A gorda vai às compras

Para vocês entenderem melhor o que vou narrar neste post, é preciso primeiro que vocês me visualizem. Muito prazer. Meu nome é Larissa, tenho 22 anos, 1,67m de altura, 80kg. Uso calças tamanho 46 e tenho busto tamanho 4850. Tenho meu certo grau de curvas, e estou longe de ser magra. Dependendo da loja, sou considerada plus size, mas via de regra, teria que encontrar meu tamanho de roupa em qualquer loja de departamento.

Visualizou? Ótimo. Então vamos em frente.

Ontem precisei ir ao shopping para comprar roupas novas para trabalhar. Acabei de conseguir um emprego, e pra me adequar ao código de vestimenta da empresa, precisei repensar meu guarda-roupa. Tudo ok, certo? Quem não curte uma tarde de princesa? Fomos ao shopping, mamãe e eu, pra bater perna até cansar.

Cansamos já na primeira loja.

Passei cerca de meia hora em cada loja que visitei (e foram várias) revistando todos – e por isso quero que entendam TODOS – os cabides e todas as araras de roupas. Geralmente sou uma pessoa chata pra comprar roupas, porque pouca coisa realmente me agrada, mas estava bem disposta e muita coisa me parecia legal. Mesmo assim, quando voltei pra casa à noite, tinha comprado só cinco peças de roupa. Uma por hora, se eu fosse fazer uma estimativa, menos de uma por loja. Queria dizer que foi porque os preços estavam muito altos e eu tinha pouco dinheiro, que eu estava insatisfeita com o meu corpo, que eles não tinham a cor que eu queria, mas não é verdade. Sabe por que eu não comprei quase nada, apesar de ter saído com o objetivo de repaginar meu guarda-roupa?

Não tinha tamanho. Nenhum.


Vivemos no Brasil, um país cujas mulheres são cultuadas pelas suas curvas, e onde suponho que pelo menos metade da população use tamanho 42 ou mais. Acho que eu consigo contar quantas pessoas eu conheço que usam manequim 38 – 36, então, nem se fala. Raridade. Mesmo assim, é só chegar numa loja e a primeira coisa que você vê é uma fila interminável de calças, saias e shorts pra esses dois tamanhos. Com sorte, você acha um 40, 42. Se estiver no seu melhor dia, encontra um 44. Se Deus sorrir pra você, tem um 46. Quando você tropeça num trevo de quatro folhas, encontra um 48. Só no dia do juízo final acha um 50.

Minha mãe sempre teve essa “desculpa” de que a gente só acha tamanhos pequenos nas lojas porque os tamanhos grandes acabam mais rápido. Ora, mas é claro – se a maior parte das pessoas usa tamanho grande, eles vão acabar rápido. O que nunca fez sentido pra mim é: se tanta gente assim usa tamanhos grandes, por que, Deus, por que não tem uma maldita loja que supra essa demanda?

Ontem, enquanto seguia nessa maratona de compras, esse pensamento me intrigava – e me irritava – ainda mais. Em todas as lojas que eu fui, todos os modelos de todas as peças de roupa só iam até a numeração 42. P e M encontramos aos quilos, mas os necessitados G e GG são artigos de luxo. Isso quando a situação não piora e você desencava aquela blusinha G sucesso que tem um tamanho no máximo mediano, e que não caberia nem em mim, que sou tamanho 46, quanto mais numa amiga um pouco mais cheinha.

Não consigo entender a lógica por trás da indústria da moda num país como o Brasil, que produz baseado num padrão que quase ninguém segue ou consegue seguir. Somos um país de pessoas grandes, curvilíneas, maravilhosas e diferentes. E o buraco vai ainda mais embaixo que só uma questão de gordo ou magro; e aquela amiga que tem pernas compridas e só encontra calças que sirvam nas pernas se for numa numeração que não cabe na cintura? Ou as baixinhas que não acertam no tamanho de nada? Ou as magras de peito grande, cintura fina e bunda avantajada? Desde quando se faz roupa só pra tábua de passar?

Ainda ontem, publiquei um desabafo no Facebook que, pra mim, resume toda essa questão: eu quero, quero muito gastar dinheiro, andar na moda, ter roupas legais. Mas a própria indústria que deveria depender e ansiar pelo meu consumo não me deixa consumir. Eles tiram minha liberdade e minam minha vontade de querer qualquer coisa quando me dizem, através de suas limitações, que o meu corpo não é ideal. Eu não consigo seguir tendências porque as tendências só estão disponíveis pra algumas sortudas. E não adianta me falar que, se eu quiser, só preciso emagrecer: eu nunca vou entrar num jeans 38 porque o meu corpo simplesmente não é desse jeito. E tudo bem, porque eu não preciso ser. Em vez de tentar obrigar as pessoas a caberem dentro de seus moldes limitados, talvez seja hora dessa indústria começar a expandir seus conceitos sobre o que é corpo, o que é tamanho e o que é justo. Quem sabe assim, com liberdade de escolha, de opções e de sermos únicos, a gente se sinta mais à vontade pra entrar numa loja e sair de sacolas cheias.

