus amigos, mas nada disso é exatamente razão pra ficar; nunca foi. Não é uma questão de abandonar o que tenho, mas de ser capaz de viver com a distância, como pude antes, como sei que posso. Mas aí vem a dúvida: quero fazer isso porque acho que devo, porque é o melhor pra mim, ou porque me sinto compelida pelos motivos dos outros? É o que quero pra agora ou o que quero a longo prazo? E por que, afinal, estou pensando tanto? Por que não pode ser só escolher – e ir?
Queria que fosse. Talvez eu esteja ficando velha, e não seja hoje tão capaz de só abrir as asas e voar quanto era antigamente. Não sei se escolho direita o esquerda, pra baixo ou pra cima, ir ou ficar. Por enquanto, fico. Vou esperando que o destino, a vida ou simplesmente as minhas escolhas me apontem qual é o meu lugar.