Schadenfreude

A miséria adora companhia. Já ouviu esse ditado?

Há um pouco de verdade nele; nada me tira mais de uma fossa do que saber que alguém (preferencialmente, o mesmo alguém que me colocou nessa fossa) está pior do que eu. Saber que você não está na pior das situações pode ser reconfortante, por mais egoísta e horrível que pareça.

Mesmo assim, o contentamento com a desgraça alheia deveria ter um limite. Somos todos humanos, é claro, imperfeitos à nossa própria maneira; nenhum de nós está a salvo de sentimentos ruins. Mas nada a meu ver tem impacto tão negativo quanto desejar e se felicitar com a dor do outro.

Está em coisas pequenas, quase insignificantes: naquele bem feito que a gente diz quando uma pessoa que a gente não gosta se dá mal; na risada que a gente dá quando descobre que nosso ex está na pior enquanto nós demos a volta por cima; no sorriso que a gente não consegue evitar quando o vilão (da vida ou da ficção) é punido de alguma maneira horrível. Às vezes, a gente se engana chamando esse sentimento de justiça — na real, é algo muito mais sombrio do que isso.

Talvez seja inocente e até um pouco hipócrita da minha parte desejar que esse tipo de alegria às custas do sofrimento dos outros desaparecesse. Quão difícil pode ser apenas viver e deixar os outros viverem, e não ver graça no horror de outra pessoa? Mas sei que o buraco é mais fundo que isso. Esse sentimento não faz de nós psicopatas, torcendo ou até mesmo causando o pior aos outros, mas apenas humanos. Não bons, nem maus: apenas humanos.

Texto escrito à partir da sugestão de Petra Leão no Twitter.

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