Eu já tinha falado um pouquinho sobre a importância de revisar lá na coluna de dicas de escrita do blog da NRA (não viu? Clica aqui). Revisar é um importante passo do processo criativo, porque permite que o escritor melhore sua história, seu estilo, sua escrita… Basicamente, livro nenhum fica pronto sem uma boa dose de revisões. No plural. Pois é.
Mas revisar não se trata só de ler e excluir milhares de coisa e acabar reescrevendo o livro inteiro. Autocrítica é essencial pra saber separar joio do trigo, e se empolgar demais pode acabar resultando num processo infinito de edições de texto que só irão complicar a sua vida. Então hoje eu reuni algumas diquinhas que eu, particularmente, julgo mais úteis na hora de revisar um texto, pra passar aqui pra vocês 🙂
Peça pra outra pessoa ler antes de revisar;
“Leitura Beta” é o nome comumente dado a essa ação. Todo escritor costuma ter pelo menos um leitor beta na vida. E o que essa pessoa faz?
Basicamente, o leitor beta vai ler o livro na sua primeira versão e te dar um olhar externo sobre a sua história. É comum que, mesmo meses depois de terminar um livro, a gente esteja emocionalmente ligado a certos pontos e acabe ignorando defeitos de enredo em nome do nosso sentimento pessoal. Um leitor beta não tem esse problema – ele não escreveu, portanto, ele não vai se importar com nada e vai poder te dizer o que está legal e o que precisa ser mudado. Muitas vezes, o leitor beta é quem descobre inconsistências de enredo, buracos de continuidade ou levanta perguntas que você esqueceu de responder ao longo da narrativa – tudo mais que essencial pra sua história se fechar direitinho.
NOTA: é importante que o leitor beta seja uma pessoa extremamente sincera e que nunca, sob nenhuma hipótese, vá te dar uma opinião só pra te agradar. Existem pessoas que prestam o serviço de leitura beta profissionalmente (sob um pagamento, claro), mas todo mundo tem aquele amigo que te fala que a sua roupa está feia, ou quando o seu corte de cabelo não ficou legal. Essa é a pessoa que você está procurando!
Espere alguns meses antes de revisar;
Terminou o livro agora? Seu beta já terminou de ler? Ótimo. Vá tomar um café e esqueça o texto. Deixe passar pelo menos uns três meses antes de revisar. Desse jeito, você terá esquecido bons pedaços da história e poderá reler com um ar mais externo do que se iniciasse a revisão logo de cara.
NOTA: Isso vale também entre revisões. Emendar uma coisa na outra nunca é legal. Dê um tempinho!
Não edite durante a primeira leitura;
A revisão tem várias etapas, e a primeira delas é: reler. Depois de dar seu tempo e de ter o feedback do(s) seu(s) leitor(es) beta, abra seu arquivo (ou pegue seu caderno, vai saber) e releia sem mexer em nada. Assim você vai ter certeza de que a edição que está fazendo no capítulo 1 não vai destruir completamente o objetivo do capítulo 12 e por aí vai. Vale também tomar notas, enquanto relê, de coisas que você pretende mudar – um diálogo, uma ação, uma cena que pode ser excluída… Tudo pra facilitar a sua vida depois. Isso também vale entre revisões – relê, edita, pausa, relê, edita, pausa, relê, edita, pausa…
NOTA: o Word tem um recurso de revisão que permite adicionar comentários ao lado de trechos grifados. É uma ótima pedida tanto pra fazer leitura beta quanto pra fazer essa primeira revisão. É só ir na aba “REVISÃO” que tem no topo do programa, selecionar um trecho e clicar em “ADICIONAR COMENTÁRIO”. Aí você pode colocar notas pra si mesmo, pra não esquecer de nada quando for editar de fato.
Guarde tudo que for excluído;
Acho essencial ter uma pastinha, ou um novo arquivo, em que eu guardo tudo que estou excluindo do arquivo original. Afinal, eu estou editando agora, mas talvez na próxima revisão eu mude de ideia, ou precise resgatar alguma coisa pra que o enredo volte a fazer sentido. Se você preferir, também pode salvar uma versão diferente do seu livro a cada nova edição, como se abrisse um novo arquivo – dessa forma, você tem todos os “fantasmas” das “vidas passadas” do seu projeto pra consultar quando quiser.
NOTA: quem usa o Scrivener (eu falei dele nesse vídeo aqui) não precisa nem se preocupar com isso, porque o programa automaticamente salva as várias versões do projeto. É uma das várias vantagens de utilizá-lo!
Não tenha piedade;
Nem do texto e nem de si mesmo. Pode ser que aquela cena que você tanto adorava não se encaixe mais na história, ou que aquele personagem super fofo não seja necessário e precise ser cortado. Corte. Edite. Faz parte. Um livro precisa de cenas que adicionem algo à sua trama, e se algum personagem ou cena não traz nada pra história, ele pode e deve ser excluído. E pode ser que você precise revisar o livro 20 vezes antes de se sentir confortável com ele, antes de reler e sentir que não há nada que você gostaria ou precisaria mudar. Aceite que isso faz parte do seu trabalho, jogue a autopiedade pra lá e faça o que tem que fazer.
NOTA: não confunda necessidade com autocrítica. Muitos escritores nunca acreditam que o livro está bom o suficiente não por uma questão de necessidades da trama, mas por não acreditarem no próprio potencial. Confie no seu taco. Se não conseguir, peça ajuda pro seu leitor beta. Um olhar de fora faz toda a diferença, e pode te ajudar a ver a hora certa de parar.
Por hoje é só 🙂 Espero que tenha sido útil 😉
Beijos pra vocês!
Muito bom o post, esclareceu bastante, Larissa!
Eu, particularmente, acho legal o Google Drive para escrever. Ele também guarda todas as revisões e permite comentários em qualquer trecho.
Abraços!
Ótimo post Larissa!!!
HEhe. EU tenho um seríssimo problema de autocrítica. De verdade, e odeio isso.
obrigada pelo post, me ajudou bastante.
olá … tenho dois livros prontos…preciso de revisão e leitor beta…pode indicar-me? grato e muito sucesso.
cleyroutbg@gmail.com
Parabens, pelo post muito esclarecedor
Gostei!!! Muito bom!!
Adorei o post, e gostaria de dizer, que sou revisora, se precisarem.
Jessycamonte4@gmail.com
Extraordinário …..
Posso apresentar no seu blog o meu site/trabalho de Revisora Linguístico-textual?
Fantástico este post, Larissa.
Minha dica preferida dessas aí é "Não edite durante a primeira leitura". Trabalho com muitos autores que não conseguem "ir adiante" pois não resistem à revisão enquanto escrevem a primeira versão. Isso é mortal para o escritor.
Além disso, a revisão é essencial, mas é preciso colocar seu crítico interior no lugar dele. Isso é fundamental.
Também elaborei um roteiro de revisão, caso interesse: http://rusga.com.br/revisar-um-livro/