A impostora

Sou constantemente assombrada pelo fantasma da minha incompetência. Não consigo evitar.

É engraçado, porque a vida inteira, a única certeza que eu tive era a de que podia escrever. Não, podia não – sabia. Dominava. Sempre foi a única coisa em que acreditei que era boa, a que me agarrei quando nada mais dava certo. Eu não era boa em cálculos, em fazer provas e não sabia o que queria da vida, mas a escrita… na escrita eu podia confiar.

E confio. Um pouco. Eu acho. Mas parece que, quanto mais profissional me torno, menos acredito no meu potencial. Me pego às vezes escrevendo e me perguntando quem diabos ia querer ler aquilo. Fico imaginando se algum dia chegarei a viver da profissão que escolhi, não porque ela é difícil, mas porque talvez eu não seja boa o suficiente. Comercial o suficiente. Atrativa o suficiente.

E essa sensação me sufoca. Como todas as incertezas na minha vida, ela se torna uma bola de neve enorme em que já nem sei mais o que sou eu e o que é a ansiedade. Procuro alento nos leitores, nos amigos, nas histórias. E está tudo bem, enquanto somos só eu e o livro, eu e os personagens. Deixa de estar bem quando preciso encarar o mundo real.

Sou constantemente massacrada pelos meus próprios medos. Medo de nunca terminar o próximo projeto, de nunca escrever algo tão bom quanto o anterior, medo de ter perdido a mão. Me pergunto em que momento eu deixei de acreditar no que costumava ser meu único sossego. Me pergunto se algum dia vou ter essa certeza de volta.

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