Eu me lembro de todas as histórias que ela costumava contar.
Minha infância foi uma sucessão de noites na casa dela. Entre doces e brincadeiras, na hora de dormir, ela sempre contava uma história, geralmente sobre a sua vida e sobre como as coisas eram diferentes quando ela era mais jovem. Algumas histórias foram repetidas várias vezes, e eu me lembrava de pensar “já sei essa de cor”.
Hoje, eu daria tudo para ouvi-la contando as mesmas histórias mais uma vez.
Eu nem sabia que dava pra sentir tanto a falta de uma pessoa até perdê-la. Parte de mim sempre achou que ela seria para sempre, eu acho, existindo fora dos padrões de longevidade humanos. Mesmo no final, mesmo sabendo, custei a acreditar. Como alguém que era pra viver pra sempre apenas… se vai?
Tudo mudou depois que ela foi embora. Há tantas coisas que ela deixou de ver, histórias que deixou de ouvir e contar. Quando passo em frente à sua casa, Ainda tenho a impressão de vê-la na janela. Quando penso nela, Ainda tenho a sensação de tê-la por aqui.
Talvez fosse este, então, o tal viver para sempre. Talvez eu estivesse certa, e ela seja eterna – só não da maneira como eu gostaria. Ela está nos cantos da casa, no meu sangue e nas memórias que eu reconto para não esquecer. Ela vive sempre que digo o nome dela. Hoje, ela é só uma história – mas é a melhor que eu jamais vou ter.
“The ones who love us never really leave us.”