No escuro, na noite, ela chora. Abraça a si mesma. Espera passar.
De novo, não.
Inspira, expira. Inspira, expira. Como foi mesmo que a ensinaram todos aqueles anos atrás?
De novo, não. Eu não consigo.
Para dentro e para fora. Para dentro e para fora. Queria colocar tudo para fora. Se não sobrasse nada dentro dela, talvez parasse de doer.
Por favor, não, de novo, não.
Se estivesse vazia, talvez fosse melhorar? Se não sobrasse mais nada nela — nem a comida no estômago, nem a pele sobre os músculos, nem os sentimentos travando a garganta — talvez ela conseguisse voltar a respirar. Era difícil, assim, carregando o peso do mundo sobre os ombros.
Não posso, não posso, não posso, não vou.
Talvez ela devesse. Talvez, só mais um passo. Seria rápido. Ajudou antes. Pode ajudar agora.
Eu não consigo. É mais forte que eu.
Então para. Repete as mesmas palavras.
é
mais
forte
que
eu
Não é verdade, é? Se fosse mais forte que ela, já a teria levado há muito tempo. Se fosse mais forte que ela, ela não estaria aqui, ainda lutando, ainda barganhando. Não havia nada mais forte que ela. Nada capaz de derruba-la com tanta facilidade.
Inspira. Expira.
O ar volta pros pulmões. O choro seca na garganta. Aos poucos, e então de uma vez, ela respira.
Não existe nada mais forte do que ela.