Encaro a tela. Vejo o cursor dançar, piscando como se me provocasse. Escrevo e apago. Escrevo e apago. Todo dia a mesma coisa.
Odeio ficar sem escrever. Odeio que hoje em dia, eu precise me forçar a fazer uma coisa que antes vinha tão naturalmente. Odeio que às vezes, me sinto falsa colocando palavras no papel, como se elas tivessem perdido o sentido, estivessem vazias de significado. Mas mais que tudo, odeio o branco – na tela, no papel e na mente. Principalmente na mente.
Você se lembra, Larissa, de quando conseguia manter três livros em paralelo e se dedicar a todos eles? Lembra daquele ano em que escreveu três livros novos e dois contos, e que ainda conseguia estudar e manter uma vida social razoável? Lembra de quando o malabarismo não parecia nada, e você tinha a impressão de que seria capaz de fazer qualquer coisa, se tentasse?
Lembra como era, não ter preocupações?
Essa vida de adulto é um saco mesmo. Não por ter que trabalhar e pagar contas, mas por perceber que você realmente não tem mais 15 anos. As coisas que costumavam ser simples, como botar histórias no papel, de repente não são mais. São tantos fatores. As pessoas, o stress, a falta de tempo, a vida. Tudo é desculpa. E enquanto isso, o cursor pisca, impaciente. Laudas e laudas a serem preenchidas, mas nenhuma com o que você quer. São trabalhos pra faculdade e relatórios pra empresa, são planos de aula e trabalho, trabalho, trabalho, e nunca os contos. Nunca os livros. Nunca as histórias. Elas ficam em segundo plano.
Aí eu sento, fraude que sou, e tento escrever. Mas escrever sobre o que? As histórias estão bloqueadas. Os personagens, cansados de serem ignorados, me abandonaram. As ideias se foram. Que escritora é essa, meu deus, que não escreve sobre nada?
Escrever sobre não escrever? Talvez. Melhor que nada. Puxo o teclado e começo a digitar.