Sorte. Não era uma palavra em que pensava com frequência para descrever a própria vida, mas ali, em silêncio, perdida naquele abraço, foi nisso que pensou. Que sorte.
Sorte de quê? Não soube dizer. Soube apenas que o sentimento lhe causou um frio na barriga, um tremor inexplicável e incontrolável nas mãos. Tinha sorte, talvez, por sentir, e saber que sentia — mas que sorte era aquela se trazia sentimentos tão conflitantes, de querer ficar e fugir, querer rir e gritar, querer se fechar e se abrir? Que sorte era aquela, que vinha sempre com o medo?
Mas medo de quê?, se perguntou, e também não soube a resposta. De nada e de todas as coisas ao mesmo tempo. De recomeçar, sim, mas de encontrar o fim antes de entender o começo. De partir seu coração. De partir.
Suspirou no desenlace, guardou seus temores e entregou seu sorriso. Não dava para viver com medo do mesmo jeito como não dava para viver esperando a sorte chegar. Faria sua própria coragem, assim como agarraria sua própria fortuna. Rica já era; de neuras, sim, e de temores, talvez, mas também de sorrisos e encantos e desejos. Não podia calar a voz da consciência, mas podia deixar falar o som do coração.
O que tivesse que ser, seria.