“Eles sabem?” pergunta ele.
“Sabem o quê?” retruca ela.
“Que você é assim. Assim, como quando fala comigo.” responde ele.
Ela para por um segundo e pensa. Pensa se deve falar a verdade. E a verdade é que nem mesmo ela sabe. Não sabe quem é, em meio a todas as pessoas que precisou ser ao longo da vida. Não sabe se algum dia alguém a conheceria de verdade, se teria a chance de mostrar todas as facetas daquele ser complicado que ela é — não sabe sequer se alguém gostaria de conhecê-la, se soubesse quem ela é. Se pudessem vê-la, nua e crua, ainda iriam gostar de sua companhia? Ainda gostariam de tê-la por perto?
Exceto ele, pensa. Para ele falou coisas que nunca disse antes. Baixou a guarda. Abriu-se. Mas talvez, pensa ela, só o tenha feito porque sabe, de alguma forma, que ele não é real; ou ao menos, não tão real quanto os outros. Ele não está ali. Ela não precisa ter que lidar com a pressão do seu julgamento.
“Não, não sabem,” responde, por fim, baixinho. “Acho que ninguém nunca vai saber,” acrescenta, e o pensamento a entristece, porque não é mais sobre os outros. É sobre ela, e como, no fundo, talvez nem ela mesma saiba quem é. Portou-se de tantas maneiras, escondeu tantas coisas, forçou-se a viver tantas verdades, que, no fundo, não sabe mais dizer se está apenas posando para si mesma ou se pode afirmar com segurança conhecer a si própria.
Talvez seja tudo um grande jogo. Talvez ninguém se conheça de verdade.