O Diário (nada) Secreto – Capítulo 13

Conheça O Diário (nada) Secreto

Capítulo 1 – Recepção Calorosa


Capítulo 2 – Jogo de Interesses

Capítulo 3 – As sete coisas que não se deve fazer em uma festa

Capítulo 4 – A semana seguinte

Capítulo 5 – Cíúmes

Capítulo 6 – Proibido é mais gostoso

Capítulo 7 – Quem tem medo do lobo mau?

Capítulo 8 – Verdades e Declarações

Capítulo 9 – Junina

Capítulo 10 – Beach, Bitch!

Capítulo 11 – Dia dos Pais Mal Assombrado

Capítulo 12 – Letra e Música

Capítulo 13 – Não aprendi a dizer adeus

Setembro chegou. E com isso, eu sabia o que viria. Eu e Bela sabíamos.
Ela não mostrava, mas eu sabia que por dentro, ela estava acabada. Dava pra ver quando ela me olhava por tempo demais que tudo o que ela queria era morrer ou algo do tipo. Ela tinha esperado por tanto tempo pra conseguir – com uma ajudinha básica – o cara d quem ela sempre gostou, e agora ele estava indo embora.
E não havia nada que ela pudesse fazer sobre isso.
Por mais que eu quisesse fazer com que ela se sentisse melhor, eu não conseguia. Tampouco conseguia sofrer com ela, quando tudo estava indo tão relativamente bem pra mim. Eu e o Edson com a nossa amizade retomada indo melhor do que nunca, Giovanna fora do meu pé, a Sabrina preocupada demais em escrever e cantar com o tal do Kauê e todos os meus outros amigos bem com as suas vidas. Até mesmo a Lana e o Diego tinham se resolvido – de novo.
Talvez eu fosse uma má amiga por isso. Por não compartilhar um pouco da dor dela, quero dizer. Eu sempre senti que amigas deviam dividir e sentir tudo ao mesmo tempo, mas como isso era possível quando eu estava feliz?
Isso não me impedia de tentar levanta-la, claro.
Nem de levar um “não” bem grande na cara cada vez que eu tentava.
Mas podia ser pior. Pelo menos eu tentava.
Até aquela sexta-feira fatídica em que eu subi no ônibus e ela estava com cara de quem ia explodir. Essa não.
– O que foi? – já fui logo perguntando. Era engraçado como a gente sabia quando a outra não estava legal.
Não que não fosse óbvio na cara dela naquela manhã especificamente. Na verdade, era tão óbvio que até doía.
– Amanhã vai ser a festa de despedida do William. – ela soltou, baixinho.
E antes que eu pudesse perceber, ela já estava no meu colo, chorando como um bebê.
Era meio… engraçado ver a Bela chorar. Não era algo que acontecia com muita freqüência, e eu achava meio comigo o jeito como ela fazia um beicinho e enrugava os olhos, e suas bochechas ficavam enormes e vermelhas, mais vermelhas que os seus olhos inchados.
Só que agora, não tinha graça nenhuma. Se antes eu me sentia ruim por não partilhar da dor dela, então agora eu estava recebendo um castigo. Toda a dor dela estava em mim, e eu queria chorar junto. Sem querer, me imaginei no lugar dela, se o Edson estivesse indo pra outra cidade, pra longe de mim.
Não. Não ia ser nada engraçado. Definitivamente.
E o pior era saber que nada que eu pudesse pensar em dizer ajudaria em alguma coisa. Não havia consolo – como geralmente não há. No fundo, a gente sempre sabe, quando está consolando alguém, que consolo é uma coisa inútil, e que a única solução é deixar que as pessoas chorem tudo o que precisem chorar e gritem e desabafem o que as está deixando daquele jeito. Palavras nessas horas não servem pra nada. Palavras não tiram a nossa dor.
Além de que é óbvio que, quando se trata da Bela, qualquer coisa que eu dissesse se transformaria num caminhão desgovernado aos seus ouvidos distorcidos pela tristeza. Se eu tentasse dizer algo do tipo “eu entendo”, talvez ela voasse no meu pescoço. É, com a Bela o melhor mesmo era ser um ombro amigo silencioso.
