“Você pegou as suas dores e transformou em arte.”
Ouvi essa frase ontem da minha terapeuta e ainda não consegui acreditar. Como numa daquelas conversas que parece que fui eu quem escrevi, ela disse tudo que eu precisava escutar, ainda que doesse.
É estranho quando mais alguém enxerga na gente aquilo que nós mesmos não queremos ver. Sempre soube que era aquilo que eu estava fazendo — uma das coisas que mais me atrai sobre escrever é justamente o processo terapêutico da coisa. Mas é estranho quando mais alguém vê isso, enxerga aquele pedaço de você que, por mais óbvio que seja, está entranhado tão fundo que você nem sabe mais dizer onde ele começa.
E é ainda mais esquisito debater isso com outra pessoa. É como abrir seu coração sobre uma mesa, e tirar dele tudo que você tem, e esperar que a outra pessoa reaja a todas as porcarias que você carrega com você. Mais de uma vez, ela me lembra que terapia e autoconhecimento são isso: escancarar as portas do porão que tem dentro de você e se dispor a limpar peça por peça, escolhendo o que você vai levar e o que vai deixar para trás.
Comecei esse caminho há muito tempo, abrindo meu coração entre páginas de livros. A exposição mais de uma vez ajudou a me curar. Agora é hora de recomeçar esse trabalho, mais a sério, mais conscientemente. Não sei quanto tempo mais vai demorar. Mas talvez, no final dessa jornada, meu coração deixe de ser porão e vire jardim, pronto para florescer coisas novas, muito confortável à luz do dia.