A Falácia da Produtividade

Termine o livro. Adiante aquele freela. Dê banho nos cachorros. Leia três livros por semana. Faça, faça, faça — ficar desocupado é o fim. Protelar é impensável. Meio da semana, e você aí, improdutivo?

Trabalhar de casa pode ser a melhor coisa, mas às vezes é uma merda. Especialmente porque eu nunca sinto que tenho permissão (de mim mesma, da minha família, do universo) para ser um ser humano normal e fazer coisas simples como tirar uma soneca, ou ver uma série. Todas as atividades não relacionadas a trabalho realizadas dentro do “horário de trabalho” (a.k.a. o famoso horário comercial) são um desperdício de tempo e de energia.

E aí, acontece como aconteceu em vários momentos nessas últimas semanas. Em meio à correria para terminar o livro novo, vídeos para gravar e editar e freelas pra terminar, me vi experimentando um esgotamento que parece quase ridículo para alguém que trabalha literalmente ao lado da própria cama. Não conseguia ter ideias. Não conseguia produzir. Comecei a cochilar em cima do teclado.

A gente vive numa era em que muito se cobra e pouco se recebe. Produza, produza, produza — mas por um salário meio pombo, uma divulgação sem vergonha, um retorno mínimo, que às vezes nem paga o esforço que a gente dá. Estamos tão acostumados a vivermos em função do trabalho (ou, pelo menos, eu estou) que a gente esquece que precisa ser improdutivo às vezes. Que precisa e deve ter um dia de preguiça, um dia sem fazer nada, um dia sem pensar.

Mais do que isso, esses dias fazem bem! Depois de um dia de descanso, a mente se renova o bastante para pensar em novas ideias, tem energia o suficiente para dar um gás naquilo que você precisa fazer. Todo mundo precisa de um descanso, e às vezes, só aquele soninho da noite não é suficiente, especialmente se você, como eu, vai deitar, mas a cabeça continua trabalhando e te impede de dormir por muitas horas.

Então, acho que aprendi minha lição. Protelar pra sempre não é bom, mas tudo bem se dar uma folga merecida. Tudo bem não ser criativo 100% do tempo, tudo bem escolher por as séries em dia em vez de escrever aquelas 200 páginas. Tudo bem ser improdutivo. Todo mundo precisa disso. Eu certamente preciso. O melhor a fazer é aproveitar.

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