Então foi isso o que eu fiz. Deixei que ela chorasse. Quando chegamos à escola, ela parou e limpou na manga do casaco as lágrimas, deixando uns rastros de maquiagem borrada. Não estava muito bonita, mas não seria eu a dizer isso pra ela. Eu queria estar viva por mais algum tempo.
– Vai ficar tudo bem. – eu disse, automaticamente, e ela fungou e riu da minha cara.
– Não, não vai ficar nada bem. – discordou, com a voz meio rouca e sarcástica – Mas valeu a tentativa.
Então, sexta-feira à noite, lá estávamos nós. A festa de despedida do William estava sendo no salão de festas do prédio dele – nada mais que um espaço desconfortável com umas mesas, cadeiras, um rádio com música alta e um limite de pessoas e de horário pra festa durar.
Eu estava sentada numa mesa bem no meio, e todo mundo estava conversando e zoando e bebendo cerveja. Eu nem tinha aberto a latinha que me tinha sido oferecida. Eu só conseguia me focar em vigiar a Bela enquanto ela fingia agir normalmente – fazendo ela se parecer com algum tipo de zumbi – e tentar não desviar minha atenção pra procurar pelo Edson.
– Ta sentada ai por que, garota? – a Giovanna disse, surgindo de algum lugar atrás de mim, e se sentando na cadeira vaga ao meu lado. Eu ainda estranhava a nossa amizade recém-retomada, mas estava me acostumando aos poucos.
Ainda porque, ela não me dava tempo pra me acostumar com a idéia. Ela me afogava nela.
– Sei lá. – eu respondi, dando de ombros – Tudo bem?
– Tudo certo. Tirando a Sabrina…
– O que tem ela?
Nada gentilmente, a Giovanna girou minha cabeça pro lado direito, até eu encontrar a Sabrina e o Kauê de pé, encostados na parede, conversando.
– Eu não acredito que ela convidou esse cara pra vir! – a Giovanna exclamou, soando meio amarga – Fala sério, ta muito na cara que ele não vai levar ela a sério! Tipo, a menina tem quinze anos e ele tem dezenove!
– O que isso muda? – eu perguntei, franzindo a testa.
– Eu sei lá! – ela exclamou, e nós duas acabamos rindo – Mas sério… – continuou, conforme foi parando de rir – Eu não acho que isso vá dar certo. Ele tem cara de aproveitador.
– Aproveitador? Em que século você vive.
– No século em que caras abusam de menininhas inocentes e apaixonadas como a minha irmãzinha.
– Eu acho que você só está com ciúmes porque não tem ninguém dando em cima de você!
Ela me olhou com cara de ultraje, boquiaberta, e então relaxou, suspirando.
– Talvez. – disse, me fazendo rir – Mas espere só até eu ganhar aquele concurso! Não vai ter um que não dê em cima de mim!
– Você já mandou as fotos? – perguntei – Nem me deu pra ver!
– Desculpa, a única pessoa que eu pedi pra olhar não me deu atenção! – girou os olhos e bagunçou o cabelo com a mão – Juro, a Sabrina e essa história de “letra e música” ta me tirando do sério! Não tem uma droga de segundo que ela não fale dele!
– Quem vê pensa que você era menos irritante que isso quando gostava…
Fechei minha boca de repente. Eu não sabia o quão delicado o passado ainda podia ser pra ela, nem mesmo pra mim. Ela me olhou, sorrindo.
– Do Edson. – completou – Pode falar. Isso não é mais um problema.
Eu não respondi, mas fiquei aliviada de escutar isso. Parte da tensão entre nós morreu.
– E, é, eu era realmente muito chata nessa época. – admitiu, rindo de si mesma com uma careta – Mas que bom que as coisas mudam, certo?
É.
Que bom mesmo.
Eu estava começando a ficar depressiva.
Eu sei. É ridículo. Mas só de olhar pra Bela, me dava vontade de chorar.
Pois, conforme a festa foi chegando ao final – e o Edson não tinha aparecido -, ela foi ficando mais e mais pra baixo, até que estava simplesmente incontrolável quando só havíamos eu, ela e a Lana no salão. O Willian estava se despedindo de uns garotos da escola do lado de fora, e ela sentou entre nós duas e soluçou de tanto chorar.
