É engraçado pensar nas coisas que a gente sente falta depois que uma pessoa se vai. Elas são minúsculas, sem sentido às vezes. Mas são nossas, e porque são nossas, fazem doer.
Sinto falta do cheiro da casa dela. Era uma mistura de colônia doce com tempero de cozinha, e um leve aroma de sabonete. Estava em todos os cantos da casa, mas nenhum mais que aquele velho sofá. Outra coisa boba da qual sinto falta. Aquele sofá desconfortável onde eu dormi tantas vezes, e onde me sentava pra assistir programas vespertinos sem graça.
Sinto falta de passar pela rua e vê-la na janela. Hoje me da um nó na garganta só de olhar praquela casa. Tenho sempre a impressão de que ela está no portão espiando, mas quando olho, não vejo ninguém lá. Nunca vou esquecer dos penduricalhos fazendo barulho com o vento ou de ver se rosto por uma fresta na janela, conferindo quem estava no portão. Sinto falta de chamá-la aos berros e esperar um tempão porque ela estava fazendo qualquer coisa e não me escutou chamar.
Sinto falta de tanta coisa. Não achei que me apegaria tanto a coisas insignificantes, mas hoje eu vejo que são esses elementos pequenininhos que fizeram dela quem era, e de mim quem eu sou, e de tudo uma lembrança única. Sou grata por essas miudezas que moldaram as nossas vidas, porque agora tenho tanto pra lembrar que as vezes acho que a memória dela me assombra. Está em coisas ridículas que acontecem no meu dia e me fazem chorar sem que eu me dê conta. Está nas lembranças que me fazem escrever esse texto no meio da madrugada, sem eu nem saber porque ela resolveu me fazer lembrar.
Não tem um dia que eu não sinta falta dela. Seja daqui a um ano, dez ou cem, eu sempre vou lembrar.