A relação de livro e leitor é mágica. Eu sempre soube disso, desde o primeiro instante em que consegui ler uma história, ou em que descobri o encanto de uma livraria. A conexão que se forma é única e, por vezes, inexplicável.
Mas nada me mostrou mais essa conexão do que Harry Potter.
Me lembro que, ao descobrir o filme, lá em 2001, tive aquela mesma reação de todas as crianças da época: quero viver nesse universo. Saí do cinema com os olhinhos brilhando, e no mesmo mês, voltei outras duas vezes para me aventurar por Hogwarts. No auge dos meus nove anos, faltando apenas dois para a idade de ser aceita na melhor escola de magia do mundo, eu já treinava meus feitiços com varinhas invisíveis pela casa. Mas até então, eu não sabia que havia um livro.
Eu já era uma leitora em potencial naquela época, que vivia descobrindo livros na biblioteca da escola, mas não lia com a mesma velocidade nem com a mesma voracidade que tenho agora. Lembro de, um dia, minha madrinha vir nos visitar e dizer que tinha comprado os livros daquele filme do bruxo. Lembro de implorar para que ela me emprestasse, e, na semana seguinte, ela me trouxe um, O Prisioneiro de Azkaban. Sem saber que era uma série, ou que os livros deveriam ser lidos em ordem, eu li; e, quando ela me trouxe o segundo, na semana seguinte, e o primeiro, duas semanas depois, passei um mês inteiro apenas lendo aqueles três livros. Foi amor à primeira página.
Criei uma relação especial e única com Harry Potter desde então. Digo única porque, apesar de muitas pessoas terem passado por experiências semelhantes, a minha é só minha. Li os livros emprestados de amigos ou da biblioteca, acompanhei o lançamento de cada filme, fui em pré-estreias, fui ao cinema seis vezes na mesma semana para rever o mesmo filme. Discuti cada capítulo com as minhas amigas e gritei quando entreouvi sem querer spoilers sobre a morte de Dumbledore. Comprei o último livro em inglês, mesmo nunca tendo lido em outro idioma antes, e desisti da leitura na metade, mas fingi que tinha entendido tudo que acontecia só para parecer mais antenada. Chorei com o trailer dos últimos filmes e fui à última pré-estreia sozinha, durante um intercâmbio, depois de ficar seis horas em uma fila gigantesca. Reli os livros. Visitei o parque. Comprei coisas. E, quinze anos depois, a magia dessa relação que se formou entre mim e os livros nunca deixa de me surpreender.
Harry Potter mudou e moldou minha vida, talvez de maneiras que eu sequer saiba. Essa é a parte mais especial de ser leitor — a gente vive através dos livros, e muda por conta deles. Cada história se torna parte da nossa. Cada personagem se torna nosso amigo íntimo. Cada autor se torna um pedaço da nossa vida.
E eu me pergunto, daqui a vinte anos, será que alguém poderá dizer o mesmo de algum livro meu?
Eu espero que sim.