Conheça O Diário (nada) Secreto II
Capítulo 1 – Amigas para sempre
Capítulo 2 – De volta pra realidade
Capítulo 3 – Perturbando a paz
Capítulo 4 – Eu tenho que te contar uma coisa
Capítulo 5 – O Que Acontece na Festa…
Ok, eu não tinha razão nenhuma para estar feliz quando Abril chegou. Eu estava me dando mal em todas as matérias que incluíam cálculos, o bimestre estava no fim e meu namorado e eu estávamos mal.
Tipo, muito mal.
Eu e o Edson ainda não tínhamos nos resolvido. De modo não dito por ambos os lados, resolvemos apenas continuar vivendo e convivendo e tentar consertar as coisas dessa forma. Não estava dando muito certo. Mas quem precisa de diálogo, afinal?
Fala sério.
As minhas expectativas praquele que tinha tudo para se tornar o mês bomba começaram a ficar um pouquinho melhores quando a super mala e fofoqueira número um do Santa Rita, Ariane, apareceu com um bolo de folhetos de festa. Eu peguei um sem nem pestanejar e levei pra mesa.
– O que é isso? – o Antônio me perguntou. Eu fiquei boba por um segundo pensando que ele estava falando comigo. O gato absoluto, falando comigo.
Mas ele estava falando com a Lana, claro. Como sempre. Mesmo com o Diego do lado dela, era como se ele nem existisse. Eu nem sei por que eles ainda estavam juntos se ela tão obviamente só tinha olhos pra um. Que não era ele.
– Festa do Beijo. – foi a Sabrina quem leu, se divertindo. O folheto era cheio de desenhos de bocas e holofotes coloridos – Primeira festa de arrecadação de fundos pra formatura.
– Espera até as Irmãs verem isso! – a Giovanna exclamou, se referindo às freiras que circulavam e basicamente redigiam o colégio.
– Quando vai ser? – alguém perguntou. Olhei pra cima e revirei os olhos. Marina.
– No próximo final de semana. – a Giovanna respondeu. Ela assentiu.
– Vocês vão? – quis saber, mas estava olhando pra mim.
– Claro! – todo mundo disse em uníssono. Embora eu tivesse tido muita vontade de dizer “depende: você vai?”
Naquela semana, só se falou da festa do Beijo. O terceiro ano parecia estar muito animado, pois as vendas, que começaram no dia seguinte, iam de vento em polpa. Ao que parecia, tudo seria pago, desde o convite – dez reais – até as bebidas.
Comprei um pra mim sem nem me preocupar com o fato de que o meu namorado não estava sabendo de nada. Eu não queria que ele soubesse. Queria sair e deixar ele pensando onde eu tinha ido. Queria que ele sofresse um pouquinho.
Geralmente, essa é a parte em que a gente percebe que as coisas estão começando a afundar. Mas não eu. Ah, não, eu sou cega demais pra isso.
Quem me dera tivesse visto antes.
Aquele final de semana chegou muito rápido. Por alguma razão milagrosa, minha mãe me deixou sair – não que eu ache que teria como ela não deixar, já que eu estava com o convite na mão e disposta a derrubar a porta se fosse preciso. Eu estava estressada. Precisava de uma festa. Então eu fui.
Peguei carona com a Lana, que tinha pegado carona com os pais do Diego – então, basicamente, lá estávamos nós, eu, ela e seu namorado, Lolita como o grande castiçal da história. Castiçal apagado, devo acrescentar. Não tinha mais o menor clima entre eles. Mal seguravam as mãos.
Chegamos na festa mais ou menos dez horas, e já parecia cheia. Era num salão alugado bem simples, mas com caixas de som bem potentes. Dava pra ouvir de fora a música gritando lá dentro. Uma vez lá, encontrei todo mundo em questão de minutos e, teoricamente, a festa começou.
Teoricamente porque estávamos eu, a Giovanna e a Sabrina sentadas numa mesa enquanto a Lana e o Diego conversavam em outra, o Antônio circulava e a mala da Marina, graças a Deus, tinha descido pelo ralo no banheiro. A música estava boa, mas ninguém estava dançando. Éramos só a recém-solteira (Sabrina), a frustrada (eu) e a apaixonada (Giovanna) olhando o movimento.
Até a hora em que a Sabrina se estressou e se levantou. Me pegou pela mão e disse:
– Vamos encher a cara.
Ela pegou a carteira e tirou uma nota de cinqüenta. Fomos até o caixa, e pedimos uma garrafa de vodca e duas latas de coca. Voltamos pra mesa, e a Giovanna não estava mais. No lugar dela, estava a Marina.
