o curativo

“Eu sei o que você está tentando fazer,” ele diz.

“E o que é?”, ela diz.

“Está tentando me afastar,” ele diz. “Mas não vai dar certo.”

Ela não responde. Talvez não conseguiria, mesmo se tentasse. Ele tem razão, e ela sabe. Sempre soube.

Porque é isso que ela faz. Ela afasta. Ela se esforça para tal. Em gestos e palavras, em omissões e na presença. Ela afasta.

Mas que outra opção ela tem? Pode esperar, quem sabe, esperar pelo final que ela sabe que está vindo. É o mesmo toda vez. Ele irá embora, e ela vai ficar, seu coração na mão ainda batendo, sangrando após uma punhalada gentil. Nenhum deles tem intenção de feri-la, mas todos sempre o fazem no final. Afastá-los é uma questão de piedade, para com eles, mas principalmente para consigo mesma. É tudo que ela tem. A última chance de controle.

Contudo, ela nada revela. Descobriu há muito tempo que as pessoas não querem realmente ouvir como os outros se sentem; querem apenas saber se isso as afeta. Talvez, pensa ela, se dissesse, seria mais rápido. Indolor. Talvez ele fosse embora agora mesmo.

Mas ainda não. No fundo, ela é covarde — quer tirar o curativo um pedaço por vez. Ainda não. Só mais um pouco. Só mais uma ferida e depois, quem sabe, ela puxe tudo de uma vez.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *