A gente aceita o amor que acha que merece, disse alguém em um filme uma vez. Essa frase ficou comigo desde a primeira vez que o vi, e acabei replicando-a para todas as coisas da minha vida. A gente aceita as pessoas, as punições, as alegrias e as derrotas que acha que merece. A gente abaixa a cabeça quando recebe alguma coisa, seja ela boa ou ruim, e pensa que, se tal coisa acontece, é porque algo a gente fez pra merecê-la. Ou talvez não seja a gente. Talvez seja só eu.
Não sei quando ou nem como aprendi que o que merecia era pouco. Ninguém virou pra mim um dia e disse que eu não valia nem o mais mínimo dos esforços, mas me convenci disso com uma rapidez estonteante. Que não merecia o emprego porque não era esforçada o bastante. O garoto porque não era interessante o suficiente. O amor porque não valia a pena.
A primeira vez que fui confrontada com a ideia de que merecia mais, dei risada. Ri porque parecia uma coisa tão hipotética, tão distante, eu tendo mais do que já tinha — mais do que nada. E ainda hoje, que me considero uma pessoa melhor e mais evoluída, às vezes ainda é difícil de lembrar disso. Não se apaga uma vida de diminuição com uma horinha de pep talk das amigas.
Mas sabe, a coisa louca de viver acreditando que você merece mais é que você, de fato, consegue mais. Você se livra das coisas que pesam na sua vida e fica só com as que te fazem bem. Corta as relações que te puxam pra baixo e se permite cultivar só as melhores. Você vive pelo que te faz crescer, porque acredita que aquilo tudo é nada menos do que você merece. Simples assim.
Ainda não achei nada do que mereço de verdade, mas luto todos os dias pra me convencer de que mereço mais do que tenho, e para ser uma pessoa que mereça tudo que eu espero merecer. De grão em grão, a galinha enche o bico, é verdade — mas não é porque agora tenho grãos que preciso aceitar migalhas a vida inteira.