– Você bebe? – a Sabrina teve a educação de perguntar. Ela fez uma careta e fez que não.
– Sobra mais. – afirmei, com um sorriso amarelo.
Abrimos a garrafa e a latinha. Distribuímos a coca em dois copos e completamos com vodca.
– Um brinde aos namorados filhos da puta! – minha prima exclamou, me fazendo rir.
– E que essa noite eles estejam se ferrando muito! – concordei, brindando com ela.
E, só ai, a minha noite começou.
– WOOOOOOOOOOOOOOOOOW!
Esse foi o grito da galera quando a primeira grande pegação da festa começou. E ela ficou por conta da Sabrina e…
Qual era mesmo o nome dele?
Ah, quem liga? Ela provavelmente também não sabe, certo?
Nossa garrafa de vodca já estava abaixo da metade e a coca já tinha acabado fazia tempo. Tínhamos pouco dinheiro, muita vontade de encher a cara e uma festa inteira pela frente. Ela estava apenas começando.
Enquanto ela se divertia aos agarrões com um cara consideravelmente sarado e totalmente desconhecido, eu e minha garrafa de vodca dançávamos sozinhas na batida de alguma música eletrônica que eu não reconhecia. Pra mim tava muito bom desse jeito. Quem precisava de mais que isso?
Aparentemente, a mala da Marina precisava.
– Você não acha que já bebeu demais? – ela veio me perguntar, com cara de insatisfeita e tentando tirar a garrafa da minha mão.
– Vai cuidar da sua vida! – respondi, mostrando o dedo do meio. Ela me cercou, mesmo eu tentando escapar.
– Sua mãe vai te esfolar se você chegar bêbada em casa! – insistiu. Eu fiz uma careta.
– Vai pro inferno, garota, da minha mãe cuido eu! – ela tentou encostar em mim e eu a afastei com um tapa na mão – E por que você se importa?
– Lolita, eu sou sua… – hesitou. Eu aproveitei o momento pra lhe dar as costas, ao que ela completou – Sou sua amiga! Eu me importo.
– Amiga bosta nenhuma! – gritei, mostrando mais uma vez o dedo do meio.
E fui pra bem longe, no meio daquele monte de gente suada.
Logo, logo, chegou a Sabrina.
– AAAAAAAH, BEIJEI MUITOOOO! – ela gritou, toda alegre, suada, amarrotada – Dá isso aqui! – e tirou a vodca da minha mão.
– Quem era aquele cara? – eu perguntei. Ela deu de ombros enquanto bebia.
– Quem liga? – nós rimos – Vem comigo! – e começou a me puxar – To tentando chegar naquele ali.
– Quem?
– O de boné branco, camiseta listrada…
– Sabrina, aquele garoto é do nono ano!
– Então é um bebezinho gato! Deixa eu fazer uma obra de caridade, vai!
Mais perto do tal garoto que eu reconheci como sendo do nono ano, nós voltamos a dançar loucamente. Ela me passou a garrafa, e mal eu tinha terminado de dar um gole, a Sabrina já estava dançando com ele. Antes da música acabar, eles já estavam se beijando.
Decidi que precisava de um pouco de ar quando o calor dos dois foi o suficiente pra afastar todo mundo do perímetro. Eu e a minha companheira, a adorável garrafa de vodca, fomos pra mesa onde a Giovanna ainda estava, agora conversando com a Marina sobre sei lá o que.
– Cadê a Sabrina? – ela me perguntou, quando me viu chegando. Algo na sua expressão me sugeriu que ela estava morrendo de vontade de rir, mas eu preferi nem pensar no por quê.
– Ta pegando um molequinho do nono ano! – exclamei, ainda inconformada. Ela riu alto, e o queixo da Marina caiu.
– Meu Deus, quanto essa garota bebeu?
– Não muito! – e mostrei a garrafa, com ainda uns bons 3 dedos de vodca – Ela só ta… extravasando.
– Fala sério!
Eu estava me sentando quando vi o Diego e sua aparência de nerd deslocado, totalmente sozinho na mesa vizinha. Eu e a garrafa fomos até ele.
– Ta fazendo o que ai? – indaguei, me sentando ao lado dele. Ele só torceu o nariz.
– Sei lá. – murmurou. Eu olhei em volta.
– Cadê a Lana?
– Brigou comigo e foi dançar.
– E você não vai dançar?
– Lolita, desde quando eu danço?
Considerei isso por um segundo.
– Desde agora. – pus a garrafa na frente dele, peguei sua mão e a levei até a garrafa – Vira.
– Quê? – ele quase gritou, e mexeu nos óculos que estavam tortos na cara – Lolita, a última vez que eu bebi a Lana quase me matou.
