Pra quem não viu nem ficou sabendo, neste fim de semana eu descobri que meu livro, As Bruxas de Oxford, foi pirateado. O raio que até então não tinha caído na minha cabeça (pelo menos, não que eu soubesse) me atingiu em cheio – lá estava o meu livrinho, no meio de dezenas de outros títulos nacionais para compartilhamento. A princípio, fiquei sem reação; e quando reagi, comecei a pensar.
Pirataria não é legal. Tenho certeza de que você já viu isso em propagandas no cinema, ou que algum autor que você conheça já reclamou a respeito. Pirataria significa comercializar um bem cultural que não te pertence sem pagar os devidos direitos autorais ao dono da obra – ou, neste caso, compartilhar sem custo algo que deveria gerar um retorno financeiro para alguém. É coisa séria. Dá cadeia. É errado pra quem compartilha, e é errado também pra quem aceita. Sabe, você pode não pensar nisso com frequência, mas existem pessoas por trás de todos os bens culturais que você consome, e elas merecem aquele direito autoral (que, vamos combinar, já é uma merreca) que você está negando a ela. Imagine se fosse você, trabalhando no seu emprego, e de repente seu patrão resolve não te pagar. Não é bacana, né?
Por outro lado, eu não vou ser hipócrita: eu também consumo pirataria. Todos os dias, eu baixo músicas sem pagar, baixo séries por sites de compartilhamento ilegal, instalo softwares com senhas craqueadas. E não é porque eu não tenho acesso – eu poderia comprar o CD, esperar o episódio na TV a cabo ou pagar pelo programa. Mas eu escolho não fazer isso. Numa esfera mais próxima do tema deste post, devo admitir que o meu Kindle está lotado de e-books, e que só uma parcela mínima deles foi comprada. Que tipo de pessoa isso me torna? Se eu me beneficio do compartilhamento de livros ilegais, como posso exigir que o mesmo não seja feito comigo? É irônico, pra dizer o mínimo.
Se, por um lado, eu não baixo nenhum livro nacional por esses meios, isso não se aplica a dezenas de best-sellers internacionais. Agora, eu sei o que vocês vão dizer: que é diferente. Que as Meg Cabots, os James Dashners e os Neil Gaimans da vida não vão sentir falta do meu dinheiro; que, se pra eles uma única compra é insignificante, faz toda a diferença na vida de Milla Wanders, Paula Pimentas e Jéssica Anitellis por aí. Você provavelmente tem o mesmo pensamento que a maioria das pessoas na hora de separar o que seria errado do menos errado: que tudo bem compartilhar o e-book de um autor famosão lá de fora, porque ele já é famoso mesmo, mas é feio fazer o mesmo com um autor brasileiro que está aí lutando pelo seu lugarzinho ao sol.
Mas é mesmo? Quero dizer, na hora que a gente vai analisar mesmo os fatores envolvidos, existe mesmo uma diferença? No duro, fora alguns milhões, o que me separa da Marian Keyes, por exemplo? Ela tem menos direito à sua obra do que eu, só porque ela é uma irlandesa famosa e eu, uma paulistana desconhecida? Ela pode ficar sem o lucro de uma venda perdida porque tem milhares pra cobrir a minha falta, mas eu, porque estou começando e porque já não ganho mesmo praticamente dinheiro nenhum, não posso? Desculpem, mas no grosso isso pra mim não faz o menor sentido.
Existe ainda um outro fator que coloco frequentemente na balança quanto a isso: a pirataria também pode ser uma ferramenta de marketing. Um método pouco ortodoxo, talvez, e definitivamente quem quer que tenha compartilhado o meu livro não me perguntou se eu estava de acordo, mas mesmo assim, é propaganda. Anos atrás, Tropa de Elite fez um sucesso estrondoso de bilheteria mesmo depois de ter “vazado” pro comércio ilegal. A produção do seriado Game of Thrones admite que boa parte do seu sucesso se deve ao download ilícito dos episódios na internet, uma vez que a HBO, canal em que é exibida, é pago. O próprio Cinquenta Tons de Cinza foi baixado um quilhão de vezes e nem por isso deixou de ficar meses seguidos na lista dos mais vendidos. A questão é que as pessoas que baixam e consomem as coisas sem pagar ainda estão consumindo. Elas vão ler, vão assistir, e se gostarem, provavelmente vão falar pros amigos. Se eu mesma sirvo como prova de alguma coisa, se encantadas o suficiente, elas farão questão de pagar por uma representação física daquela obra – um livro, um álbum, um DVD. A pirataria tira os lucros em parte, mas nem em todos os casos. Existem consumidores e consumidores. E há males que podem vir para o bem.
Como eu disse ontem inúmeras vezes, não posso falar em nome de nenhum dos autores envolvidos na dita pasta de compartilhamento (e eram MUITOS). Acho que cada um tem seu pensamento a respeito, e na posição de autor todos temos pleno direito de nos sentirmos lesados e ofendidos ao encontramos nossos livros sendo passados adiante, de graça e sem o nosso conhecimento. Da minha parte, fica mais uma decepção do que uma ofensa propriamente dita: logo eu, que já distribuí CDs com o pdf dos livros, que vivo colocando os livros de graça na Amazon pra evitar esse tipo de problema, dá uma pontadinha de decepção quando a gente encara uma coisa dessas. Mas não sou ninguém pra julgar, não quando eu já fiz a mesma coisa. A ironia é que, mesmo tendo direitos, eu não me sinto numa posição de colocá-los em voga.
Não vou pedir pra ninguém denunciar esse tipo de ação, pelo menos não em meu nome. Se você vir o livro por aí e quiser me avisar, tudo bem. Se não, tudo bem também. Se você baixar o livro num desses links, ler e gostar, espero que você tenha o mínimo de bom senso em me compensar indicando o livro pra alguém, comprando uma cópia digital legalmente na Amazon (sério, gente, não custa nem 9.00! É mais barato que ir ao cinema!) ou um exemplar físico dessa edição maravilhosa da Editora Literata. E se você achar que o meu trabalho não é digno do seu dinheiro, que eu deveria arranjar um emprego de verdade e trabalhar como todo o resto mundo, se você é da opinião errônea de que eu não deveria disponibilizar meu livro em e-book se não quisesse ser pirateada, o que eu posso fazer? A sua consciência é só sua, e a minha está tranquila.
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Texto divo! *-*