O meu transtorno alimentar me deu controle. Mas era um controle falso. Eu achava que sabia o que estava fazendo, que sabia onde estava pisando, mas nunca estive tão errada. Nada daquilo me pertencia. Minha vontade não era minha. Meus impulsos não eram meus. Minha mente não me pertencia.
O meu transtorno alimentar me deu felicidade. Mas era uma felicidade passageira. Eu achava que privação era sinônimo de vitória, que estabilidade era o mesmo que ausência, mas não era verdade. Os aplausos do meu estômago não eram de alegria. A bile na garganta não era um brinde às minhas conquistas. Eu não podia ganhar num jogo que não deveria estar jogando.
O meu transtorno alimentar me deu segurança. Mas a verdade era que eu nunca estive menos segura. Eu achava que tinha as respostas na ponta da língua, que poderia manipular o meu reflexo a ser como eu queria. Eu não sabia que estava doente muito antes de ver minhas coxas encolherem dentro das calças. Eu não entendia que minha mente estava quebrada muito além da reparação.
O meu transtorno alimentar me deu sucesso. Mas era um sucesso irrreal. Eu achava que não podia estar doente se estava emagrecendo. Eles achavam que eu não podia estar doente estando gorda. Acreditei quando chamaram de força de vontade. Aceitei quando me convenceram que só mais aquele remédio ou aquela dieta ou aquele processo seria a solução. Eu não sabia que não poderia me consertar de fora para dentro. Eu não sabia que estava criando cortes que nunca iriam cicatrizar.
O meu transtorno alimentar me deu marcas. Me deu causas. Me deu dores. Me deu traumas. Mas por uma coisa eu preciso agradecer.
O meu transtorno alimentar me deu a mim mesma. Pedaço a pedaço, eu continuo a me colar de volta.