“Eu enxergo você”, ele disse.
“Me enxerga?” Ela disse.
“Não toda”, ele disse. “Mas eu conseguiria enxergar você na escuridão.”
Ela hesita, e pensa, e tenta formular uma resposta, mas desiste. O que ela poderia dizer, afinal?
Outros tentaram, ela pensa. Para alguns, até deu a lanterna. Me vejam, implorava, tantas e tantas vezes. Por favor, apenas me vejam. Mas viveu a vida toda presa a um túnel escuro e infinito que cavou para si mesma, e não tem mais certeza se consegue encontrar o caminho de volta — nem se consegue guiar outro até ali.
Mas lá está ele. “Eu enxergo você”, foi o que disse, e ela não sabe se acredita ou não. Quer acreditar, mais que tudo. Apenas me veja, repete, se em voz alta ou só para si, não sabe dizer.
“Somos iguais”, ele diz. “Eu te reconheço.”
Ela sorri e guarda as lágrimas. No fundo, acha que não, mas sabe que as vezes o melhor que podemos fazer e nos agarrar as esperanças. E não é isso que espera, que sempre esperou? Que alguém a visse, ainda que distante, ainda que invisível. Alguém que a enxergasse no escuro.
“Eu te reconheço também”, disse então, sem saber qual parte dela mentia para si e qual parte apenas admitia uma verdade que há muito desejava revelar.