8 thoughts on “A gorda vai às compras

  1. Oi Larissa,
    adorei teu post e acredito que isso deva servir como modelo para o País, levando em consideração que a gente vive sobre um problema medonho de cultuar um corpo. Eu sou magra, sempre fui, tenho amigas gordinhas e sei como é triste para elas comprarem roupas legais. Visando que – muita gente acha que por serem gordinhas tem que usar aquelas roupas feias o tempo todo e não é bem assim.Não mesmo!
    Ser gordinhas, magrinha, enfim, seja lá qual for seu tamanho, qualquer pessoa merece entrar em uma loja se sentir bem e comprar as roupas que deseja sem precisar ficar orando para achar algo que sirva!
    E sabe de uma coisa? Outro dia estava olhando um desfile de carnaval e aquelas mulheres malhadonas, feias, com bundas enormes e horrorosas, é impossível que uma mulheres dessas vista um 38 com uma bunda lotada de silicone. Olha onde chegamos?!?!!!!
    Sou magra, mas tenho um problema triste em comprar roupas de mangas compridas…Pois meus braços são longos, já sai de várias lojas frustrada…

    Espero de coração que um dia toda essa situação mude sabe? E que chegue o dia que todos saiam satisfeitos das lojas!

    Beijinhos, Helana ♥
    In The Sky, Blog / Facebook In The Sky

  2. Texto muito bom! A impressão que tenho é que nem gorda mais eu posso ser.

    Como disse Shriver, "ser gordo" transformou-se em um problema social, não só pessoal. Como se o que você come fosse da conta de todo mundo.

    Beijos!

  3. Oi, Larissa. Excelente seu texto!

    Eu seria essa tábua de passar. Já ouvi bastante bosta por isso, mas eu reconheço que sou extremamente privilegiada porque muito raramente não consigo comprar uma roupa de que gostei porque não tinha no meu tamanho, ou porque não ficava boa em mim. às vezes eu saio com a minha mãe e a gente sempre comenta dos tamanhos G de certas lojas. Eles são ridiculamente pequenos e, sei lá, metade da população feminina já fica impedida de vestir as roupas desses lugares. A indústria da moda precisa entrar na realidade urgentemente.

    Beijo!

  4. Oi, Fernanda! Eu acho bacana que você tenha comentado isso, porque significa que não é só quem tem dificuldade que repara, né =P e aposto que até pra você, mesmo magra, de vez em quando faz alguma diferença. Esse povo não facilita a vida de ninguém

  5. Eu tenho a sorte de poder comer o que quiser e nunca engordar por causa disso, mas também vivo tendo problemas pra encontrar roupa. Sou bem baixinha e por isso tenho que ajustar TODAS as calças que eu compro porque elas ficam longas demais. Sem contar que sou praticamente uma tábua de passar mesmo, então as blusas geralmente ficam largas no peito. Quase nunca compro regatas por causa disso, sempre tenho que ajustar a manga, se não fica caindo no peito :/
    Mas quanto aos tamanhos G, também não entendo a lógica de algumas marcas. Já comprei várias blusas G e fiquei me perguntando pra quem eles pretendiam vender as P.
    Minha mãe e meu namorado são mais "gordinhos" e eu vejo a dificuldade que eles têm pra comprar roupas, principalmente calças.
    Mas enfim, adorei o texto, Larissa. Acho muito legal você falar sobre esse assunto aqui. Felizmente nunca passei por esse problema, mas imagino o quanto deve ser frustrante.
    Não costumo comentar aqui, mas acompanho você no blog, no canal e no twitter, e estou louca pra ler Amor Plus Size. Estou torcendo muito pra você ter todo o sucesso do mundo com seus livros!!! Beijosss <3

  6. Oi Larissa, aqui está um desabafo reverso. Sou magra e baixa (segundo a sociedade) e nem todas as lojas me vestem. Parece que a minha magreza é meio genética, sou assim desde sempre e independente da quantidade que eu como continuo com a mesma cintura e o peso quase não muda (tenho roupas tamanho 10 anos que ainda servem, sendo que tenho 16). Nesse momento me sinto meio idiota por estar reclamando pois encontro a minha numeração porém ela não fica do jeito que devia ficar, o comprimento sempre é maior, a parte do busto fica caída e a maioria das vendedoras ficam com aquele sorriso amarelo de "não quero pegar outras peças porque não tem tamanho bom para o seu corpo" e isso é tão completamente frustante! De uns tempos pra cá tenho encontrado a maioria das minhas roupas na parte infantil entre Monster High e Disney e mesmo dizendo a mim mesma que é muito bacana poder ter blusas da Branca de Neve e afins sei que estou mentido e não consigo me enganar.

  7. Lari, não ache que a sua dificuldade é banal! Pelo contrário, é tão válida quanto a minha. O ponto todo do post é apontar o quanto a indústria é injusta, atendendo só certos tipos de corpo, quando a maioria não se encaixa nesse padrão – seja por ser grande ou pequena demais. Obrigada por me dar mais esse ponto de vista 🙂

  8. Larissa, procure roupas fora do circuito de shopping centers, tente Brás, ou no Centrão, lojas de tamanho plus size existem e tem modelos lindos também.

    Claro se voce procura roupas de empresas de etiquetas famosas. não vai mesmo encontrar. a Industria brasileira de roupas tem roupas para mulheres plus size, basta procurar e cá entre nós são bem mais em conta.

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