(auto)conhecimento

Nós nunca conhecemos ninguém de verdade. Você pode passar uma vida inteira com alguém, e ainda assim, se surpreender com as coisas que descobre dia após dia.
Esse é um dos ensinamentos da minha mãe que mais carrego comigo. Sempre que eu penso que entendo completamente alguém, faço questão de me lembrar que seres humanos são complicados, e que tempo nenhum é capaz de fazer com que a gente compreenda alguém 100%. E, de uns anos pra cá (ou talvez mais especificamente nos últimos meses) estendi isso para se aplicar a nós mesmos.
Nós nunca nos conhecemos de verdade. A gente passa a vida inteira sendo a gente, e mesmo assim, nos surpreendemos com as coisas que descobrimos dia após dia.
Eu sei que parece esquisito, mas pensa bem: o quanto você é consciente das suas ações, das suas qualidades e defeitos, assim como é com os outros? Se eu te pedisse agora para enumerar as características marcantes sobre o seu melhor amigo, você poderia listar várias, porque provavelmente passou algum tempo prestando atenção e aprendendo com e sobre ele/a pra desenvolver a relação que vocês tem agora. Mas nós fazemos isso com nós mesmos? Será que a gente gasta esse mesmo tempo prestando atenção nas coisinhas que tornam a gente a gente pra desenvolver nosso próprio relacionamento com nós mesmos?
E qual é a medida certa pela qual a gente mede quem nós somos? Somos as nossas atitudes, sem desculpas ou amarras, ou somos uma consequência do que foi feito conosco, da maneira como fomos criados? Quanto de mim é autêntico e quanto é um reflexo de quem convive comigo? E quem pode garantir que eu não terei, um dia, uma reação aparentemente atípica, dependendo do contexto ou da situação — quem sabe um dia eu me torne uma pessoa diferente por outras circunstâncias, ou aja contra coisas que um dia eu acreditei porque acreditar em uma coisa e efetivamente fazê-la são coisas bem diferentes? Quem garante que eu sei o bastante sobre quem eu sou pra poder garantir que eu serei essa pessoa que eu acredito ser até o fim da vida?
É uma percepção estranha, mas também muito libertadora. Porque a partir do momento em que a gente entende que não se conhece, pode começar a tentar. Passa a prestar atenção em si mesmo, no mundo à sua volta, e em tudo que torna cada um de nós como é. Passamos a ser nossos melhores amigos. E quem sabe olhar para si mesmo com atenção seja o primeiro passo para poder olhar pro outro de verdade, e se deixar ser olhado em troca. Vai ver, minha mãe estava errada: você pode, sim, conhecer tudo sobre uma pessoa. Mas talvez precise conhecer tudo sobre você primeiro.

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