Recomeçar – Parte III

Antes de vocês lerem a terceira parte, tenho algumas novidades pra contar! 😀

– Tem enquete nova ali no lado direito da tela, viram só? É pra escolher o tema do meu próximo vídeo! Votem nas sugestões que mais gostarem, ou sugiram algum tema da sua preferência 🙂 Aqui o que vale é a vontade do leitor XD

Só até domingo todo mundo que adquirir seu exemplar de As Bruxas de Oxford (seja impresso ou em e-book) vai receber de brinde o PDF com os 3 primeiros capítulos de O Coração da Magia, segundo volume da série! É só clicar em Lojinha ali em cima e se esbaldar!

E agora, ao que interessa! Antes de partir pra terceira parte, leia também as partes um e dois 🙂 Divirtam-se!


– Sabe, eu devo ter batido a cabeça quando deixei você me ajudar. Sério mesmo.
Estávamos no quarto da Ingrid, e eram pouco mais de dez da noite. Numa sexta-feira normal, eu estaria em casa, abraçada ao Jorge, assistindo um filme, e quase cochilando.
Mas essa era a primeira sexta-feira da minha “vida nova”, como a Ingrid decidiu chama-la. Uma vida que, pelo visto, incluiria noites acordada, muita maquiagem, sair com pessoas que eu não conheço, roupas brilhantes e minissaia.
MINISSAIA.
Tipo, eu nunca usei uma minissaia na vida.
Quando reclamei disso pra Ingrid, ela esbugalhou os olhos, sacudiu aquela cabeleira absurdamente negra e brilhante dela e continuou me arrumando.
– Pra tudo tem uma primeira vez. – ela disse.
Ok. Mas a minha primeira minissaia tinha que vir aos 24 anos?
– Onde nós vamos mesmo? – eu quis saber. Ela estava me maquiando com toda a atenção e cuidado. Eu estava me sentindo uma criança de quatro anos.
– Só num barzinho com uns amigos.
– Amigos de quem?
– Meus, né. Porque eu sou provavelmente a sua única amiga.
– Claro que não. Eu tenho um monte de amigos.
– Tipo?
Demorei um pouco pra responder.
– A Leia, e a Ana que estudaram comigo… – eu praticamente desenterrei essas duas, não falava com elas havia anos – A Paula que era minha colega na faculdade… – estava morando no Paraná, mas eu não citei isso – A Marta que fez estágio comigo…
– E onde está esse povo todo?
– Ah… por aí. Sabe como é a vida, né?
– Sei… – ela suspirou – Você já reparou como se afastou dos seus amigos nos últimos dez anos?
Eu não respondi. E ela nem esperou pra ver se eu ia responder qualquer coisa, e saiu falando.
– Tipo, você se isolou no seu mundinho com o Jorge, e a sua vida se resumiu a isso. – ouvi ela fechando o estojinho de sombras, e abri os olhos. Ela não parecia me dar uma bronca, estava apenas expondo os fatos – É por isso que foi tão duro pra você ter terminado com ele. Não é porque você passou a vida inteira com o cara, não só por isso. É porque você dedicou a sua vida inteira a ele e esqueceu de você mesma.
De novo, eu fiquei quieta. Tipo, o que eu poderia dizer? Ela tinha toda razão.
Por um lado, eu não me arrependia. Eu tinha sido feliz com o Jorge, então isso significava que tinha sim valido a pena ter jogado dez anos da minha vida fora. Mas por outro lado, agora que eu me via sem ele, percebia que a minha vida sem o Jorge simplesmente não havia existido, e a culpa era toda minha. Eu não tinha aproveitado absolutamente nada dos meus melhores anos. Eu não tinha vivido.
Mas agora, pelo que a Ingrid estava me dizendo, eu ia viver. Ela ia me ensinar. Eu não estava especialmente animada, mas resolvi me deixar levar. Afinal, eu não tinha nada a perder.
– Mas com uma condição: – eu implorei, pouco antes de sairmos – Me deixa tirar essa minissaia.
É claro que ela não deixou. E eu fui mesmo assim.
Eu devia ter pedido a ela que me definisse “barzinho”. Porque o que ela me disse que seria apenas um encontro de amigos pra beber uma cerveja e bater papo, virou na verdade um início de happy hour que terminou na mais louca balada que você possa imaginar.
O que é realmente bizarro é que, aos 24 anos de idade, eu nunca tinha pisado numa balada. Então eu não fazia a menor idéia do que estava fazendo.
Aparentemente, não saber o que está fazendo é uma coisa perfeitamente comum entre absolutamente todo mundo que vai numa balada. Pra começar, que inferno de nome é esse, “balada”? Em segundo lugar, como classificar um lugar cheio de gente muito mais nova que eu, muito mais magra e muito mais bonita? Havia uma fila de espera pra entrar absurda do lado de fora, mas aparentemente o amigo do amigo da Ingrid conhecia o irmão do segurança que nos deixou passar na frente. Ou qualquer coisa assim.
Lá dentro, a música estava absurdamente alta – eu já citei que odeio profundamente música eletrônica? – e o padrão meninas-de-minissaia era dominante. A Ingrid se sentia tão em casa que fiquei me perguntando se ela fazia aquilo todos os finais de semana da vida dela. Todo mundo estava com um copo de bebida na mão, jovens dançavam loucamente, casais se pegavam nos cantinhos, e eu estava me sentindo tão deslocada quanto se eu tivesse colocado a minha bisavó Marieta pra entrar comigo ali.
A única alegria eram os amigos da Ingrid. Eles eram todos muito legais. Conosco estavam o Yuri, a namorada do Yuri, o Fábio, o amigo do Fábio (aquele que nos botou pra dentro), o Marquinhos (que eu descobri ser, na verdade, o grande peguete da minha melhor amiga, de quem ela sempre me falava sem nunca citar nomes), a Julieta, a irmã da Julieta e o Gustavo.
Todos eles eram super divertidos, e, tal como a Ingrid, pareciam se sentir em casa. Mesmo tendo acabado de me conhecer, me tratavam como se eu fosse da turma já a séculos, e isso me ajudou a não me sentir tão deslocada. Todo mundo ria e conversava, fofocava e falava aleatoriedades. Ou quase todo mundo. De um lado, quase sempre quieta, havia eu. Do outro, olhando pro nada, havia o Gustavo.
Ele estava tão quieto quanto eu desde o exato minuto em que havíamos entrado no carro. Talvez até antes. Ele mal ria e mal respondia quando alguém falava com ele. Não parecia bravo, apenas… distraído. De um jeito triste e pensativo.
Eu já ia perguntar pra Ingrid qual era a dele, quando ela teve essa idéia brilhante de me passar um copo de bebida – sabe-se lá Deus o que tinha naquele copo! – e me puxar pra dançar. Foi ai que o pesadelo realmente começou.
Fica a dica: nunca, jamais deixe que seus amigos peguem bebidas pra você numa balada. Principalmente se a amiga em questão for a Ingrid.
Eu estava bêbada antes das três da manhã. E acredite, isso não é um bom sinal.
Acordei no dia seguinte com um tambor no lugar da cabeça. Precisei de pelo menos dez minutos pra conseguir ficar de pé e abrir os olhos. Eu estava no quarto da Ingrid e ela não estava lá.
Sai do quarto e fui em direção à sala. Num sofá, ela estava dormindo de conchinha com o Marquinhos. No outro, estava o Gustavo, e, num colchão no chão, estavam a Julieta e a irmã dela. Fui pra cozinha, que eu conhecia tão bem quanto a minha própria, tomei um gole de água, e voltei pra cama.


(continua…)

2 thoughts on “Recomeçar – Parte III

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *