Algumas das minhas melhores lembranças de infância remetem a coisas que, pra qualquer criança de hoje em dia, já poderia ser considerado arcaico. Naqueles tempos distantes da década de 90, quando não tinha wi-fi nem PlayStation 3, antes da invenção do download de MP3 e da popularização do Torrent, a vida era completamente diferente.
Perdi as contas de quantas vezes travei verdadeiras guerras familiares pra poder usar o computador por mais do que a hora diária permitida a cada um dos filhos aqui dentro da minha casa. Não tinha trabalho de escola que fizesse minha mãe ser mais flexível – é uma hora pra cada um e ponto final. E se ela precisasse usar o telefone? Desliga o cabo da internet e não tem chororô que a convença do contrário. Não importa se você passou dez minutos ou uma hora pra conectar a dita cuja. Os “pulsos” na conta de telefone eram caríssimos, e ela não teria piedade.
Mas então haviam os finais de semana. Ah, os lindos finais de semana, de internet liberada. Liberada? Só depois da meia noite. Isso se a mamãe não encrencar com o “o-ou” do ICQ ecoando pela casa. Melhor não. Preferia ir pra casa do meu primo, tentar zerar o Super Mario.
Mas a fita não queria pegar, e aí a gente precisava apelar. Já passou borracha? Já assoprou a fita? Já assoprou o console? Já apertou o reset 68 vezes, empurrou a fita, fez macumba com o controle? Então deixa. Vamos assistir um filme?
Olhávamos na estante da sala, e todas as nossas fitas preferidas de desenhos da Disney estavam mofadas. Droga, eu queria muito rever Mogli! Bom, vamos no cinema. Saímos, sob 130 recomendações das nossas mães, com a enorme fortuna de 10 reais na carteira. Vamos no cinema, comemos pipoca, tomamos sorvete. Ligamos a cobrar do orelhão do Shopping pra pedir uma carona de volta pra casa – afinal, quem é que tem um celular antes dos 14 anos de idade? Meu irmão só ganhou um aos 16!
Quando por fim chegamos em casa, pegamos a caixa de Lego – daquelas antigas, de peças enormes – e tentamos montar um robô, enquanto assistimos o Show do Milhão na TV. E no dia seguinte, começa tudo de novo.
São lembranças assim que me fazem sorrir ao pensar na minha infância. Perto do que temos hoje, a gente não tinha nada naquela época, e se virava com o que tinha disponível. É quase inimaginável agora, de tão distante, mesmo em tão pouco tempo. E apesar de eu sentir falta… bom, vamos deixar como está, né?
(inspirada por este artigo aqui)
Hahaha adorei o texto!!
Fico pensando, essas crianças/adolescentes de hoje não terão essas mesmas lembranças maravilhosas que nós. Não poderão colecionar os brindes do Kinder Ovo que na nossa época era cerca de 1 real. Não ficavam esperando rebobinar a fita vhs pra devolver pra locadora. Ai, são inúmeras lembranças maravilhosas, lembrei agora da vez que descobri que tava com catapora, foi numa locadora de fitas de videogame, e eu e meu irmão sempre soprávamos pra fazer funcionar hahaha
Adorei recordar e ler seu texto.
Beijos!
Lembro que o pulso mais barato (R$ 0,08/chamada) era de sábado, 14hs até segunda, 6hs. Finalmente podia ficar conectado o tempo todo pagando baratinho. Ótima nostalgia Larissa. Beijão.