– Quem liga pra Lana, Diego? – firmei a mão dele em torno da garrafa – Vai, ta comigo, ta com Deus! Só um gole.
Ele bufou, mas no fim das contas pareceu gostar da idéia. Virou a garrafa na boca e tomou um gole curto, fazendo careta e tossindo logo em seguida.
– Agora vem!
Peguei a garrafa com uma mão e puxei o Diego com a outra. Arrastei-o pro meio das pessoas, onde ele pareceu meio claustrofóbico e totalmente deslocado. Nunca tinha reparado em como ele era alto.
Ou talvez fosse só o álcool.
Não tinha dado nem uma da manhã quando o Diego, cansado de fingir que sabia dançar e exausto das minhas tentativas de convencê-lo a ficar, resolveu ir embora. Eu fiquei, mais uma vez sozinha na pista de dança, dessa vez sem garrafa, nem nada pra me acompanhar.
Mas, como toda boa bêbada, eu sei dançar sozinha. Foi o que eu fiz.
Graças a Deus que a bebida desinibe a gente. Porque, sóbria, eu jamais faria isso.
Enfim, lá estava eu, em toda a minha compulsão por música eletrônica recém descoberta, dançando com pessoas conhecidas ou não e vendo minha prima passar de boca em boca, totalmente feliz, quando um rosto conhecido com quem eu não falava há muito tempo surgiu no horizonte.
– AEEEEEE! – o Ricardo gritou quando me viu, erguendo os braços e dançando comigo. Ele, pelo visto, também estava sozinho, porém, muito bem acompanhado de uma lata de cerveja.
– OIIIIIIIII! – a louca, digo, eu, respondeu.
Dançamos juntos aquela música, e eu tentava vasculhar o meu cérebro em busca de informações importantes do tipo: quando tinha sido a última vez que eu falara com o Ricardo mesmo? Acho que eu ainda o odiava profundamente desde que ele me deu um pé no dia seguinte em que supostamente teríamos voltado e me trocou pela Suellen. Mas eu tinha superado e ficado amiga da Suellen, né?
Olhei pra ele. O mais surpreendente era que eu não conseguia sentir raiva dele. O Ricardo agora era só… o Ricardo. O garoto por quem eu tinha tido uma queda – ok, um tombo, e talvez até ainda tivesse. Um dos mais bonitos do Santa Rita. Um cafajeste, mas um cara normal. E não era só porque eu estava bêbada. Eu já nem me lembrava mais do que tinha acontecido.
– Faz tempo que a gente não se fala, né? – ele me perguntou, ao pé do ouvido e aos gritos, como se tirasse as palavras da minha boca.
– Faz mesmo! – respondi. A sensação de tê-lo literalmente no meu pescoço era realmente muito boa.
Lolita má, Lolita muito má!
– Você continua uma gata! – ele gritou. E eu comecei a rir.
– Você não vale nada, Ricardo!
– Eu nunca disse que vali! – ele riu comigo – Quer? – e me estendeu a cerveja.
Ora, por que não?
Entre goles divididos de cerveja e passos totalmente inadequados de dança, ele ia lembrando de coisas estúpidas e fazendo comentários hilários. Eu nem me lembrava de como ele era engraçado daquele jeito cachorrão dele de ser.
– Você viu o tamanho do vestido da Ariane? – ele gritou, uma hora – Ta tão curto que juro que dá pra ver até o útero dela se ela abaixa demais!
– CREDO! – mas eu ria até não poder mais – É isso que você fica fazendo numa festa?
– Tem coisa melhor que reparar em tamanho de saia?
Mais risada. Ele era tão inútil e vazio! Era legal ter uma companhia dessas numa festa. Afinal, uma festa daquelas não é exatamente o evento mais culto do ano
.
– Pô, falando nisso… – lá vem, pensei. Ele deu uma risadinha, como se lesse a minha expressão – Bem que você podia me agitar pra sua prima, hein?
– Hoje acho que não vou precisar agitar a Sabrina pra ninguém! – exclamei, revirando os olhos. Eu já tinha perdido a conta de quantos caras ela já tinha pegado.
– É que, sabe como é, já que você não ta facilitando…
– Eu tenho namorado!
– E daí? Eu não to vendo ninguém aqui de guarda!
Bem lembrado. Algo a ver com eu nem ter avisado meu namorado que vinha. Principalmente porque ele totalmente não merecia.
– Mas você não vai ficar comigo! – ele completou, rindo, os olhos verdes lindos que eu venerava tanto antigamente brilhando e o riso gostoso e cafajeste no rosto – Então eu tenho que partir pra outra!
