#AmorPlusSize: o livro imitando a vida

Era uma vez uma garota de dezesseis anos que estava acima do peso – ou não estava? As opiniões divergiam, a dela das dos demais. Não importava; sua vida era medida em números. Os números da balança. Os números da fita métrica. Os números que diziam que ela tinha que ter. Nunca subestime a matemática da beleza, era essa a sua regra.
Ela e o espelho viviam em discordância. Um gritava uma coisa e a uma entendia outra totalmente diferente. Não entravam em consenso, por mais que tentassem. Um dia, ela parou de tentar. Reformou o quarto, escondeu o espelho. Disse que não tinha espaço pra ele ali, que não precisava dele pra nada mesmo – mentira. No dilema entre ver e fechar os olhos, era mais fácil a segunda opção. Aquela menina do reflexo brincava com os seus sentimentos, ria dela. Era ofensiva, cruel, imperfeita. Desfez-se da companhia dela, mesmo sabendo que suas amigas – as garotas nos outros espelhos da vida – não a deixariam em paz. Elas estavam em todos os lugares, as malditas, esperando pra dar o bote. Esperando ela aparecer pra lhe dizer que ela jamais seria aceita. Que ela estava errada. Ela era errada, inteira.
Um dia, resolveu parar de comer. Não assim, de uma hora para a outra – a decisão era tão inconsciente quanto consciente, falando por ela enquanto ela concordava. Pulou o café um dia. O almoço no outro. A janta no dia seguinte. Não, não quero comer, já comi na rua, vou jantar fora, estou com dor de estômago, não tenho tempo agora. Tremia e sentia dor, mas tudo bem, porque a dor purifica. A fome lhe torna digna. Ela precisa disso, mesmo que sofra. Vai fazer bem a ela. Tem que aguentar firme.
Mas ela não aguenta, e cede. E quando cede, a culpa vem, e é tão grande e tão intensa que ela se sente suja, envenenada. Põe pra fora a dor, a comida e a culpa em goles de remédio, os dedos tirando o nó da garganta. Levanta se sentindo vitoriosa, merecedora. E então começa tudo de novo.
Essa é a história de uma das minhas personagens, mas também é a minha. E talvez também seja a sua, ou a de alguém que você conhece – talvez esteja acontecendo bem debaixo do seu nariz e você não perceba, porque ninguém percebe até os limites já terem sido ultrapassados. Nem a gente se dá conta até olhar em volta e perceber que o buraco já está fundo demais.
Maitê e Duda, sua nêmesis, são duas pontas de um mesmo problema. Enquanto uma se apóia nas amizades e em si mesma pra dar a volta por cima, a outra se perde e se destrói. Nas várias questões que quis abordar com APS, acho que essa é a mais delicada; demonstrar que um mesmo problema pode surgir de raízes completamente diferentes. Que você ser tamanho 50 ou tamanho 36 não significa saúde nem estabilidade, e definitivamente não é sinal de felicidade e autoaceitação. Eu sei disso – vivi e vivo isso todos os dias. Quero que quem leia perceba isso também.
Confesso que não foi fácil. Assim como eu quase sempre escolho não falar sobre, a decisão de abordar esse mal – o meu mal – foi algo que planejei e posterguei por muito tempo. Optei por não tratá-lo como protagonista não só porque não queria que Amor Plus Size fosse um livro dramático e pesado, como por saber que ainda não estava preparada pra mergulhar tão a fundo nos meus piores momentos a ponto de transpô-los pro papel; é sempre mais fácil quando a gente olha a coisa de fora, como se não fosse com a gente. Acho que foi a decisão certa.
Ainda não tenho espelhos no meu quarto, mas já comecei a sorrir pros outros por aí. Se Maitê me ensinou que posso ser feliz sendo eu mesma, Duda me relembrou que beleza nenhuma vale o meu sofrimento. As duas, nas suas diferenças, me tornaram uma pessoa melhor. Eu espero que, em breve, possam fazer o mesmo com você.

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