Durante todo o mês de novembro, aconteceu o NaNoWriMo – National Novel Writing Month – um evento anual onde escritores (iniciantes ou não) do mundo inteiro se desafiam a escrever um livro de 50 mil palavras em um mês.
Eu já tinha ouvido falar do NaNo muitas vezes antes. Em algum ano anterior, cheguei a me cadastrar no site e cadastrar uma história, mas não levei a coisa a cabo. Esse ano, aos 45 do segundo tempo, decidi que ia tentar. Precisava de alguma coisa diferente, alguma coisa que me desse vontade, um gás novo; por que não?
Eu poderia ter sido uma das “rebeldes” do NaNo e escolhido encarar o desafio com um livro já começado, mas achei por bem começar tudo do zero. Tem alguma coisa instigante em iniciar uma história nova, aquela vontade dos primeiros capítulos que te faz escrever e escrever sem parar, e era isso que eu queria. Estava meio pra baixo com todos os meus projetos já começados, e não queria entrar no NaNo já bodeada do que ia escrever.
Sendo assim, desenterrei uma antiga ideia, que tem o título de Crônicas do Submundo – embora não tenha nada de crônicas nela – sobre uma garota que se comunica com fantasmas e está trancada num sanatório. Fim. Essa era a minha premissa, e eu sabia muito pouco sobre a história ou sobre os personagens além disso e do fato de que, na minha cabeça, a história se passava em 1950.
Desde o começo, portanto, eu já tinha uma série de questões pra me atrapalhar; eu estava começando umaenquanto estava escrevendo. O que antigamente não seria um problema pra mim – eu costumava começar livros ou contos com muito menos do que isso – acabou se transformando num elefante que eu não conseguia ignorar. Me acostumei a pensar dias, semanas até, antes de sentar pra escrever. Me acostumei a conhecer meus personagens, a traçar alguns planos de ação, a saber o rumo de pelo menos metade da história antes de deixar as coisas fluírem. É impressionante a diferença que isso faz.
história nova, completamente no escuro, sem tempo pra nenhum planejamento e tendo que fazer toda a pesquisa relacionada
Idealmente, o NaNoWriMo não se trata de escrever as tais 50 mil palavras; não se trata, tampouco de escrever um livro bom. A ideia toda acerca do desafio é instigar os autores a escreverem todos os dias, independente da quantidade ou qualidade do produto, pra “correr atrás” de uma meta dentro de um prazo. Pra quem não é muito disciplinado, como eu, isso é ainda mais assustador. Mas eu achava que podia dar conta, e certamente queria tentar. Nunca me iludi achando que fosse conseguir as 50 mil palavras, mas tinha me proposto um limite mais razoável de 20 mil. Não é tanto assim. Dá pra conseguir.
Nos primeiros dias, a coisa foi mais manejável. Escrevi bastante nos primeiros três dias (cerca de duas mil palavras por dia), e fui reduzindo consideravelmente essa quantidade nos dias seguintes, me mantendo entre
as 500 e as mil palavras a partir daí. Chegar até os 10 mil foi um sacrifício. Depois disso, não conseguia progredir muito mais. Cheguei ao final dos trinta dias com um pouco mais de 12 mil.
Achei que fosse ficar um pouquinho mais decepcionada, mas não fiquei. Sei que o meu “mau desempenho” foi um reflexo de várias coisas – da indisciplina, da preguiça, da falta de rumo e conhecimento sobre a história, do excesso de pesquisa que me tomou tempo demais, e dos meus próprios compromissos acadêmicos que me renderam muitas palavras escritas fora do livro inscrito. Além disso, eu não terminei o NaNo de mãos vazias. O desafio me ajudou a escrever de maneira mais despreocupada e a não colocar tanta pressão psicológica sobre outros projetos em andamento, e realmente me fez escrever todos os dias, independente de serem cem ou mil palavras.
Espero conseguir continuar aplicando essas coisas daqui pra frente, e que eventualmente escrever com despreocupação se torne fácil de novo. Quanto às Crônicas do Submundo, continua em aberto, naquele limbo de histórias ainda sem futuro, na gaveta entreaberta até a hora em que alguma coisa me fizer abri-la de novo.
Larissa, eu me inscrevi no NaNo esse ano, mas, por pura indisciplina, nem sequer comecei a escrever. Coloquei a culpa na faculdade, no curso de Inglês, na vida, e acabei sem produzir um só parágrafo :/
Estou aproveitando os primeiros dias de férias para fazer um curso online de Escrita Criativa ofertado gratuitamente pela Universidade de Potsdam. Você já ouviu falar? Se chama The Future of Storytelling. Estou no comecinho, mas já estou adorando!
Fantástico! Gostei muito da publicação, e o melhor foi que você não conseguiu escrever as 50 mil palavras, mas tirou proveito disso. Larissa, você é brilhante.