Pelos nossos velhos tempos

Há já alguns meses, foi anunciado que a famosa girlband brasileira Rouge faria uma turnê especial em comemoração aos dez anos de criação da banda. E ontem, foi anunciado que segunda-feira a primeira música de re-união (ainda que provisória) dessas meninas será lançada.
Gritei muito em um momento de fangirlice. E aí alguém me solta uma do tipo “não acredito que você ainda gosta disso”.
E por que eu não gostaria, pensei? É uma coisa que fez parte da minha vida. Que marcou a minha vida. Não posso simplesmente fazer de conta que isso não existiu.
E aí me dou conta de que a gente – eu, você e todo mundo – faz isso às vezes. Passa por cima dos velhos tempos. Ignora o que viveu, o que amou, as coisas que fizeram de você o que é hoje. E agora, pensando bem no assunto, eu não vejo nenhum propósito pra isso.

Afinal, ter vergonha da pessoa que a gente foi um dia – e, consequentemente, de todas as coisas que inevitavelmente fazem parte deste pacote – é, de certa forma, sentir vergonha de quem você é hoje. Tudo o que a gente vivencia é um caminho pra crescermos e nos tornarmos as pessoas que somos. E eu só sou essa Larissa agora porque fui aquela Larissa no passado.
Relembrar os velhos tempos sem ter vergonha de ser feliz não é um atestado de infantilidade, nem uma tentativa desesperada de não crescer nunca mais; muito pelo contrário. É no abraças das boas lembranças que a gente enxerga a própria maturidade, as próprias mudanças. É encarando com um sorriso aqueles gostos infantis que a gente entende certas preferências e hábitos da nossa vida atual. E é só nessa nostalgia que a gente se dá conta de que viveu. E viveu bem. E muito. Viveu coisas que valem a pena serem lembradas, curtidas, apreciadas.
Então se alguém me perguntar se eu “ainda gosto disso”, a resposta será sim. Pro Rouge, pro Kinder Ovo, pros desenhos animados nas manhãs de sábado. Eu ainda gosto disso, porque ainda gosto da sensação que isso me traz – aquele calorzinho confortável de uma memória feliz, uma sensação inacabável de saudade que só uma música incrivelmente velha e uma sessão de Tom e Jerry são capazes de aplacar. Ainda gosto disso, do mesmo jeito como ainda gosto de ler e de escrever, como ainda gosto de um cafuné da minha avó e de andar descalça sobre o tapete da sala – foram essas coisas bobas e loucas, às vezes até potencialmente embaraçosas, que fizeram de mim quem eu sou. E eu ainda gosto de quem eu sou.
Um brinde às crianças que fomos, aos jovens que somos e aos velhos que seremos. Pelos nossos velhos e eternos bons tempos.

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