– Vai fundo! – encorajei – Mas deixa a cerveja!
– Se eu pegar a sua prima, eu te pago quantas cervejas você quiser!
– Feito!
– Alguma chance de eu pegar a outra prima?
Gargalhei e olhei pros lados. Nem sinal da Giovanna. Devia ter ido embora também. Espírito apaixonado não é a alma da festa. Ela estava muito emocional e distraída pra aproveitar a pegação, a bebedeira e aquela coisa toda.
– Nenhuma! – exclamei. Ele fingiu uma careta.
– Ah, eu posso sobreviver com uma só! – e começou a ir embora, não sem antes me beliscar a barriga e me arrancar um gritinho.
– NÃO ESQUECE A MINHA CERVEJA! – gritei, mais alto que a música. Ele acenou positivamente.
No minuto seguinte em que ele tinha ido embora, me pareceu que sempre tinha sido assim. Eu e ele, quero dizer. Soltos, rindo de besteiras inúteis. Como se o passado nunca tivesse existido.
E era bom assim.
A festa continuou, e eu continuava perdida.
Aproximadamente meia hora depois de ter falado com o Ricardo, ele apareceu segurando suas latas de cerveja – ambas pra mim.
E ok, eu não devia usar minha prima como fator pra extorquir bebida de ninguém. Certo, nada justifica extorquir bebida de ninguém, nem mesmo se tratando do seu ex-namorado que, por mais legal que você perceba que ele é, ainda te deve muito. Mas, bom, ele insistiu.
Então eu bebi.
Percebi que estava realmente na hora de parar quando tentei atravessar a pista – estava tocando axé, e nem bêbada isso é muito a minha cara – e tropecei nos meus próprios pés, e no de mais umas cinqüenta pessoas, e fui parar no chão. Ou quase no chão. Um garoto gatíssimo do terceiro ano que nunca tinha olhado pra minha cara duas vezes acabou me segurando.
E aposto que ele nunca mais vai olhar na minha cara depois dessa. Eu derrubei cerveja na calça dele. E babei nos pés dele.
Então, uma vez de pé e teoricamente conseguindo andar, eu fui em direção às mesas, procurando por ar. Encontrei a Sabrina quase sentada no colo do Ricardo, e senti uma pontada totalmente incômoda de inveja. Se pelo menos o Edson não estivesse sendo tão babaca e se ele estivesse ali naquele momento, a gente poderia estar dando uns amassos agora também. E eu não precisaria estar bêbada.
Dois minutos depois de presenciar a cena, senti que ia vomitar. No caminho pro banheiro, enquanto uma mão abria passagem e a outra mantinha a minha boca fechada, percebi que eu já tinha bebido muito sem comer nada – nenhum recorde pra mim, mas mesmo assim, um exagero.
Pra minha infelicidade, a Ariane estava no banheiro feminino quando eu entrei, e só pude ver o sorriso de “lá vem uma fofoca quente” brotar no rosto dela antes de eu me fechar no banheiro e começar a botar todos os órgãos do meu sistema digestivo boca afora. Era uma meleca, mas, pelo menos, eu conseguia acertar o vaso.
ECA.
O banheiro ficou silencioso exceto pelos meus, ah, ruídos, em alguns minutos. Demorei um bom tempo pra conseguir livrar meu estômago de basicamente tudo – bebida, restos de refeições do dia anterior, bile, revestimento – e depois, mais uns bons minutos respirando e fazendo tudo descer com a descarga. Eu me sentia péssima. Minha mãe com certeza ia acabar com a minha raça quando eu chegasse em casa.
Com muito esforço, me coloquei de pé, e gastei outros longos minutos fazendo o possível pra continuar de pé. Me apoiei na porta do banheiro e respirei fundo várias vezes. Se servia de consolo, eu não estava mais enjoada. Por outro lado, a festa já estava acabada pra mim depois de tanto vomitar.
Abri a porta e olhei pra fora.
Fechei a porta.
Puta. Que. Pariu.
Abri a porta de novo. Só uma frestinha dessa vez, tentando não fazer barulho nenhum, tentando não respirar.
Puta que pariu mesmo!
Era impressão minha ou aquela menina com o mesmo vestido da Lana, os mesmos sapatos da Lana, o mesmo tom de pele e o mesmo penteado da Lana, era realmente a Lana, sendo posta contra a parede e literalmente se pegando com o Antônio?
Ah, meu Deus!
Eu estava oficialmente chocada.
A festa acabou, e eu e a Sabrina pegamos uma carona com a Lana. Como se toda a situação não pudesse piorar, foi o Edson quem nos buscou na festa.
