Sobre partidas

Queria ser do tipo de pessoa que confia que os outros vão ficar. Queria ser alguém que não se desespera com os próprios pensamentos. Queria ser alguém que não se perde nas próprias expectativas irreais.

Não sou.

Estou sempre esperando que alguém vá embora. Não porque quero que vá — mais que tudo, temo a solidão — mas porque tenho essa certeza dentro de mim que, mais dia, menos dia, todos irão me deixar.

Vão me deixar porque se darão conta de que não sou quem eles pensavam que eh era. Porque se cansaram de mim, das minhas inseguranças, de quem eu sou. Vão me deixar porque eu não sou suficiente nem pra mim mesma, então como posso bastar pra outra pessoa?

Vão embora porque sempre vão, no final.

Eu também iria, se pudesse.

Queria não sentir essa necessidade de mostrar todos os meus lados logo de cara, pra facilitar e apressar a decisão de ir embora. Queria confiar em outra pessoa do mesmo jeito como confio em mim — mais, até, já que nem sei se confio tanto assim em mim mesma. Queria não acreditar que todo mundo vai embora.

Mas não sou. E me afasto. Me desculpe.

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