Ele abre um livro. Embarca num mundo. Se perde nas palavras.
Ele não sabe que, do outro lado, uma vida acabou de ser salva.
Ele se distrai por um tempo. Ri de piadas que só ele entende. Chora com sentimentos que não são seus.
Ele não sabe que, do outro lado, alguém voltou a respirar por sua causa.
Para cada livro, uma vida. Para cada página, um respiro. Para cada história, uma esperança.
Talvez ele não saiba, mas em algum lugar, alguém que nunca o conheceu o agradece todos os dias.
E talvez ele também não saiba, mas aquelas páginas, aqueles livros, aquelas histórias — nada existiu antes dele. Eram folhas em branco, que só foram preenchidas quando foram lidas.
Ele talvez não saiba, mas tem alguém, em algum lugar, que morreu por aquela história. E morreria de novo e de novo, e se der sorte, morrerá muitas outras vezes ainda. E tudo bem, pois não existe mais autor. Não tem espaço para um terceiro elemento nessa relação.
É uma via de mão dupla. O leitor e o livro, o livro e o leitor.
E, para nós, isso basta.