Quando eu era mais nova, minha mãe vivia insistindo que eu fosse mais vaidosa. "Você precisa se arrumar mais. É uma menina tão linda", ela dizia, tentando argumentar com a minha insistência nas camisetas largas, na falta de maquiagem e em nunca usar nada que não fosse jeans e tênis.
Naquela época, eu não via muito sentido em me arrumar. Não adiantava corrigir por fora uma coisa que vinha de dentro - eu me sentia horrível, e queria expor aquele sentimento de uma maneira não verbal. Vaidade pra mim era um conceito alienígena. Eu jamais seria uma daquelas meninas perfeitas, então pra que me dar ao trabalho?
É engraçado como o exterior reflete o interior. Comecei a me descobrir e a me amar mais ou menos na mesma época em que resolvi fazer da maquiagem o meu escudo de batalha. Primeiro, era pra encobrir as "imperfeições"; depois, pra manter a autoestima; hoje em dia, já é quase um mantra. Nos dias em que me sinto mais pra baixo comigo mesma, são os dias em que eu mais carrego na base, no pó, no batom.
E ironicamente, isso acabou se refletindo no ato de não me maquiar também. Se antes eu morreria antes de ir trabalhar sem maquiagem, hoje isso já se tornou um hábito. Precisei cobrir meu rosto pra descobrir que o amo descoberto. A manutenção desse pequeno hábito de vaidade me ajudou a lembrar que, não importa quantos produtos você passe no rosto, aquilo que você sente - em especial sobre você - sempre vai estar estampado na sua cara.
Hoje eu entendo o conselho da minha mãe. Não é sobre se arrumar. Não é sobre estar bonita para os outros.
É sobre estar bonita pra você.