Semana passada, fui a um casamento. Tinha sido um dia longo, a festa era longe, e minha última refeição tinha sido o almoço. Eu estava faminta. Quando a cerimônia acabou e o jantar começou a ser servido, eu já estava tremendo. Então comi. Rápido. Muito.
E quando dei por mim, e olhei o que estava fazendo e o que estava comendo e quanto estava comendo… surtei.
Surtei e precisei ser amparada até a crise passar. Surtei e precisei pedir, implorar pra que não me deixassem fazer nada contra mim mesma. Surtei, mas me acalmei, e quando a calma bateu, eu só conseguia pensar: ainda?
Já faz anos desde que eu resolvi quebrar o ciclo de punições contra meu corpo, anos desde a última vez em que precisei botar pra fora o que comi por culpa de ter comido. Mas as crises, elas não passaram. Às vezes acho que já estou mais forte e que nunca mais vou ter que passar por isso, mas então volta, e quando volta, eu me pergunto se realmente me recuperei. Se algum dia vou me curar.
A resposta é que talvez sim. Talvez não. Talvez não exista cura. Talvez eu esteja condenada a lutar contra isso pelo resto da vida, ou talvez, em algum tempo, as crises sumam por completo. Não tenho como saber – é diferente pra todo mundo.
O que importa mesmo é que desta vez eu sobrevivi, e que tenho sobrevivido a todas as crises até agora. O que importa é que não cedi e continuarei não cedendo. O que importa é que eu luto, e que venço, enquanto for preciso. O que importa é que ainda estou aqui.