#AmorPlusSize: quando a brincadeira machuca

Quando eu tinha mais ou menos uns sete ou oito anos, descobri que tinha miopia. Depois de passar por todos aqueles exames clínicos de enxergar letras, ver figuras numa máquina e pingar um colírio que me deixou cega por algumas horas, fui pra ótica e encomendei meu óculos. Era azul, minha cor favorita, e veio numa caixinha da Turma da Mônica. Comecei a usá-lo alguns dias depois.

No mesmo dia, recebi o delicado apelido de “baleia de óculos”.

Não sei quem foi que me apelidou desse jeito. Não me lembro e não guardei rancor da pessoa. Seja como for, o apelido não pegou – em parte, talvez, porque foi repreendido veementemente pela minha professora do primário, e em parte porque eu me dediquei a arranhar o braço de qualquer coleguinha que me chamasse assim. A violência foi a minha arma de combate, naquele ano como em muitos depois. Nunca fui vítima do que pode ser considerado um bullying pesado, mas me armei como pude pros momentos em que a gozação corria solta. Me protegi por fora, mas não tinha nada pra me proteger por dentro. Posso não lembrar quem foi autor do abuso, mas certamente me lembro das palavras. Palavras marcam.

Uma das minhas partes “preferidas” na construção de Amor Plus Size foi lidar com o bullying. Como já disse em posts passados, a Maitê tem sua nêmesis em Maria Eduarda, a “princesa do reino dos perfeitinhos”, segundo descrição de uma de suas amigas. Ao contrário de mim, Mai sente as implicâncias diariamente, diretamente, e não se defende porque acredita que não há nada que ela possa fazer contra sua agressora além de ignorá-la. Maitê é vítima calada, como tantas outras pessoas por aí, de abusos constantes dos quais ela não sabe se defender.

Muita gente vai passar por essa vida sem saber o que é o estigma e o peso que o bullying pode acarretar sobre uma pessoa. Há quem ache que sequer é um problema a ser levado a sério – pra alguns mais leigos, não há nenhum dano permanente em um apelido pejorativo, nada demais em uma brincadeirinha inocente, nada com que se preocupar se não houver dano físico. É preciso passar por isso, ou ao menos observar de perto, para entender que não há inocência nenhuma em atitudes como essas. As agressões psicológicas podem ser tão ruins ou até piores do que qualquer agressão física direta. Pergunte a qualquer um que tenha passado por isso. Você esquece a dor de um tapa, mas nunca deixa passar a humilhação de meia dúzia de palavras. Essa dor marca e molda as pessoas. E vai além de uma questão participativa. Quando você faz ou ri de uma brincadeira de mal gosto, quando você vê alguém fazendo e não defende, quando você é condescendente com o bullying, você o pratica também, e o fortalece por isso.

Não sou nenhuma especialista no assunto, longe de mim. Não acho que me caiba aconselhar ou guiar ou sugerir o que fazer. Mas espero que, seja com o livro no futuro, seja com este post agora, eu consiga plantar uma sementezinha de gentileza na cabeça de cada um que ler. Tenha um pouco mais de amor ao próximo. Se não tiver algo bom a dizer, então não diga nada. Pratique o bem. Seja mais cuidadoso com as suas palavras. Você não sabe a dor que elas podem infligir às outras pessoas. Talvez, na próxima, o machucado seja você.

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1 thought on “#AmorPlusSize: quando a brincadeira machuca

  1. Lari, linda <3
    Que lindo abordar isso no livro! Sempre acreditei que a literatura, seja lá qual gênero for, pode dialogar com a realidade e debater temas importantes do nosso dia a dia. Também passei por muitos ataques e bullying e sei exatamente com o que você quer dizer que "Você esquece a dor de um tapa, mas nunca deixa passar a humilhação de meia dúzia de palavras. Essa dor marca e molda as pessoas." Eu demorei anos pra me recuperar por tudo que passei e até hoje carrego ecos disso, que tento na medida do possível trabalhar. Todos esses traumas me tornaram quem sou hoje.
    De uns tempos pra cá, passei a ler livros YA que abordam o tema, porque pretendo trabalhar isso no futuro. Acho que já que passei por isso, posso ajudar seja através da literatura que outras pessoas não passem pela mesma coisa. O Bullying pode ser terrível e trazer consequências dolorosas. Me lembrei da série "Awkward" que me viciei. Ela é de comédia, mas aborda o Bullying, dramas de adolescente, popularidade e etc. Acho que vc ia curtir!
    Vem Maitê sambar na cara de todo mundo <3 Ansiosa para conhecê-la *–*

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