Uma noite dessas, eu estava ouvindo música pra tentar dormir quando, sem aviso, meu iPod resolveu que era hora de tocar Winter Wonderland - uma música que eu cantarolei o tempo todo durante minha viagem a Nova York no fim do ano passado. Foi o que bastou pra que eu chorasse de saudade.
É engraçado o que acontece quando a gente viaja; ou melhor, depois que volta de uma viagem. Longa ou curta, quando você viaja, você carrega um pedaço do lugar com você. Por consequência, um pedaço seu também fica por lá, nos lugares que você visitou, nas pessoas que você conheceu, nas coisas que você viveu. Você está por todos os lados agora: no topo do Rockefeller Center, de braços abertos com o Cristo, andando pela neve acumulada em Vancouver, olhando Paris do alto da Torre Eiffel. Você ainda é você, mas não está mais inteiro.
É esquisito como viajar me mudou de muitas maneiras. Cada vez que eu vou pra um canto diferente, eu imagino como seria uma vida ali. E, por uns dias, eu construo de fato uma vida naquele lugar, uma rotina que é só minha. E quando eu volto, aquele resquício de vida ainda está comigo.
Tenho uma relação diferente e única com os lugares que já visitei. Quando vejo amigos nos mesmos lugares, me vem aquele sentimento de traição e nostalgia - porque meus pedaços estão ali, e aquele lugar é meu, mas também é deles, e agora tem fragmentos nossos por toda parte que eu queria recolher. Mas sei que, se voltar um dia, não vai ter nada pra pegar de volta: só mais pedaços meus pra deixar pra trás.
E talvez seja por isso que gosto tanto de viajar. Não é só pelo desconhecido e por desbravar algo inteiramente novo. É porque eu sou construída desses pedaços que deixo e dos que carrego também. Depois da primeira vez, descobri que não tenho casa e que a minha casa é em muitos lugares. Não importa onde eu esteja, sempre quero voltar pra algum lugar. Tenho tantas memórias e tantos pedaços que meu coração dói com a saudade dos cacos antigos. Eles estão na forma de fotos, lugares e pessoas, e é preciso visitá-los de vez em quando. Mas como um dente de leão, eu também preciso me espalhar. E é o que faço.
Pra onde meus pedaços vão da próxima vez, eu me pergunto? É uma aventura que ainda está por vir.
Eu estou me sentindo assim também. Fui para bahia no começo do ano e sempre que me lembro de lá bate uma saudade tão boa, ir para lá me mudou de várias formas.
´
Gostei do seu texto.
Beijos, Caroline
Amai Ame