E me doeu. Enquanto eu a segurava, tentando acalma-la sem dizer nada, olhando desesperada pra Lana, eu sentia que também iria chorar se ela não parasse.
Só que ela não ia parar.
– Tenta ficar calma… – eu cometi o erro de sussurrar para ela.
Então a Bela se soltou de mim, se levantou e me olhou com raiva, fungando.
– Ficar calma? – ela perguntou, com a voz tão irada que era impressionante que não estivesse gritando – Tente passar por isso, Lolita. Ai você me diz se dá pra ficar calma.
– Eu só estou tentando…
– ENTÃO PARA DE TENTAR!
A próxima coisa que eu ouvi foi ela dando um grito, um grunhido sem sentido, e então quem apareceu foi o Willian em nosso socorro. As lágrimas estavam paradas, prontas pra sair, enquanto eles se afastavam.
– Não foi sua culpa. – a Lana me disse, segurando minha mão e fingindo sorrir – Ela só está nervosa. Você conhece a Bela.
– Eu nunca vi ela desse jeito. – arranjei voz pra falar, sentindo umas duas lágrimas escaparem. Respirei fundo e as recolhi com o dedo.
– Ela vai ficar melhor. Só precisa de tempo.
– Ei, Lana! – uma outra voz gritou da porta do salão.
O Edson. Bem na hora que eu mais precisava de um abraço. De um abraço dele.
– Vamos? – ele indagou, chegando mais perto de nós duas. Mas olhando pra mim.
– Claro. – a Lana concordou, se levantando – Te vejo segunda. – acrescentou pra mim.
Eu sorri e assenti com a cabeça. Ela começou a andar pra porta, mas o Edson ainda estava me olhando.
– Você ta legal? – quis saber, com uma careta.
– Sei lá. – respondi, com um suspiro.
Ele passou a mão no meu rosto e nos meus cabelos com cuidado.
– Me liga quando chegar em casa. – pediu.
Me deu as costas e começou a ir embora.
Então eu me dei conta de que eu não podia deixar ele ir embora. Não se eu tinha escolha. E se eu estivesse no lugar da Bela, e fosse o Edson quem estivesse se mudando? O que eu iria gritar? Que não queria perdê-lo?
Ele sequer era meu!
E a culpa era minha. Toda minha, porque eu estava deixando ele ir, quando estava bem ao meu alcance.
Eu era mesmo uma idiota!
– Espera! – me vi gritando, de pé e correndo até ele, que já estava na porta.
Quando o Edson virou pra trás, eu já estava com ele, segurando as suas mãos.
– Eu não sei por que eu demorei tanto tempo pra perceber. – falei, e ele fez uma careta confusa.
– Perceber o que? – perguntou.
– Que eu sou uma idiota, que tudo isso é ridículo!
– Tudo isso o que?
– Isso! – apontei pra nós dois – Fingirmos que somos amigos. Fazer de conta que não tem nada do que a gente sabe que tem. Fazer de conta que eu não quero estar com você o tempo todo, fingir que a gente precisa de um tempo fingindo mais do que a gente fingiu esse tempo todo!
Ele não disse nada. Acho que estava ocupado demais tentando assimilar tudo o que eu estava dizendo sem nem parar pra respirar.
– Eu não tenho mais nada pra descobrir sobre nós dois que eu já não saiba! – continuei – Eu gosto de você e você gosta de mim, e isso devia ser suficiente.
– Não. – ele balançou a cabeça – Não mesmo. Você ta errada.
Foi a minha vez de fazer cara de interrogação.
– Eu não gosto de você. – disse, passando uma mão pelo meu pescoço e me puxando pra perto – Eu amo você.
Então ele me beijou. Longa, intensamente. Do carro, a Lana apertou a buzina.
– Eu nunca mais vou deixar você ir. – afirmei, abraçando-o.
– Eu nunca vou querer que você deixe. – me garantiu. Beijou o topo da minha cabeça e foi embora.

2 thoughts on “O Diário (nada) Secreto – Capítulo 13

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *