Encaro a tela em branco mais uma vez. O que escrever? Sobre o que falar? O que vai ser dessa vez?
Estou tão acostumada com as palavras resolvendo minha vida. Desde sempre, se não consigo falar, consigo escrever. O que eu sinto, o que eu vejo, o que eu quero, tudo encontra uma tradução perfeita nas pontas dos dedos, no teclado, na tinta e no papel. Já criei pra mim essa convicção de que não tem nada que meia dúzia de palavras certas não possam fazer – exceto, talvez, criarem ideias.
Pois de que me adiantam as palavras certas se não tem nada pra expressar? Posso conhecer um dicionário inteiro e criar frases brilhantes, mas nenhuma delas fará sentido se não houver um sentimento, uma cena, um desejo a ser contado. Sou palavras, sim, mas também sou ideias, inspirações. Sou tão uma quanto as demais, tão intrinsecamente ligadas que elas coabitam e exigem de mim tudo ao mesmo tempo. Uma não existe sem as outras. A simbiose perfeita.
Então lá vou eu, encarando a tela em branco, esperando a boa vontade das minhas parasitas. Às vezes canso e fecho tudo, pronta para deixar pra outro dia. Às vezes, é na tela em branco que elas decidem aflorar. Não tenho como saber. Aguardo. Uma hora, elas fazem o que tem que fazer.