Escrevi esse conto este final de semana, num surto que veio sei lá eu de onde. É curtinho, numa única parte, mas eu gostei tanto que resolvi postá-lo aqui. Espero que vocês gostem também. Cliquem em “leia mais”, leiam e depois me contem o que vocês acharam, ok? 😉
Aquele dia, acordei decidida. Acordei decidida a me livrar de todo e qualquer resquício da sua presença na minha vida, de qualquer vestígio de lembrança que pudesse fazer eu me sentir mal de alguma forma, apagar todos os traços que me impedissem de curtir aquela paz que estava me invadindo.
Não fazia aquilo por desrespeito ao que era nosso. Não fazia por não te amar. Fazia apenas porque queria te esquecer. Fazia porque estava começando a me erguer sobre as minhas próprias pernas, e queria distância do que pudesse me derrubar novamente. Fazia porque era passado, e passado que é passado permanece onde deve ficar.
Peguei uma velha caixinha de sapatos, que não era muito grande, mas devia bastar. Então me coloquei a vasculhar meu quarto.
Nos álbuns de fotografia, quanta coisa! Aquela foto, aquela primeira foto juntos, lembra? Ri ao me lembrar do quão difícil tinha sido te convencer de tirar aquela foto, e mais outras e outras seguintes. Sempre tão teimoso e não fotogênico. O riso morreu e coloquei a foto na caixinha.
E aquelas, da primeira viagem? Eu ainda me lembrava com riqueza de detalhes. Poderia dizer todo e cada passo que demos naqueles dias. Mas não deveria. A foto foi pra caixinha, e eu passei pra seguinte.
Quantas fotos! Eu nem sabia que tinha tanta coisa assim que me lembrasse de você! Olhei uma por uma, e pensei no momento e na lembrança que aquela foto me trazia. Me lembrei daquele tempo em que nós éramos felizes, em que a felicidade conjunta era o que me movia. Me lembrei de quando você era a coisa mais importante de todo o mundo pra mim. Pequena criança. Não sabia que a felicidade morre, que o amor acaba, e que nada é pra sempre, não importa o quanto a gente prometa um pro outro. Coloquei todas as fotos na caixinha, sem dó, nem piedade.
Passei então pras cartas. Havia muito tempo que havíamos parado de nos dar cartas nas datas comemorativas. Todas as que eu tinha remetiam ao começo do namoro. Me perguntei se você ainda tinha as minhas – melosas declarações de amor infinito escritas com toda a minha verdade, páginas e páginas de momentos registrados em palavras – e depois decidi que não importava. Eu acreditava no seu carinho com o nosso passado, mas não cabia a mim decidir por você que futuro dar a ele. Me coloquei a ler as cartas novamente, naquela sua caligrafia perfeita, que eu brincava ser de outra pessoa. Você não era muito bom com as palavras, mas me fazia sentir especial, diferente. Uma a uma, dobrei as cartas e as coloquei na caixinha, dizendo pra mim mesma que a dor no coração era só de saudade, que ia passar, como tudo nessa vida.
Não restaram muitas coisas a partir daí. Um presente mais significativo. Um enfeite com o seu nome. Qualquer coisa com seu nome. Recolhi tudo que achei e coloquei dentro da caixinha, deixando-a cheia de nós dois. Não haveria mais nós dois. Eu já sabia disso há muito tempo, mas aceitar era outra conversa. Quem sabe agora eu estivesse aceitando? Quem sabe esse fosse o sinal que eu estava esperando com tanto anseio de que a vida estava passando pra mim também?
Quando terminei, fiquei olhando pra caixinha cheia das nossas memórias, e, finalmente, me perguntei o que faria com aquilo. Jogar fora? Queimar, rasgar, quebrar? Eu não tinha certeza de que era aquilo que eu queria fazer. Eram só lembranças. As lembranças boas. O que seria de mim se eu jogasse fora toda a parte boa da gente? Não queria me lembrar do que me fazia sofrer.
E foi quando percebi que aquela não era a parte que me fazia sofrer. Aquela era a parte que tinha me feito feliz. Que tinha feito de mim o que eu era. E eu não jogaria fora quem eu era, se essa pessoa tinha nascido por sua causa. Não. Eu não precisava daquilo.
Decidi, então, o que fazer com ela. Junto com todas aquelas lembranças, coloquei qualquer esperança de volta, qualquer expectativa de mudança sua, qualquer busca por indiretas, e todo o sofrimento que tinha me afligido até então. Fechei a caixinha bem fechada e a coloquei no fundo do meu guarda-roupa. Fiz o mesmo com você dentro do meu coração.
Fim.
Lindo contoo! Estou esperando mais, hein?rsrs
Beijinhoos!
Adorei, acho que merece até uma continuação, ou um novo conto no mesmo seguimento…
Você me fez entrar na sua história, até a caixinha eu visualizei em minha mente, esse é o dom do escritor não é mesmo? Parabéns!
Ah, eu adorei!
Sabe que eu me identifiquei com o seu conto? Amei de verdade! Consegui visualizar tudo e mais um pouco! Parabéns e continue sempre assim! *-*
Me maravilhei com a compatibilidade do seu texto com meu livro. Lembranças… só vai nos restar isso. Realmente. Amei Lari ♥
Ficou simplesmente perfeito. Sabe quando tu se identifica com algo, e que esse algo está passando por sua vida? Pois então, acredito que o que falta, é fazer como no conto, guardar a caixinha, qe na realidade não existe, e fazer o mesmo com ela no coração. O problema é saber se é o que devo.
Enfim, chega de desabafo. Ficou realmente muito bom. Parabéns Larissa.
Fim de relacionamento é tão ruim, ne, tão ruim que a gente fica adiando o fim…ai vc me vem com essa frase do amor não dura pra sempre…palhaçada esse amor, ne hahaha.
Pura verdade tudo o que vc escreveu, e só quem passou por isso sabe como a caixinha é importante.
bjuss
Ahh
que lindo Lari!
Sabe, eu concordo! Fim de relacionamento é triste e sempre alguem sai machucado, mas acho que o durante não devia ser tão ruim, são momentos que passamos e se não faz mais parte da vida atual, não significa que nunca deveria ter acontecido!
bjss
Hey Evellyn!
Lindo!!
Incrível como vc consegue descrever o que passa na cabeça de alguém nessa situação!
Adorei!
Bjos.
Andresa.