Ótimo. Muito bom mesmo.
A Lana empurrou uma Sabrina bêbada e de boca cansada pro banco de trás e entrou junto. Eu não tive opção senão o banco da frente. Minha prima dormiu em questão de segundos, e a Lana olhava pela janela, distraída, quase pegando no sono também.
E eu? Eu estava bêbada o bastante pra ficar tonta, mas não o suficiente pra me esquecer daquela noite inteira. E definitivamente, não bêbada o bastante pra que a briga que estava por vir fosse um pouco mais divertida aos meus ouvidos.
– Se divertiu? – o Edson me perguntou. Estava totalmente mal humorado.
Bom, bem feito pra ele.
– Aham. – murmurei. Ele bufou.
– Por que você não me avisou que ia ter uma festa? – ele quis saber. Eu dei de ombros.
– Achei que você fosse sair com o pessoal da sua faculdade ou sei lá.
– Não saí.
– Que pena.
Silêncio. Olhei pra trás, e as duas estavam dormindo. Será que alguém não podia acordar e começar a falar alguma coisa sem nexo, mudar a fita? Eu NÃO queria ter essa discussão com ele agora. Nem em droga de momento nenhum!
– Você bebeu? – indagou. Eu olhei pra ele de esguelha. Estava concentrado no volante.
– Não muito. – menti. Ele riu.
– Ta legal!
– E daí se eu bebi? Você é algum santo por acaso?
– Eu sou homem, Lolita!
Me digam que eu NÃO ouvi isso!
– Vai se ferrar. – murmurei, mas ele ouviu e me olhou com raiva.
– Ah, desculpa se você acha bonito uma menina que tem namorado ir numa festa sozinha e encher a cara! – ele praticamente gritou. Eu ri.
– Eu fui sozinha porque eu tenho um namorado que não tem a capacidade de sair comigo pra nada! – gritei de volta. No banco de trás, nenhuma das duas pareceu escutar – E quer saber? – continuei – Foi melhor mesmo você não ter ido comigo!
– Ah é?
Meu celular vibrou. Peguei-o com as mãos trêmulas e li a mensagem do Ricardo, toda em letras maiúsculas:
To te devendo mais um monte de breja! Sua prima é fenomenal!
O Edson tirou o celular da minha mão e, mesmo dirigindo, leu a mensagem. Pareceu ficar ainda mais puto.
– Desde quando esse infeliz fica te mandando mensagem? – ele quis saber. Eu revirei os olhos.
– Eu nem lembrava que ele tinha meu número. – afirmei, sendo totalmente sincera. Pra falar a verdade, eu nem sabia que eu ainda tinha o número dele.
– E que história é essa de te dever cerveja? – insistiu. Eu bufei.
– A gente fez uma aposta, só isso!
– Lolita, apostando cerveja? Se toca!
– Foi idéia dele, eu só topei porque… – deixei a frase morrer. Eu nem lembrava porque eu tinha topado. O Edson riu.
– Legal. Agora você e aquele idiota são tipo melhores amiguinhos?
– Cala essa boca!
Ele tirou os olhos da direção e se voltou pra mim. Eu continuei olhando pra frente, ignorando-o.
– Eu não quero que você fale com esse moleque, me escutou?
Não, eu não tinha escutado. Não tinha escutado porque vi dois faróis crescendo, enormes, bem diante da gente. E, nesse exato momento, eu só consegui pensar em gritar:
– EDSON, CUIDADO!
Mas já era tarde. Quando ele olhou, teve tempo de desviar, mas só o suficiente pra que a colisão não fosse tão intensa. Parte do pára-choque colidiu com o carro da frente, e o carro girou duas vezes na pista antes de parar.
O sinto de segurança tinha me salvado, mas eu estava tonta e dolorida. A Sabrina e a Lana enfim tinham acordado, mas pareciam machucadas. Do meu lado, o Edson parecia quase intacto, exceto por um corte na testa, aberto quando a força do impacto o empurrou contra a janela.
Minhas mãos pareciam gelatina, mas eu consegui tirar o cinto. Olhei pra trás pra ver se elas estavam bem – a Lana estava jogada em cima da Sabrina, e segurava o braço com uma cara de dor. A minha prima também estava com um corte no rosto e algumas marcas roxas.
O motorista do outro carro veio até nós andando torto. Alguns carros que estavam naquela avenida às 4:30 da manhã pararam pra ajudar. Vi alguém chamando o resgate. Eu não conseguia me mexer.
Resolvi que não ia sair do lugar. Fiquei ali, esperando, enquanto escutava sirenes e via uma multidão vinda de lugar nenhum se acumular à nossa volta.