Recomeçar – Parte I

Fazia tempo que eu não postava um conto por aqui, né? Então resolvi tirar a poeirinha chata pós-dia-dos-namorados pra trazer outro conto meu pra vocês.

A partir de hoje, convido vocês a embarcarem na história da Babi, que depois de 10 anos de namoro acreditando ter encontrado o amor de sua vida, se vê deixada para trás, desolada e amarga, juntando os caquinhos do próprio coração. Recomeçar àquela altura do campeonato parecia completamente improvável, mas o destino (se é que se pode chamar assim) sempre dá uma forcinha quando menos se espera…

Vamos lá? 🙂

          Uma vez, eu li em algum lugar que quando se encontra o amor verdadeiro, automaticamente a gente sabe. Talvez não esteja completamente consciente disso, mas lá no fundo, sabe, porque o coração não erra, e blá, blá, blá.
          Hoje, eu queria mais do que tudo dar uma porrada na cara do retardado que inventou essa filosofia. Definitivamente, quem teve essa epifania nunca, nunca mesmo se decepcionou com alguém.
(Dez Anos Antes)
Eu tinha quatorze anos, e ele dezesseis. Eu estava na oitava série, ele, no segundo colegial. Eu era uma pirralha apaixonadinha, e ele era o garoto mais fofo de todo o colégio. Naquele lindo e colorido ano de 2000, tudo era perfeito.
Eu sempre ria das minhas amigas quando elas diziam que ele era afim de mim. Tipo, porque ele, Jorge Luiz Mira, também conhecido como “o cara mais gato do segundo ano”, seria afim de mim? Mas eu vi que estava errada quando, numa festa de aniversário de algum amigo em comum, ele chegou pra conversar comigo.
Hoje eu consigo perceber que claramente ele estava bêbado. Eu podia sentir o cheiro da cerveja. Mas sabe como é, uma garota apaixonada é capaz de mudar todas as informações de uma única cena da sua vida pra que todo o resto faça sentido dentro do seu mundinho irreal e perfeito. Por anos, ignorei o fato de que muito provavelmente o primeiro contato só havia acontecido porque ele estava completamente fora de si. Mas não interessa. O que interessa, foi que naquela noite, a gente se beijou.
Na semana seguinte, ele fingiu que eu não existia. Eu, ao invés de agir como uma garota normal de 14 anos e me entupir de chocolate enquanto chorava rios de lágrimas pela indiferença dele, fiz o que toda garota devia fazer e insisti nele até que consegui o que queria. Hoje, pensando melhor, acho que o venci pelo cansaço. Ele deve ter ficado com pena de mim e pensado “ah, vamos lá, vou dar trela pra essa imbecilzinha pra ver se ela para de encher o meu saco”.
E, tudo bem, acho que no fim das contas eu realmente consegui conquista-lo. Não acho que tenha existido qualquer outra razão pra nós começarmos a namorar. Nem ele seria assim tão filho da mãe.
(Cinco Anos Depois)
Em 2005, quando já namorávamos a 5 anos, decidimos ficar noivos. Eu quase morri do coração quando isso aconteceu.
Mas, ao contrário de todas as minhas lindas expectativas de menininha, ele não me pediu em casamento, não me deu um anel de diamantes nem tentou provar seu amor por mim propondo noivado na frente de um monte de gente desconhecida. Ele simplesmente trouxe a aliança pra minha casa numa sexta-feira à noite e o noivado foi celebrado com pizza e vinho tinto que a minha mãe guardava há sabe-se lá quanto tempo na despensa.
Então o assunto “noivado” foi pra gaveta.
Junto com mais um milhão de outras coisas.
(Uma Semana Atrás)
Já fazia um tempo que a coisa estava estranha entre a gente. O meu Jorge simplesmente deixou de ser quem era, e se tornou um cara que não me ligava, não me dava satisfações e não se preocupava comigo.
Eu sempre fui do tipo que evita encrenca. Morria de medo de perde-lo, porque pra mim, o Jorge sempre foi tudo; meu ar, minha vida, a razão pela qual eu acordava e o único motivo pelo qual eu ia dormir. Então é óbvio que quando ele veio falar comigo, depois de mais de um mês agindo como um completo estranho, eu imaginei que a culpa fosse minha.
– Babi… – ele pegou na minha mão, e eu senti meu coração rachando aos pouquinhos. No mesmo instante, tive vontade de chorar.
– Fala. – murmurei. Nem sei se ele escutou. O Jorge sequer estava olhando pra mim.
– Eu to indo pra Espanha.
Oi?
Como é que é?
VOCÊ TA INDO PRA ESPANHA E VAI ME LARGAR AQUI SOZINHA?
Não, eu não disse nada disso. Vontade não faltou, mas eu estava sem ar. Então o Jorge continuou falando, ignorando o fato de que eu estava total e completamente boquiaberta.
– Surgiu uma oportunidade, e eu vou pra lá no próximo mês a trabalho. Eu sei que você deve estar se perguntando “mas e eu”, e sério, Babi, não quero mesmo te magoar, mas acho que você também já percebeu que a coisa entre nós dois não ta rolando, né?
– Mas… – consegui dizer – A gente não ia… se casar?
– Íamos? A única coisa que a gente fez foi noivar… e até hoje não entendo porque. Nós não temos nenhum futuro, Babi. Nós queremos coisas diferentes pra nossa vida.
– Tipo o que?
– Você quer casar, ter uma casinha colorida e ser feliz pra sempre. – ele passou a mão, desajeitado, pelos cabelos castanhos sebosos – E eu… eu não sei se eu quero isso. Quero o meu espaço, liberdade, eu quero poder escolher qualquer coisa, sabe?
Naquele momento, eu percebi que eu não conhecia meu próprio noivo.
– E você precisou de dez anos pra perceber isso? – perguntei, com aquela expressão de quem tomou um soco no estômago. Era como eu me sentia.
– Não. No começo, achei que podia ter tudo o que eu queria com você. E ai eu fui percebendo que você não é o tipo de mulher pro tipo de cara que eu sou.
OUCH.
Tipo, doeu.
Muito.
Quase como ser atropelada vinte vezes seguidas por um trator rural. Talvez um pouco mais intenso.
– Você ainda é nova, é linda, sua vida vai seguir em frente ainda melhor sem eu pra te atrasar. – ele me deu um beijo no rosto e me abraçou – Vai ser melhor desse jeito.
Quando ele foi embora naquele dia, eu nem pude acreditar.
Achei que fosse morrer. Não havia chão, nem ar, nem motivo pra dormir ou levantar no dia seguinte. Eu não tinha mais nada.
Apesar de tudo isso, a vida continuou.
Se é que aquilo era continuar. A primeira semana passou, e tudo o que eu fiz foi seguir na minha rotina diária tentando ao máximo ignorar o fato de que tudo à minha volta estava aos pedaços. Mas, por mais que eu levantasse, comesse e trabalhasse, não estava tudo bem. Tive que incluir na minha rotina uma horinha pra dedicar ao choro, por mais infantil que pudesse parecer. Um alívio para o peito, um momento pra não fazer nada além de me lamentar.
E assim, segui.

(continua…)

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